Névoa mental pós-covid: os impactos da doença na memória e concentração
Na era pós-pandemia da covid-19, em que ainda muitas pessoas vêm sendo infectadas pelo vírus, um dos efeitos da doença a perda de memória
Na era pós-pandemia da covid-19, em que ainda muitas pessoas vêm sendo infectadas pelo vírus, um dos efeitos da doença a perda de memória
Me diz uma coisa: como você está se sentido hoje? Como está a sua memória? Você já pegou covid-19? Mesmo com uma incidência menor, a covid-19 ainda existe. Tenho certeza de que a maioria das pessoas já pegou e o grande problema continua nas alterações após a infecção.
Uma queixa recorrente no meu consultório de psiquiatria é sobre alteração de memória que acontece depois que o vírus vai embora. Esse é um assunto intrigante e que tem despertado a atenção dos cientistas: a “névoa mental” ou “confusão mental pós-covid”.
Essa condição é caracterizada por alterações na memória e na cognição em pessoas que se recuperaram da covid-19 e é um dos aspectos menos compreendidos da doença. Vamos mergulhar nos avanços científicos e nos mistérios que ainda cercam essa questão.
Sabemos que a covid-19 vai além dos sintomas respiratórios e do impacto no sistema imunológico. Mais do que afetar o sistema respiratório, o vírus pode, sim, impactar nos sistemas neurais. Por isso, os cientistas estão se dedicando a investigar os efeitos do vírus no cérebro humano. Entre esses efeitos, a névoa mental pós-covid desponta como um tema de preocupação crescente.
As névoas mentais pós-covid são alterações de memória, lentificação cognitiva e dificuldade de concentração.
Os cientistas continuam estudando os porquês, mas um deles, muito interessante, é a afinidade que o vírus tem com nervo olfatório, e é por isso, inclusive, que há alteração como perda do olfato e alterações do paladar. A grande questão é que esse nervo fator atinge também áreas cerebrais importantes na nossa memória. Portanto, postula-se que a resposta inflamatória sistêmica desencadeada pela infecção pode causar inflamação e danos nos neurônios e contribui para as alterações cognitivas.
Felizmente, a ciência tem avançado na compreensão dessa condição. Estudos clínicos e pesquisas em neuroimagem têm fornecido percepções valiosas, permitindo um melhor entendimento dos mecanismos subjacentes à névoa mental pós-covid. No entanto, ainda há muito a ser descoberto e é fundamental continuar investindo em pesquisas para desenvolver estratégias de intervenção e reabilitação.
Para aqueles que vivenciam os desafios da névoa mental pós-covid, é essencial buscar suporte médico especializado. Neuropsicólogos e profissionais de saúde podem realizar avaliações detalhadas, oferecer orientações personalizadas e estratégias para enfrentar os problemas de memória e cognição. Hoje há também, inclusive, rastreamento por inteligência artificial, o Altoida, que ajuda a identificar e escanear esses déficits cognitivos.
Resumindo, ainda há muito a se descobrir sobre a névoa mental pós-covid, uma condição super complexa e merece atenção do meio científico para que, com o tempo, consigamos desenvolver novas abordagens, tratamentos e apoio.
Abaixo, eu quero destacar as principais influências ao nível neuronal e psicológico da doença para ajudar nesta identificação dos sinais.
Na infecção pelo covid-19, os sinais inflamatórios podem ocasionar alterações dos neurotransmissores cerebrais, como a serotonina, por exemplo, que ainda pode aumentar a incidência de ansiedade e depressão. Além disso, ter a doença pode ser extremamente traumático devido ao estresse pela incerteza dos desfechos da doença, do isolamento social além dos traumas de quem vive uma internação.
Pessoas com depressão e ansiedade podem aumentar a tendência a ter alterações cognitivas como foco, atenção, memória e cognição.
A depressão, a ansiedade e a névoa mental pós-covid podem ter bases biológicas semelhantes. Alterações inflamatórias, desequilíbrios neuroquímicos e disfunções no sistema nervoso central podem contribuir para o desenvolvimento de todos esses aspectos. Assim, é possível que haja sobreposição nos mecanismos subjacentes a essas condições.
É importante deixar claro ainda que nem todo mundo que teve covid apresenta alterações cognitivas ou ansiedade e depressão, esses desfechos variam de acordo com cada indivíduo e suas predisposições.
Cuide-se!