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Setembro amarelo: precisamos falar sobre saúde mental e as consequências de não tratá-la

Na coluna desta semana, Jamar Tejada reforçou a importância de falar sobre suicídio e explicou diferentes maneiras para tratar a depressão e evitar que ela evolua para pensamentos suicidas

Entenda a importância de discutir sobre suicídio e depressão – Unsplash/ Yoal Desurmont

Eu não poderia deixar setembro passar sem escrever sobre o suicídio, uma palavra que traz peso e tristeza só em lê-la, uma palavra que traduz ser afirmação da morte como negação da vida.

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Para muitos é algo distante demais de suas vidas. Já ouviu falar de um amigo do amigo que cortou os pulsos, ou porque soube da mulher do prédio ao lado que pulou da sacada ou então porque assistiu no noticiário sobre o menino que cometeu por sofrer bullying nas redes sociais. Seja qual for a forma que essa palavra tenha chegado até você, espero de coração que ela não faça parte de sua história, na minha tristemente fez.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS), quase 800 mil pessoas cometem suicídio por ano, tem noção?

Dados estatísticos  apontam que a cada 40 segundos uma pessoa o comete, sendo uma das principais causas de mortalidade entre os jovens em todo o mundo. No Brasil, são registrados aproximadamente 12 mil suicídios todos os anos, sendo a grande maioria de jovens com idade entre 15 e 29 anos, é assustador! 

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Falta de amor-próprio? De comunicação? Depressão? Revolta? O que está acontecendo? Estima-se que cerca de 97% dos casos de suicídio estejam associados a transtornos psiquiátricos como depressão e transtorno bipolar, sendo que 9 em cada 10 destes casos poderiam ser evitados se os sinais do problema fossem percebidos precocemente, o problema é que no mundo de hoje as pessoas não prestam atenção no outro, mesmo que esse outro durma ao seu lado. A falta de empatia e atenção vão matar o mundo! 

Setembro Amarelo

Pensava eu que a campanha “Setembro Amarelo” leva esse nome porque nesse mês deveriam ser registrados maiores números de suicídios ao redor do mundo — eu estava bem errado.

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A campanha leva esse nome em homenagem a um suicida norte-americano Mike Emme, que em 1997, aos 17 anos, cometeu suicídio dentro de seu carro, um Mustang amarelo.

Inconformados por não terem percebido o sofrimento psicológico pelo qual o jovem passava, familiares e amigos distribuíram durante seu velório cartões com fitas amarelas que continham a mensagem “Se você precisar, peça ajuda”. A história se espalhou rapidamente por todo o país e, desta forma, a fita amarela se tornou o símbolo desse movimento de prevenção ao suicídio.

Em 2003, a OMS instituiu o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (10 de setembro) e utilizou a fita amarela para representar a campanha que visa sensibilizar e conscientizar a população sobre o tema. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida é um importante aliado na prevenção do suicídio, oferecendo apoio emocional gratuito, de forma voluntária, 24 horas por dia, pelo telefone 188, por e-mail ou chat pelo site da instituição.

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Mas será que é possível prevenir o suicídio?

O suicídio é entendido como todo e qualquer ato intencional que venha a causar danos ao próprio indivíduo. Ele é considerado um fenômeno de etiologia multifatorial, que resulta da interação entre fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais. 

Dentre os fatores desencadeantes mais frequentemente associados ao suicídio destacam-se as dificuldades financeiras, términos de relacionamentos, preconceitos e discriminação a determinados grupos sociais, que muitas vezes podem favorecer o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos e uso abusivo de substâncias como álcool e drogas ilícitas.

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Dentre os transtornos psiquiátricos, a depressão maior e a depressão bipolar figuram como os principais agravantes da ideação suicida em homens e mulheres de todas as faixas etárias, embora seja mais predominante no sexo masculino e aumentada quando estes indivíduos passaram por algum evento estressante. 

Depressão e suicídio

O termo depressão refere-se a um grupo de transtornos psiquiátricos, entre os quais destacam-se o transtorno depressivo maior e a depressão bipolar — em uma das minhas colunas escrevi sobre esse mal, problema, doença, transtorno. A etiologia destes transtornos pode envolver muitos fatores tanto genéticos como ambientais, que contribuem para o desenvolvimento dos sintomas como tristeza, angústia, desânimo, culpa e alterações no sono, no apetite, na concentração e na libido.

De acordo com os critérios para diagnóstico, a depressão maior é caracterizada pela presença de cinco ou mais dos sintomas descritos na tabela a seguir, que devem estar presentes ao mesmo tempo, quase todos os dias, durante duas semanas, sendo que um dos sintomas necessariamente deve ser humor deprimido ou perda de interesse e prazer.

Tabela 1 – Critérios avaliados para diagnóstico de depressão maior.

