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Spa à brasileira

Cada cantinho do país guarda pelo menos um segredo de cuidado com a pele, o corpo ou os cabelos repassado de geração em geração. Revelamos agora alguns deles, numa viagem repleta de histórias, tradições e ingredientes naturais

Spa à brasileira – Shutterstock

De Pernambuco: Argila para desintoxicar a pele

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Basta um dedinho de prosa com a pernambucana Eufênia Maria Gomes para perceber que essa senhora de família de benzedeiras sabe tudo e mais um pouco sobre os poderes curativos das plantas. Membro da ONG Centro Nordestino de Medicina Popular, em Olinda, ela tem na ponta da língua uma série interminável de receitas caseiras de beleza. E a argila está sempre no meio delas. “Pode ser usada de vários jeitos. Basta colocá-la em cima da área a ser tratada. Na altura do útero, por exemplo, ajuda a aliviar cólicas”, recomenda. Na pele, amacia, elimina oleosidade em excesso e age como anti-inflamatório. Mas existe um segredinho: antes de usar a argila é preciso purificá-la. Coloque o pó em uma vasilha de louça ou vidro, deixe um dia inteiro sob o sol e depois, para finalizar, mantenha mais 20 minutos no forno. Peneire e guarde o pó em um vidro esterilizado. Quando for usá-lo, misture-o com água mineral, até que fi que com consistência de pasta.
De São Paulo: Babosa para hidratar o cabelo
Na casa da publicitária Luciana Soldi Bullara, em São Paulo, há uma variedade de ervas espalhadas em vasos pelo jardim. Da erva-cidreira, passando pela hortelã, manjerona e sálvia, dá para encontrar de tudo um pouco. Em meio a essa rica horta urbana, se destaca a babosa. De tanto ver a mãe usar a parte interna da planta no cabelo, Luciana, ainda criança, decidiu fazer o mesmo e, ao longo dos anos, comprovou suas vantagens hidratantes. “Meu cabelo é fi no e muitos cremes industrializados acabam deixando-o pesado. Com a babosa, isso não acontece”, garante. Ela colhe uma folha fresca e usa na hora. É preciso cortar a casca com uma faquinha afiada para retirar a geleia que há por dentro. Aplique no couro cabeludo até às pontas. Deixe de 10 a 15 minutos e depois lave os fi os normalmente. “Adendo: é preciso tomar o cuidado de não usar a babosa debaixo normalmente. “Adendo: é preciso tomar o cuidado de não usar a babosa debaixo normalmente. “Adendo: é preciso tomar o cuidado de não usar a babosa debaixo do sol, se não, ela pode clarear os fios”, explica a dermatologista Patricia Rittes. Além disso, evite a babosa se tiver fi os descoloridos, pois podem manchar.
Do Rio de Janeiro: Óleo de coco para reparar cabelos coloridos
Muito antes da febre do óleo de coco – que, hoje, é usado para mil e uma finalidades estéticas e nutricionais (neste caso, apenas a versão extra-virgem) – a carioca Biessa Diniz já conhecia seus poderes restauradores. “Aprendi a usar com uma amiga de colégio”, conta. Ambas tinham o cabelo descolorido, e, numa conversa, Biessa comentou que seus fi os estavam fracos, quebradiços. “Ela me indicou a umectação com óleo de coco e deu muito certo”, diz. Biessa passa o óleo direto no cabelo, sem lavar, quando chega do trabalho. Antes de dormir, faz um coque. Os fi os são lavados só na manhã seguinte. O intervalo entre chegar em casa e dormir é o tempo ideal para que o cabelo absorva o óleo e, assim, aja profundamente (e não manche o travesseiro!). “O cabelo fica macio. Sem contar que é um ingrediente natural e deixa um cheirinho que eu adoro,” declara. “Assim como a água de coco, o óleo da fruta fecha as escamas e deixa os fi os mais bonitos, brilhantes”, explica Patricia Rittes.
Do Paraná: Camomila para acalmar a pele
É em terras paranaenses que estão os maiores produtores brasileiros de camomila, uma planta de flores miúdas e enorme ação curativa. Que o diga a aromaterapeuta paulista Mayra Correa e Castro, da Casa Máy, que mora em Curitiba há 18 anos. “A camomila sempre foi carinhosa comigo. Aos 11 anos, comecei a sofrer de enxaqueca e minha mãe me levou a um neurologista que receitou chá de camomila, duas vezes por dia”, lembra.  “Mais recentemente, por conta de crises de pânico, fiz tratamento com psiquiatra, psicólogo e homeopatia. E recebi uma ajuda valiosa do óleo essencial de camomila, que usava por inalação, sempre que ficava ansiosa”, relata.
“Na pele, aplico uma máscara tonificante feita de 2 colheres (sopa) de argila branca, 2 de camomila e 1 colher (chá) de funcho. Trituro tudo num moedor de café caseiro e misturo uma parte com um pouco com água até virar pasta. Passo no rosto e no pescoço e deixo até secar bem. Depois é só lavar e sentir o bem-estar”.
 
