A Páscoa é quando celebramos o renascimento, o ‘Domingo da Ressurreição‘. Muito mais do que apenas um motivo para nos entupirmos de chocolates, a celebração, na verdade, tem origem muito mais antiga…
Qual a origem da Páscoa?
O nome ‘Páscoa’ deriva do termo hebraico Pessach ou Pesach, cujo significado é passagem; e do latim Pascha, que era a Páscoa Judaica. Essa celebração dos judeus permanece constituindo o calendário do povo e, nesse ano de 2025, Pessach começou dia 12 de abril e terminará na noite do domingo (20). Dura oito dias e celebra o Êxodo do povo judeu do Egito, libertados da escravidão.
Vale lembrar que Jesus era judeu e nasceu quando o cristianismo ainda não existia, certo? Logo, a nossa Páscoa Cristã nasceu bem depois da era de Jesus de Nazaré, com celebrações que envolvem a chegada do filho de Deus a Jerusalém, a semana que precedeu sua crucificação, a Santa Ceia com os Apóstolos, a Crucificação, a Ressurreição e o nosso Domingo de Páscoa.
Páscoa judaica e cristã
O significado e a raiz da Páscoa cristã é, portanto, diferente da Páscoa Judaica, pois os judeus celebram a libertação, pelas mãos de Deus, do povo hebreu escravizado no Egito. Inclusive, nas duas primeiras noites da comemoração, as famílias de fora de Israel se reúnem para o Seder (jantar cerimonial, quando contam a história do Êxodo no Hagadá, o livro cerimonial. Já os judeus de dentro o fazem na primeira noite). O Pessach Judeu acontece logo nas primeiras semanas da Primavera, enquanto foi estabelecido que a Páscoa cristã seria também celebrada nesse período. A data certinha você verá logo mais no artigo.
Pessach, então, nos conta sobre a grande trajetória do Povo de Deus, à época de Moisés, cuja travessia pelo Mar Vermelho significou a conquista da liberdade da escravidão egípcia. A passagem é tanto essa travessia pelo mar e também a travessia sutil à vida livre.
Mudanças sociais e culturais
As mudanças sociais e culturais estão muito ligadas às guerras por ideologias e crenças. Nos tempos primeiros, os conflitos eram sobre quem detinha a verdade e conhecia os desígnios de Deus. Portanto, guerras filosóficas de merecimento e “fazer valer a vontade de Deus”. Quem sabe dizer com absoluta certeza qual a vontade de Deus, certo? Como na monarquia absolutista, “quem garante que aquele moço que é o rei foi designado por Deus para tal função?” Coisas assim, que permanecerão no campo subjetivo e geram os conflitos quando falamos de governança, separação de terras, etc. Guerras, essas, que perduram até os dias de hoje, afinal.
Momento de reflexão
É por esse motivo que eu acho importantíssimo usar esses feriados para refletir e aprender sobre as histórias da Antiguidade, tão cruciais para entender as nossas atuais dinâmicas sociais. Compreender os fundamentos das coisas que têm raízes muito mais antigas do que o comer chocolate – que, inclusive, foi uma incorporação de outras tradições nesse caldo que chamamos de feriado comercial de Páscoa. Por isso, resolvi, para fins de entendimento, dividir comercial e religioso. Temos, então o feriado religioso, do povo cristão e temos o feriado comercial, que busca apenas lucrar com um momento especial que já existe. A questão é que celebrar a ressurreição de Cristo não exige que você faça caça aos ovos e coma muito chocolate. Isso é importante apenas para a economia continuar girando e as crianças se divertirem.
Refletir e se transformar
Esse ano, por causa do mercado das influenciadoras digitais, se popularizou a realização da Quaresma – período de 40 dias que antecede a Páscoa. Na Quarta-Feira de Cinzas, você escolhe um sacrifício para realizar e busca refletir sobre a sua vida. A ideia é essa, pelo menos: refletir e se transformar, em comunhão com os 40 dias que Jesus passou no Deserto antes de chegar a Jerusalém, e toda a história da paixão de Cristo que conhecemos. Imagina passar esse tempo todo no deserto? Como isso não deve transformar uma pessoa internamente ? Cortar o doce é um símbolo para que você reflita sobre as mudanças necessárias na sua vida. Sua relação com as pessoas, o quanto você reclama, é grato, ou procrastina. Ou seja, as suas escolhas e também com quem você se relaciona.
