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Emitida pelo celular, luz azul é vilã perigosa, mas sutil: como driblá-la?

Na coluna dessa semana, Jamar Tejada fala sobre a sutil, mas grave, influência da luz azul a longo prazo para o corpo humano

Emitida pelo celular, luz azul é vilã perigosa, mas sutil: como driblá-la?
Emitida pelo celular, luz azul é vilã perigosa, mas sutil: como driblá-la? – Freepik

Você até pode ficar sem travesseiro na cama, mas sem celular é bem difícil, né? Quem não dorme com ele ao lado ou mesmo agarrado? São poucas as pessoas.

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Saiba que essa luzinha da tela do celular que parece tão inocente, na verdade, causa vários malefícios e não está presente apenas no celular, não. Qualquer tela eletrônica tem esse mesmo efeito, como a TV, o tablet, o computador ou até mesmo as luzes fluorescentes – aquelas não são adequadas para dentro de casa.

A luz azul nos acompanha boa parte do dia. Se contarmos o tempo em frente ao celular, a média global é de 4 horas e 48 minutos diários e, infelizmente, nosso país, juntamente com a Indonésia, lidera o ranking com quase 1 hora a mais do que a média mundial. Ou seja, os brasileiros passam um terço do seu tempo acordados olhando para essas telinhas e boa parte desse tempo é a noite, quando deveríamos estar quietinhos no escuro.

O que é a luz azul?

O sol sempre representou nossa maior fonte de exposição à luz, até porque somos uma espécie fisiologicamente guiada pela luz solar. Ela é um dos reguladores do funcionamento do nosso organismo. A luz age como um sinal externo que diz ao nosso corpo quando acordar, aumentar sua atividade e finalmente descansar para recarregar a bateria.

Com o surgimento da luz elétrica, esse ritmo mudou. A luz elétrica nos trouxe a possibilidade de estender nossas atividades até mais tarde, alterando nosso relógio biológico. Com o surgimento das telas eletrônicas, isso ficou ainda pior, pois as luzes emitidas por elas têm predominantemente o comprimento de onda do azul.

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Grande parte da exposição não natural à luz azul se dá em decorrência da utilização das lâmpadas de LED. Isso porque muitos LEDs brancos são produzidos pelo emparelhamento de um LED azul com um fósforo de energia mais baixa, criando assim a luz de estado sólido (LES). Essa tecnologia tem sido considerada a “iluminação do futuro”, pois utiliza pouquíssimos recursos energéticos em comparação às outras tecnologias de lâmpadas e não possui mercúrio.

Como qualquer outro tipo de lâmpada, as lâmpadas LED causam poluição luminosa. No entanto, elas também contêm outros contaminantes em sua composição, como chumbo e arsênio. Além disso, têm sido fonte de exposição à luz azul não natural, representando riscos à saúde.

Efeitos da luz azul no organismo

O efeito no nosso organismo varia de acordo com o comprimento da onda. Durante o dia, a luz azul aumenta nossos níveis de atenção, reduz nosso tempo de reação e até melhoram o humor, mas à noite esse efeito não é nada positivo e causa, por exemplo, a diminuição da liberação de melatonina – um dos hormônios mais importantes na manutenção do sono.

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A luz azul é tão poderosa que apresenta um efeito quase oito vezes maior que a luz amarela na supressão da liberação de melatonina. A sensibilidade aos efeitos da luz azul pode sofrer variações de um indivíduo para o outro. Dentre os fatores que já foram estudados, está a cor da íris por etnia. Caucasianos de olhos claros tem uma maior supressão da melatonina induzida pela luz azul que asiáticos de olhos escuros.

Outro fator que parece influenciar essa sensibilidade é a idade. Estudos já demonstraram que idosos são menos propensos a esse efeito.

A luz azul tem comprimentos de onda curtos quando comparado às outras cores do espectro visível, com exceção do violeta. O comprimento da onda é inversamente proporcional a sua frequência e, consequentemente, a sua energia. Ou seja, ondas com comprimentos menores têm maior energia, conferindo à luz azul essa propriedade de alta energia.

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Essa alta energia acaba se refletindo em um potencial de dano fotoquímico ao tecido ocular, ou seja, a exposição prolongada à luz azul pode causar alterações no olho humano, aumentando o estresse oxidativo, a apoptose mitocondrial, a concentração de marcadores inflamatórios e o dano ao DNA. Isso tudo pode favorecer o desenvolvimento de distúrbios oftálmicos, como a síndrome do olho seco, a ceratite e até mesmo o glaucoma.

Danos ao cérebro

Um estudo da Oregon State University, nos Estados Unidos, descobriu que absorver as ondas de LED pode deteriorar as células cerebrais. Os cientistas observaram que a exposição à luz azul, mesmo não diretamente nos olhos, pode acelerar o processo de envelhecimento.

