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Pensar e seguir… com fé

Pelo universo íntimo de Gilberto Gil flutuam pensamentos tecidos na doce contemplação dos dias. Como nas canções, poesia e lucidez se entrelaçam e dão forma ao seu novo livro, Disposições Amoráveis

Gilberto Gil – Aline Macedo/Divulgação

Ícone da música popular brasileira, o cantor e compositor Gilberto Gil é também um livre pensador. A prova disso está belamente documentada no livro Disposições Amoráveis (ed. Iyá Omin). Na obra, concebida e coordenada pela pesquisadora baiana Ana de Oliveira, o artista passeia por temas como sustentabilidade, política, cultura, cidadania, música, ciência e espiritualidade em reposta a questionamentos elaborados por 14 convidados, entre eles, o teólogo Leonardo Boff , o físico austríaco Fritjof Capra, a cantora Gal Costa, o jornalista Nelson Motta e o filósofo francês Pierre Lévy. “Gil faz re exões sobre a vertigem da tarefa de viver, de compor, de ser alegre, de ser triste, de falar do passado, do futuro, do m de tudo, de sua obra musical, da era da internet, de movimentos sociais e da não morte”, define Ana de Oliveira, criadora, coordenadora e mediadora do projeto. 

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Confira, a seguir, trecho do primeiro capítulo, intitulado O Que Permanece É a Impermanência – Ciência & Espiritualidade, em que o baiano ilumina os potenciais incubados nas crises.
 Ana de Oliveira – Você fez canções que citam apartheid, racismo e outras tantas questões… E quando a crise está mais próxima do indivíduo Gilberto Gil, da pessoa, do ser emocional? E quando é uma crise interna, pessoal? Gil – Uma crise pessoal, em mim, é administrada no desenvolver das suas próprias partículas, a cada dia. O autoconhecimento e o autoaperfeiçoamento sempre entraram nessa medida. Sei que não poderei ser mais contributivo – ou contribuir melhor para a dimensão necessária de uma nova consciência humana – se eu não for melhor como indivíduo, se não trabalhar tudo o que o mundo psicanalítico pode me dar de melhor, que o plano sutil da devoção pode me dar de melhor. Tento me aperfeiçoar o tempo todo. Tento ser uma pessoa melhor para mim mesmo, no meu próprio diálogo interior. O tempo todo comigo mesmo, na tentativa de me livrar do pequeno veneno diário da emoção mal acolhida e mal processada. Tento me livrar de tudo isso para me tornar um recipiente mais limpo. Um cântaro, como na minha música Palco, para que a canção seja derramada de forma mais bela do meu jarro interior.