Do Mato Grosso: Óleo de pequi para reconstruir o cabelo danificado por químicas
No Mato Grosso, o pequizeiro é rei. Seu fruto é usado na culinária local, assim como seu óleo, de cor amarelo-alaranjado e sabor forte. “O pequi é rico em vitaminas A, C e E, sais minerais e carotenoides, que evitam a formação de radicais livres no corpo”, ensina a aromatologista Suzy Belai, do Espaço Flor do Cerrado, em Cuiabá.
“Também é anti-inflamatório e cicatrizante”, completa Patricia Rittes. Para o cabelo, Suzy destaca a função hidratante do óleo, que o faz ideal para reparar cabelos danificados por químicas.
Um jeito simples de usar é misturando-o a qualquer máscara industrializada, na proporção de 1 colher (café) do óleo – à venda em lojas de matérias-primas para cosméticos – para 1 colher (sopa) de creme.
Já a mistura de 1 matérias-primas para cosméticos – para 1 colher (sopa) de creme. Já a mistura de 1 colher (café) de óleo de pequi, a mesma medida de óleo de coco e 2 colheres (sopa) de abacate fortifica e alisa os fios. Deixe agir por 2 horas. Depois lave como de costume.
Da Bahia: Água de coco para amaciar o cabelo
Moradora da paradisíaca Vilas do Atlântico, uma praia em Lauro de Freitas, a 30 quilômetros de Salvador, Mônica Reinhardt tinha água de coco fresquinha sempre à disposição. “Um dia, uma amiga apareceu com a ideia de usarmos a bebida no cabelo. O cabelo ficava macio, soltinho. Também passávamos no rosto, como uma água termal”, conta. Até hoje, Mônica – que atualmente mora em São Paulo – é fã da água de coco para dar brilho aos fios. Só que o modo de uso se sofisticou um pouco. “Coloco a água numa garrafinha de plástico e guardo no freezer por três dias. Ela vira uma espécie de geleia; Então, é só passar nas pontas e no comprimento. Deixo de 10 a 20 minutos e depois enxáguo”, explica. “A água de coco é oleosa e, por isso, fecha e protege as escamas dos fios”, garante a dermatologista Patricia Rittes.
De João Pessoa: Erva-cidreira para limpar e refrescar a pele
Não há quem tenha passado pela Paraíba sem conhecer de perto as bençãos da erva-cidreira. A planta é campeã de preferência no Estado quando o assunto é planta medicinal. “Ela é muito usada para facilitar a digestão e também como um calmante leve. Aqui em João Pessoa, é comum o cultivo da erva em quintais”, diz a farmacêutica e terapeuta floral Marlete Alves da Nóbrega. Para a pele, segundo Patricia Rittes, a erva-cidreira funciona como antisséptico, cicatrizante, além de acalmar e refrescar. O chá frio das folhas frescas pode ser aplicado com um algodão no rosto à noite, como parte da rotina de limpeza e hidratação da pele. Outra dica: “Em um recipiente de vidro, barro ou louça, misture 1 colher (sopa) de argila vermelha à mesma medida do chá frio de erva-cidreira. Coloque sobre a pele limpa e deixe agir por 15 minutos. Retire com água fria”. A máscara amacia a pele e suaviza manchas.
De Brasília: Óleo de abacate para hidratar pés ressecados
O ar tipicamente seco de Brasília inspirou a aromatologista e professora do Instituto Brasileiro de Aromatologia (IBRA) Larisa Tatiana Molchanov a criar um escaldapés que não apenas relaxasse, mas também hidratasse os pés. Quando era dona de um spa, Larisa viu no óleo de abacate uma potente solução. “Meus clientes adoravam”, lembra. “Para começar, deixava pronta, num vidro escuro de 100 ml, uma mistura com 100 ml de óleo de abacate extra-virgem e 45 gotas de óleo essencial de hortelã-pimenta.  Depois, numa tina de madeira, fi bra, louça ou cerâmica com 4 litros de água morna, acrescentava 1 colher (sopa) do óleo preparado e 1 colher (sopa) de sal grosso”, conta. O toque fi nal eram as bolinhas de gude, seixos rolados ou folhinhas de hortelã que adicionava à água. “Permanecer com os pés mergulhados entre 10 e 15 minutos, movimentado-os suavemente, é delicioso”, assegura.
Do Paraná: Óleo de andiroba para hidratar e cicatrizar a pele
Moradora de Belém do Pará há 40 anos, a finlandesa Pia Rockas conhece como poucos a cultura e tradição em ervas e plantas amazonenses. A andiroba, uma árvore de cujas sementes é extraído um óleo, traz boas lembranças de família. “Minha avó, na Finlândia, sofria com reumatismo. Então nós enviávamos frascos e frascos desse óleo, que é anti-inflamatório, para ela. Ela passava nos joelhos e saía andando de bicicleta depois”, conta, rindo. Histórias de família à parte, o fato é que a andiroba – e não só a semente, mas também as folhas e a casca – tem sido um recurso empregado desde sempre pelos povos indígenas da região amazonense para tratar uma série de males – desde úlceras até picadas de inseto. Além disso, tem alta capacidade umectante para a pele do corpo e pode ser usada para fazer massagens.
Do Rio Grande do Sul: Mel para esfoliar e hidratar
Enquanto a maioria das crianças aprende, desde cedo, a se manter longe de abelhas, a infância da farmacêutica gaúcha Aline Bolzan foi ao redor delas. Os avós eram apicultores no Rio Grande do Sul. “As caixas de abelhas que meu avô construía eram colocadas em pontos estratégicos do sítio. Onde havia laranjeiras, o mel era clarinho e suave. O proveniente da região de eucaliptos possuía sabor e aromas que lembravam a árvore. Já aquele do pomar era uma sinergia de aromas, mais escuro e chamado de ‘silvestre’”, conta. Com um contato tão próximo, as mulheres da família logo aproveitaram o néctar para as receitas de beleza. Uma delas consiste em empregar o mel cristalizado como esfoliante facial e corporal. “Se o mel não está cristalizado, é só colocá lo na geladeira por algumas horas”, sugere. Outra ideia é usá-lo no pós-sol. “É só espalhar nas áreas que ficaram expostas ao sol. O mel hidrata e evita a inflamação da pele”, diz. Por fim, pode ser usado como hidratante labial.