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Resgate da esperança

Published 21/01/2016

Resgate da esperança - Shutterstock

Poucos dias antes de o furacão Katrina, atingir Nova Orleans, o escritor Alex Castro havia chegado do Rio de Janeiro para estudar na cidade americana. Levou junto o vira-lata Oliver, cachorro que adotara em uma comunidade carioca e que era, segundo ele, o “sobrevivente“ de muitos sumiços pelo bairro. Com a evacuação inevitável e a consequente tragédia que alagou a cidade, o cachorro ficou para trás e Alex, impossibilitado de voltar para casa. Hospedado na residência de uma amiga em Nova York e depois na Califórnia, ele temia o pior e buscava alguma forma de reencontrar seu cão.

A história de Oliver tem algo em comum com as cenas devastadoras de terremotos no Haiti, Nepal e até o recente desastre ocorrido em Mariana, MG: o esforço para buscar e salvar vidas – humanas ou não. Em meio a tanta dor, voluntários, bombeiros e organizações não governamentais juntam-se para encontrar animais que fazem parte do mundo de quem perdeu quase tudo. “Eles são mais importantes do que muita gente imagina. São, muitas vezes, como membros da família”, aponta Rosângela Gebara, gerente de programas veterinários da World Animal Protection, que atua internacionalmente com projetos de prevenção e contingência voltados aos animais em casos de desastres naturais. Esse trabalho tem impacto direto na vida dos moradores de regiões atingidas até porque, lembra ela, hoje há mais lares com animais do que com crianças.
“Amigos certos nas horas incertas” é o lema do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais que traz um alento aos habitantes da região. É assim que, em Paracatu de Baixo, distrito de Mariana, Aguinaldo Pereira recuperou sua cadela Nina. Ele perdeu a morada, o açougue e amigos, mas viveu um momento de alegria ao ver a mascote resgatada da lama. A foto dela carregada por um bombeiro rodou o mundo por meio de uma agência de notícias e foi um dos ícones da tragédia. “Bichos também sofrem com o trauma. Cachorros fi cam sem olfato, por exemplo, e por isso acabam perdidos ou presos em casas isoladas”, diz Rosângela. Segundo ela, mesmo animais bravos se deixam ajudar em situações de risco porque sabem que sozinhos não têm saída.
Para alguns, o resgate torna-se um motivo para seguir em frente quando a história pessoal mudou para sempre. Já conhecido pela mídia internacional, o japonês Naoto Matsumura desafi a diariamente a radiação nuclear para cuidar de animais. Após o terremoto que provocou vazamento da usina de Fukushima, em 2011, o agricultor decidiu voltar para casa e ver como estava sua criação. Ao descobrir cães, gatos, pônei e até avestruzes na comunidade deserta passando fome, tomou como missão viver sozinho ao lado desses que foram deixados para trás.
Oliver, o “sobrevivente” de Alex Castro, foi resgatado oito dias após  a passagem do Katrina por um fotógrafo que trabalhava na cobertura da tragédia. Viveu até os 14 anos
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