1.    Humor deprimido durante a maior parte do dia *
2.    Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades durante a maior parte do dia *
3.    Ganho ou perda ponderal significativo (> 5%) ou diminuição ou aumento do apetite
4.    Insônia (muitas vezes insônia de manutenção do sono) ou hipersonia
5.    Agitação ou atraso psicomotor observado por outros (não autorrelatado)
6.    Fadiga ou perda de energia
7.    Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada
8.    Capacidade diminuída de pensar, concentrar-se ou indecisão
9.    Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, tentativa de suicídio ou um plano específico para cometer suicídio
* Sintomas que, obrigatoriamente, devem estar presentes para confirmação do diagnóstico.

Já na depressão bipolar, o episódio depressivo descrito acima é alternado com episódios de mania – definidos como períodos de mais de 1 semana de humor persistentemente elevado e expansivo (euforia) ou humor irritável associado a pelo menos 3 sintomas descritos na tabela a seguir.

Tabela 2 – Critérios avaliados para diagnóstico do episódio maníaco da depressão bipolar.

1.    Autoestima inflada ou grandiosidade
2.    Diminuição da necessidade de sono
3.    Falar mais do que o habitual
4.    Fuga de ideias ou pensamentos acelerados
5.    Facilidade em se distrair
6.    Aumento das atividades direcionadas a objetivos
7.    Envolvimento excessivo em atividades com alto potencial para consequências negativas (p. ex., gastos exagerados e desnecessários, investimentos financeiros sem sentido)

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Confesso que os itens 5 e 7 da segunda tabela me preocupam bastante! Pensando nos fatores biológicos, no desiquilíbrio interno, os sintomas observados nestes transtornos esta relacionado principalmente aos neurotransmissores chamados monoaminérgicos, que compreendem a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, envolvidas no funcionamento de sistemas responsáveis pela regulação da sensação de prazer, do bem-estar físico e mental, do sono e alerta, do humor.

Estes neurotransmissores modulam diretamente os níveis de alguns fatores neurotróficos no sistema nervoso central (SNC), sendo o principal fator neurotrófico derivado do encéfalo, conhecido como BDNF e envolvido na adaptação ao estresse, na regulação da plasticidade sináptica, do humor e da cognição.

Desta forma, a redução dos níveis endógenos destes neurotransmissores e de BDNF é associada com os sintomas de depressão maior, enquanto que oscilações na liberação estão associadas à fase maníaca do transtorno bipolar. Mas nem sempre são problemas nas questões biológicas internas, muitas vezes a tristeza por si só é o fator desencadeante.

Logo, o tratamento farmacológico da depressão consiste especialmente em reestabelecer os níveis destas monoaminas no cérebro, onde muitas pessoas não respondem bem à terapia convencional disponível com medicamentos alopáticos conhecidos como “traja preta”, o que leva muitas pessoas ao tratamento nutracêutico.

Estudos têm demonstrado que as suplementação com nutracêuticos como o SAM-e (S-adenosil-L-metionina), Crocus sativus, a L-teanina (2-amino-4-etil-butírico) e o 5-hidroxitriptofano (5-HTP) podem contribuir para melhora do humor em quadros de depressão, assim como fitoterápicos como Valeriana officinalis, kawa-kawa,  Hypericum perfuratum, etc, que devem ser prescritos por profissional de saúde habilitado na área como médico, nutricionista e/ou farmacêutico.

Não podemos deixar de lado a prática regular de exercício físico e a psicoterapia que podem complementar a terapia com nutracêuticos, contribuindo para a redução dos sintomas da depressão, assim como da importância do acompanhamento com profissional habilitado, seja um psiquiatra e/ou psicólogo. 

Se por um lado é mais fácil compreender as ideias suicidas durante a fase depressiva, por outro, em pacientes com transtorno bipolar muitas vezes a fase maníaca mascara esses pensamentos. Parece que tudo está bem, só que não! Justo nesse momento, quando o julgamento de risco e o raciocínio lógico estão confusos, que muitas vezes as criaturas acabam cometendo o ato. 

Como podemos prevenir ou ajudar quem está ao nosso redor?

Primeiramente precisamos quebrar o tabu e falar mais abertamente sobre o assunto. É pesado? É! Mas é mais do que necessário! Se percebe em você ou no próximo esses sintomas busque ou dê ajuda! O “deixar para depois” pode ser muito tarde! Apesar de estarmos em 2021, muitos sentem vergonha de procurar ajuda psiquiátrica.

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A depressão decorre de alterações neuroquímicas em nosso cérebro, e precisa de tratamento como qualquer outra doença. Quando uma pessoa procura um endocrinologista, por exemplo, e detecta que é necessário fazer o uso de medicamentos para a glicemia, raramente irá se recusar a fazer o tratamento, então me diga: porque vergonha em se tratar? Porque receio em conversar com seu amigo? 

As ondas podem ser grandes, a tempestade pode ser assustadora, mas lembre-se que quem guia o barco é você, e segurando sua mão, no leme, essa força maior que diz: “não desista! Tudo passa! Pelo amor, sua luz e sua luta tenho certeza absoluta que tudo vai dar certo!”.

JAMAR TEJADA


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