Publicidade

Podemos melhorar essa nossa conexão

Criar vínculos torna a vida enriquecedora e nos faz sentir mais seguros ao sedimentar a percepção de que fazemos parte de algo. Veja como ser um agente de união e dar uma mãozinha para a consciência coletiva – por meio dela podemos fazer do mundo um lugar melhor

Podemos melhorar essa nossa conexão – iStock
Você já parou para pensar no que podemos fazer para transformar o ambiente em que vivemos? Já imaginou o que aconteceria se, em vez de engordar a fatia dos desanimados, agíssemos um pouco mais no sentido de promover alianças, tolerância, paz? Lembrar que estamos todos conectados e que nossas escolhas e ações estão carregadas de poder de transformação talvez ajude a fazer diferente e substituir o descaso pela sensação de envolvimento. Algo do tipo “espera um pouco, isso é comigo também”. Foi Mahatma Gandhi quem disse: “Temos de ser a transformação que queremos no mundo”. E tanto individualmente quanto no ambiente coletivo podemos colaborar para isso. É assim que atua um agente de união.
Há um sutra (como são denominados os registros dos ensinamentos orais de Buda) que descreve o mundo como uma rede de inter-relacionamentos. Algo como uma imensa teia de raios luminosos em que cada intersecção é uma joia, capaz de receber e emitir luz em todas as direções. O agente de união é como essa joia. Cada indivíduo que compreende as necessidades do meio em que vive e age em benefício da paz e da harmonia funciona como um núcleo capaz de receber e emitir os mesmos raios de luz que impactam a iluminação do coletivo.
Instrutora de ioga, atenção e concentração nas práticas meditativas, com doutorado e mestrado pela Yokohama National University, no Japão, Helena Kobayashi acredita que para que nossa contribuição em prol do coletivo flua de maneira natural é preciso um exercício constante. “Quando deixamos de lado a nossa pressa e percebemos a pressa do outro, quando saímos por um momento do nosso sofrimento e olhamos para a pessoa que está ao nosso lado, nesse momento começamos a nos sensibilizar para o coletivo. E a fazer pontes”, diz a professora. “Podemos ser pequenas células, mas, se nos juntarmos, podemos ser elos fundamentais para a construção de um espaço melhor.”
É sabido que grandes movimentos começam com pequenas atitudes, na maioria das vezes silenciosas. E um agente de união trabalha dessa forma. Seja no ambiente social, profissional ou familiar. O fundamental é que está presente.
Treinando a observação “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” É logo na epígrafe de Ensaio sobre a Cegueira que José Saramago mostra sua real interpretação para a visão turva da humanidade. Para o escritor português, a maior dificuldade é enxergar além do superficial. Para além das nossas convicções e da nossa individualidade.
O exercício diário do agente de união começa por aí. No ato de observar o próximo e de se colocar no lugar dele. No gesto de reparar aquilo que existe ao nosso redor e, mesmo que por um instante, deixar de lado certas paredes de individualidade que construímos diariamente. Às vezes, quando parece que a Terra está girando um pouquinho mais rápido e todos vivendo em um ritmo mais acelerado, a impressão que fica é que, não importa o que aconteça, o tempo é o único senhor. Errado. Não podemos esquecer que o amor sobrevive em cada instante. Em cada encontro, em cada ato de respeito ou ternura. A harmonia entre as pessoas de um grupo é construída a cada momento de nossa vida através de gestos, ações, frases, palavras, ideias e pensamentos.
Atuar como um agente de união requer prestar atenção nessas coisas, cotidianamente. “É o cuidado que devemos ter com as palavras. É saber escutar abrindo mão dos nossos pressupostos – a certeza absoluta de que apenas o nosso jeito de pensar é o certo”, explica Helena.
Sejamos um pouco mais como Pangloss, personagem de Cândido, ou o Otimismo, de Voltaire, e cuja doutrina pode ser resumida na frase: “Tudo é para o melhor neste melhor de todos os mundos possíveis”.
“Em um momento em que aparentemente as coisas estão tão desencantadas, existem forças, energias e pessoas que estão se esforçando para construir um mundo mais bonito. Com boa vontade e unidas pelo bem comum”, destaca Helena, que inicia este mês o treinamento Pontes sem Palavras – Como Ser um Agente de União, na Associação Palas Athena, de São Paulo. O treinamento visa exercitar a percepção individual sobre práticas que contribuem para a harmonia do conjunto. Em outras palavras, ensina que cada um de nós pode ser aquela joia budista que recebe e transmite luz.
5 maneiras de ser um agente de união no dia a dia
1: ESTABELEÇA CONTATO VISUAL: o olho no olho  ativa  o centro do nosso sistema nervoso social,  o que ajuda a aliviar o estresse  e criar um senso mais profundo  de comunhão. Pode ser um  pouco desconfortável a princípio,  mas com o tempo você vai  perceber que olhar diretamente  nos olhos de alguém traz algo  suave para o seu coração também.
2: OUÇA COM TODOS OS SEUS SENTIDOS: é bem diferente ouvir alguém e ouvir atenta  e ativamente alguém. Experimente prestar atenção à sua linguagem corporal (se está balançando as pernas, demonstrando impaciência, ou se está completamente voltado para a pessoa à sua frente, por exemplo). Além disso, o contato  físico muitas vezes comunica mais  do que qualquer palavra. Abraçar pode ser o melhor sinal de  que você está interessado no que o outro acabou de dizer.
3: SE COMBINOU ALGO, CUMPRA: não há maneira mais eficaz de perder a confiança de alguém do que quebrar uma promessa. Ainda que existam motivos para você não seguir os planos, aprenda com a lição. Às vezes, é melhor dizer não do que assumir responsabilidades que não terá condições de honrar.
4: PENSE ANTES DE FALAR: quem nunca se sentiu culpado por falar algo ruim? Acontece. Mas podemos ser mais cuidadosos com nossas palavras. Considere o seguinte antes de falar algo duro a alguém: “É verdade o que vou dizer?”, “Vou ajudar alguém falando isso?”, “É necessário dizer?”, “Sou realmente a melhor pessoa para afirmar isso?”, “Esse é o jeito mais gentil de dizê-lo?”
5: UM POUCO DE OTIMISMO SEMPRE FAZ BEM:  algumas vezes,  a alegria pela felicidade  de alguém naturalmente faz  crescer a felicidade de outros.  É um poderoso amplificador. Vale experimentar.

Publicidade