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Burnout digital: o colapso emocional causado pelas conexões online

Na coluna dessa semana, a psiquiatra Jéssica Martani fala sobre o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos e suas – graves – consequências

Burnout digital: o colapso emocional causado pelas conexões online
Burnout digital: o colapso emocional causado pelas conexões online – Freepik

Você é daqueles que mal acordou e já está olhando as redes sociais? Ou é do tipo que almoça olhando o celular? Tem dificuldade de dormir porque ficou navegando na internet e quando viu já passava da meia-noite?

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Quantas vezes não nos sentimos desgastados, como se estivéssemos com nossa energia sugada, e justamente por causa do aparelho eletrônico? Assim, fazemos uma “varredura” pelo nosso dia e observamos que nada foi feito além do cotidiano. Então, por que essa sensação tão pesada de exaustão?

O que é o burnout digital?

Burnout digital, também conhecido como exaustão digital, é um termo usado para descrever o desgaste físico e prejuízos à saúde mental causados pelo uso excessivo de tecnologia, como celulares, computadores, redes sociais e outras plataformas digitais, tanto para a vida pessoal quanto no mundo corporativo.

As pessoas que sofrem de burnout digital podem apresentar sintomas como sensação de exaustão, dores no corpo, cefaleia, insônia e terror noturno.

O burnout digital está associado a exposição excessiva no meio digital, bem como pressão em responder e-mails e mensagens, urgência em estar perdendo alguma notícia, necessidade em estar sempre “por dentro dos acontecimentos”.

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Também conhecido como Síndrome de FOMO (fear of missing out), no burnout digital, a pessoa se sente na obrigação em estar sempre conectado e, ao se desconectar, tem a sensação de que está fazendo algo errado, sente-se sobrecarregado com uma enxurrada de informações. Tudo isso vem associado à angústia de não estar conseguindo “viver” o mundo real. A pessoa percebe que está se deixando a vida de lado, mas, mesmo assim, não consegue se desconectar e tem dificuldades de tirar um tempo livre.

Brasil, um país digitalmente “viciado”

Conforme o relatório feito pelo Digital In 2019, os brasileiros passam em média cerca de 3h30 por dia conectados às redes sociais. E neste mesmo ranking, a gente ganha medalha de prata por ser o segundo país do mundo que passa mais tempo por dia usando a internet, perdendo apenas para as Filipinas.

Segundo dados do IBGE, em 2021, cerca de 78% da população brasileira tem acesso à internet. O Brasil é o país que possui uma das maiores bases de usuários de redes sociais do mundo.

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Tudo mudou bruscamente após a pandemia. O que antes não era comum passou a fazer parte do cotidiano. Dentre estas, posso destacar o trabalho em home office. De acordo com um levantamento feito pela Microsoft, o número de reuniões semanais on-line aumentou 148% entre 2020 e 2021.

Além disso, se popularizou cursos, graduações e outras tantas atividades virtuais. Por isso, aqueles minutinhos de folga agora são preenchidos por uma “call” aqui e uma consulta médica dali. O problema é que, quanto mais conexão, menor é a nossa conexão física com o nosso mundo real e pior a nossa saúde mental.

Prejuízos do burnout digital

• Fadiga ocular: causa dores de cabeça, vista cansada e dificuldade para focar;

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• Sensação de sobrecarga emocional;

• Dificuldade de concentração;

• Maior propensão ao tédio fora do mundo digital: aumenta irritabilidade e impaciência;

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• Por ficarmos muito tempo dentro de casa e sem a exposição a luz natural, além disso, pela excessiva exposição à luz azul artificial dos eletrônicos, durante a noite, são ocasionados distúrbios do ciclo sono-vigília;

• O sono é um dos mais afetados e hoje sabemos que pessoas com alteração do ciclo sono-vigília podem desregular hormônios e neurotransmissores cerebrais importantes. O resultado disso é o aumento de depressão e da ansiedade;

• Não devemos esquecer que, quanto mais permanecemos dentro de casa, menor nosso contato com a natureza e maior o nosso isolamento social, pilar importante para a nossa saúde mental;

• Dependência: uso excessivo da tecnologia pode levar à dependência, especialmente quando as pessoas têm dificuldades para se desconectar ou sentem ansiedade quando não estão usando a tecnologia.

Com tudo isso, há o aumento do estresse. Eu também observo um aumento expressivo de pessoas que não conseguem mais distinguir e nem colocar limites entre o mundo real e o digital.

Dicas para conseguir ter mais paz e saúde mental, mesmo em meio à tecnologia:

• Tenha dois celulares, um corporativo e um pessoal. Assim, quando terminar o seu expediente, desligue o outro celular colocando mensagens automáticas especificando até qual horário você estará de “plantão” no celular. Especifique ainda os horários de almoço;

• Coloque limites e deixe lembretes de que é possível que você demore alguns minutos para responder e tudo bem a pessoa esperar, ok?

• Estabeleça horários específicos para usar a tecnologia e evite usá-la fora desses horários. Por exemplo, você pode decidir que não usará tecnologia após às 21h00;

• Desconecte-se completamente da tecnologia por um tempo. Assim como diariamente, você pode decidir que não usará tecnologia no fim de semana ou em um dia específico da semana;

• Crie uma rotina sem tecnologia: reserve algum tempo para atividades que não envolvem tecnologia, como ler um livro, praticar uma atividade física ou fazer um hobby que você goste;

• Evite usar tecnologia na cama, pois isso pode interferir no seu sono e atrapalhar a qualidade do seu descanso;

• Use aplicativos para monitorar o uso da tecnologia: existem apps que ajudam a monitorar quanto tempo você gasta usando a tecnologia e quais aplicativos você usa com mais frequência. Essa informação pode ajudá-lo a tomar decisões informadas sobre como limitar o uso excessivo;

Quero te lembrar ainda que, para evitar o burnout digital, é importante estabelecer limites saudáveis no uso da tecnologia, priorizar o tempo livre para atividades sem elas e buscar ajuda profissional caso os sintomas persistam.