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Série da Netflix “A Lição” fala sobre consequência de bullying: como identificar a prática?

Psiquiatra, Dra. Jéssica Martani utiliza série “A Lição” para falar sobre consequências do bullying, neste caso, do desastre emocional causado na infância da protagonista

Série da Netflix "A Lição" fala sobre consequência de bullying: como identificar a prática?
Série da Netflix “A Lição” fala sobre consequência de bullying: como identificar a prática? – Reprodução/Netflix

Para começar a nossa coluna, a qual estou muito honrada em fazer parte do time da Bons Fluidos, quero levantar um tema importante, em alta devido uma série coreana chamada A Lição, disponível na Netflix, que conta a história de Moon Dong Eun, vítima de fortes agressões físicas e psicológicas que passa 18 anos planejando uma vingança.

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Na série, conseguimos observar o desastre emocional que a violência pode ocasionar, principalmente na fase escolar, muito importante para a formação de personalidade.

Série “A Lição” e o surgimento do bullying

Nossa personalidade sempre está associada a nossa autoimagem. A maneira como nos enxergamos irá determinar nossas conquistas na vida. Por isso que, uma personalidade fragilizada é geralmente acompanhada de uma autoconfiança abalada.

Nesta série, observamos uma mulher que cresceu com traumas de infância e pouca rede de apoio na qual o pai é ausente a mãe tem sérios problemas com álcool e faz de tudo por dinheiro – prejudicando, inclusive, a própria filha, visando o ganho monetário.

Neste ambiente em que a personagem se encontra, mesmo quando buscou ajuda, a escola ignora, a mãe ignora e a polícia desacredita de sua versão.

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E assim cresceu Moon Dong Eun, uma mulher de poucos sorrisos, desconfiada dos afetos sinceros, com dificuldade de contato físico, medos, vingativa, tendenciosa a violência e com crises de ansiedade. Em determinado momento da história, acontece a tentativa de suicídio e sua aparente frieza é, na verdade, uma capinha protetora que esconde uma criança ferida e solitária.

A nossa personalidade é a grande responsável por nosso entendimento do que somos e como iremos lidar com os obstáculos de nossa vida. As situações que enfrentamos podem influenciar a nossa personalidade, seja para fragilizar ou fortalecer.

A formação de nossa personalidade é influenciada por vários fatores, vem vão desde a criação, dogmas e ambiente ao qual estamos inseridos. A infância e adolescência são alguns dos períodos mais importantes. É nesta fase que o processo de individuação começa a ser mais intenso. A adolescência é ainda muito importante para as amizades, pois é nesta fase que se dá a sensação de pertencimento a um círculo de pessoas.

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Por isso é muito comum adolescentes andarem em grupo. Saber quem somos está ligado ao fato de sabermos a qual grupo pertencemos. Por este motivo também é importante e faz parte da formação de personalidade andar em bandos nesta fase da vida.

Uma adolescente rejeitada, isolada e com pouco apoio emocional e que sofreu abusos e violências, pode sim ter maiores dificuldades no seu desenvolvimento e processo de individualização e maior propensão a ter transtornos emocionais, podendo demonstrar maior insegurança, problemas na autoestima, agressividade, labilidade emocional, depressão, ansiedade dificuldade de relacionamento social e afetivo, dentre outros.

Devemos estar atentos ao bullying e suas consequências

No Brasil, os dados são alarmantes. Segundo o Instituto de Pesquisa Ipsos, o Brasil é o 2º país com mais casos de cyberbullying, ou seja, bullying praticado no meio virtual. Ainda segundo uma pesquisa feita em 2019 pela UNICEF, 37% dos adolescentes de 13 e 24 anos já sofreram ou foram vítimas de cyberbullying.

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Devido tudo isso, desde 2015, o país conta com amparo legal contra o bullying pela Lei 13.185. Não podemos ficar parados. O bullying não é frescura e a violência escolar não pode ser ignorada. Muitas vezes, quem sofre agressões não fala para os pais, por isso o alerta precisa ser ainda maior.

Como identificar quando uma criança está sofrendo bullying?

  • Mudança de atitude: antes era mais alegre e começou a se fechar ou apresentar postura de agressividade;
  • A criança começa a ficar mais deprimida, sem energia para fazer as atividades;
  • Dá sinais de que constantemente falta às aulas, arruma desculpas para não ir à escola e ainda tem desinteresse pelos estudos;
  • Apresenta constantemente sinais físicos que não podem ser explicado por questões orgânicas, como sudorese, formigamento ou sensação de desmaio;
  • Se mantém sempre mais isolado, não tem amigos e não aparece com ninguém para fazer trabalhos em casa;
  • Constantemente recebe reclamações na escola por não estar conseguindo realizar as atividades ou por entrar em alguma briga;
  • Apresenta sinais físicos, como machucados e hematomas constantes;
  • O material escolar e uniforme estão deteriorados;
  • Apresenta tristeza e choro sem motivo aparente;
  • Dá sinais de baixa autoestima;

As consequências do bullying podem ser devastadoras e, dependendo do tipo de agressão e o tempo de exposição, se não houver apoio dos pais e da escola para identificar e conseguir gerar estratégias de prevenção e combate, o problema pode agravar e trazer inúmeras consequências a curto e a longo prazo.

Muitas vezes, o apoio psicológico é essencial para que se consiga fortalecer a autoimagem e conseguir curar as feridas de todo o sofrimento emocional e, com isso, conseguir seguir em frente.

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Sobre Dra. Jéssica Martani

@dra.jessicamartani

Médica psiquiatra, observership em neurociências pela Universidade de Columbia em Nova Iorque – EUA, graduada pela Universidade Cidade de São Paulo com residência médica em psiquiatria pela Secretaria Municipal de São Paulo e pós graduação em psiquiatria pelo Instituto Superior de Medicina e em endocrinologia pela CEMBRAP.
CRM 163249/ RQE 86127