Seu estudo examinou os efeitos dessas ondas sobre moscas – isso porque elas compartilham as mesmas características celulares que os seres humanos. O professor Jaga Giebultowicz, principal autor do estudo, concluiu que a vida útil dos insetos foi reduzida drasticamente a partir da exposição ao LED – até 15% mais curta do que os insetos que viviam constantemente na escuridão total ou na luz natural. As moscas sofreram danos nos neurônios do cérebro e nas células da retina, que se manifestaram com uma capacidade reduzida de escalar paredes.

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Os autores disseram ainda que a luz natural é crucial para humanos e animais saudáveis, pois estimula o relógio corporal, que por sua vez regula a atividade cerebral, a produção hormonal e a regeneração celular.

Envelhecimento

Por penetrar profundamente na pele, provocando a oxidação dos lípidos, o que leva à liberação de radicais livres e a degradação das enzimas da pele, o contato com a luz azul resulta na destruição das fibras de colágeno e na redução de produção de colágeno, tornando a pele mais envelhecida, desidratada e com propensão para a pigmentação -aparecimento de manchas.

Suplementação para diminuição dos efeitos da luz azul

Algumas substâncias conseguem reduzir os efeitos da exposição prolongada à luz azul, como a zeaxantina e a luteína, dois carotenoides que podem ser encontrados em fontes alimentares (como cenoura, milho, salmão, entre outros), mas também estão disponíveis na forma de suplementos, que se acumulam na mácula – região que fica no fundo do olho. Esses dois compostos possuem a capacidade de filtrar a luz azul, porque essas duas moléculas são pigmentos amarelo-alaranjado que absorvem comprimentos de onda correspondentes ao azul. Além disso, essas moléculas exibem efeitos antioxidantes.

Além de reduzir os efeitos da luz azul no nosso organismo, elas também contribuem localmente para a saúde ocular, uma vez que filtram essas ondas de alta energia e reduzem as espécies reativas de oxigênio produzidas durante a ativação dos cromóforos (parte dos fotorreceptores dos nossos olhos). Ainda, diversos estudos demonstraram os benefícios da suplementação com zeaxantina e luteína para a saúde dos olhos.

O resveratrol, encontrado, sobretudo, na casca da uva, é outro ativo que também pode ajudar a prevenir glaucoma, catarata e doença ocular diabética. Entre os polifenóis da uva, ele é um dos melhores antioxidantes naturais, indicado para prevenir o envelhecimento da pele e protegê-la das radiações UVA e UVB. Por isso, é também uma das promessas da indústria cosmética contra os malefícios da radiação solar e da luz azul artificial.

O ideal, portanto, é adicioná-las inteiras à dieta para obter todos os seus benefícios. Você pode consumi-las in natura, em sucos integrais, vinhos ou por suplementação.

Cuidados que devemos ter:

• Instalar aplicativos no celular que permitem que a luminosidade seja alterada do azul para o amarelo ou alaranjado;
• Evitar o uso de aparelhos eletrônicos até 2 ou 3 horas antes de dormir;
• Preferir luzes amarelas quentes ou avermelhadas para iluminar a casa durante a noite;
• Utilizar óculos que bloqueiam a luz azul;
• Colocar um protetor de tela no celular e no tablet que proteja da luz azul;
• Usar proteção no rosto que proteja da luz azul, e que tenha antioxidantes na composição, que neutralizam os radicais livres;
• Lembrar que o modo escuro na tela não funciona. Um estudo de 2019 sobre configurações de modo escuro mostrou não haver diferença notável na produção de melatonina entre as pessoas que usaram o filtro de luz azul no tablet antes de dormir e as que não usaram. Os autores do estudo sugeriram ainda que o Night Shift por si só não seria suficiente para restaurar o ritmo circadiano. Reduzir as configurações de brilho do dispositivo parecia ser igualmente importante – ou até mais.

O avanço da tecnologia é inevitável e bem-vindo. Claro que não vamos dormir a luz de velas em um mundo onde os leds dominam, mas podemos minimizar os efeitos pelo menos na hora de dormir. Não custa nada desligar a TV, o celular, o tablet ao se deitar à noite, até porque sua cama não é local de trabalh, mas lugar de repouso!

Pense nisso e avalie a sua rotina!


Fontes:

• NAKASHIMA, Yuya et. al.. Blue light-induced oxidative stress in live skin. Free Radical Biology and Medicine. 108. 300-310, 2017
• FALCONE D. et. al.. Effects of blue light on inflammation and skin barrier recovery following acute perturbation. Pilot study results in healthy human subjects. Photodermatol Photoimmunol Photomed. 34. 3; 184-193, 2017
• HETTWER, Stefan, et. al.. Blue light protecting cosmetic active ingredients: a case report. Journal of Dermatology & Cosmetology. 4. 1; 94-97, 2017
• TOSINI, Gianluca et al.. Effects of blue light on the circadian system and eye physiology. Molecular vision. Vol.22. 67-68, 2016
• CHI, Heng-Yu. Effects of Screen Light Filtering Software on Sleep and Morning Alertness. Tese de Mestrado, 2017. Central Washington University.