A fé acontece na intimidade
Assim como a febre do Café com Deus Pai, se você está cortando o açúcar apenas para falar que fez um sacrifício, talvez, não esteja fazendo pela intenção verdadeira. A fé acontece na intimidade. A Páscoa, no fundo, fala sobre transformação pessoal, na intimidade sua com Deus, com o que é sagrado para você. É a nossa grande celebração desse Cara que se sacrificou tanto por nós em vida, para nos mostrar o que é ser humano e ser Divino em igual proporção quando morreu e ressuscitou. E se você não liga para nada disso, acho que vale a pena se perguntar o porquê das coisas. Aprender nunca é demais né?
Curiosidades sobre a Páscoa
Então para você que é curioso da história:
A nossa sociedade moderna tem suas bases fundadas na ascensão do catolicismo apostólico romano. As culturas Antigas eram muito diversas, as crenças e cultos eram mais frequentes, embora cada qual com suas imagens e dinâmicas próprias. Existiam inúmeros povos, com credos/religiões diferentes. A espiritualidade não era separada da governança, uma vez que as sociedades Antigas conseguiram se firmar e se desenvolver pelo advento da agricultura e organização funcional e estrutural da sociedade.
O que a gente chama de física, eles chamavam de manifestação de Deus
As civilizações dependiam do entendimento do clima, das estações e por isso demonstraram profundo respeito à terra. Pensa que loucura é o ciclo da lua certo? O que a gente chama de física, eles chamavam de manifestação de Deus. Se a colheita era prejudicada por uma forte chuva, eles refletiam sobre o que teriam feito de errado para irritar Deus. E o mesmo ocorria quando havia a ausência de chuva. A verdade é que a Natureza é indomável e isso sabemos e vivemos na pele ainda hoje. Por isso, por causa das colheitas, a mudança das estações eram celebradas. Ritualizavam a época de chuvas, as luas contavam os meses e, assim, as sociedades tinham calendários e festivais na comunidade. Isso é enraizado na memória humana, as nossa práticas e o que nos faz humanos. Viver nessa complexidade de sociedade.
Dito isso, embora hoje, muitos Estados se declarem laicos, as crenças e festividades (rituais) espirituais ainda estão muito enraizadas na nossa organização social, no nosso inconsciente coletivo. Nossos feriados permanecem sendo os feriados santos, as grandes festividades da atualidade são originárias das religiosas e antigas, como Carnaval, Páscoa, Natal, Finados, Dia das Bruxas, entre outros. Isso tudo faz com que percebamos o tempo passar, pois assim, conseguimos nos identificar na dinâmica criada socialmente de espaço-tempo.
Curiosidade sobre a Páscoa Judaica
gora, vamos falar um pouco sobre o que algumas curiosidades da Páscoa em diferentes locais do mundo.
Moisés era filho adotivo de Rajputset (Rainha do Egito) e rejeitou a escravidão sobre seu povo, cuja atitude drástica foi a de matar um egípcio. Após executar as dez pragas do Egito, Moisés migrou para o deserto e abdicou da vida de luxos no palácio da mãe adotiva.
Curiosidade da Páscoa Cristã
A data da festa de Páscoa cristã foi discutida no Concílio de Niceia e é um consenso, hoje, que a celebração ocorra no primeiro domingo depois da Lua Cheia do Equinócio da Primavera no Norte(Equinócio de Outono para nós, aqui no sul da Terra). Desta maneira, a Páscoa tem relação direta com esse evento natural. É importante que seja na Primavera, período adorado em todo o mundo antigo, pois celebra-se a passagem do Inverno, escasso, para a Primavera abundante. Nessas civilizações Antigas, o frio era muito rigoroso, muitos morriam de fome e hipotermia. O Equinócio, então, marca o fim desse período sombrio e o começo da luminosa Primavera, que esbanja o novo, fertilidade, (re)nascimento.
Símbolos da Páscoa
Um aspecto interessante é a junção de várias tradições nos símbolos da Páscoa. Os ovos de chocolate, os ovos em si e o coelhinho. Nas línguas inglesas e germânicas, ligadas ao povo Celta, os “pagãos”, – termo usado nas celebrações desse período (o Sabbat de Ostara no Equinócio) é derivado da palavra Eostre (que, em inglês, deu origem ao Easter ; e em Alemão ao Östern).
Crenças dos Celtas
Eostre é deusa anglo-saxônica da fertilidade e do renascimento, símbolo do equinócio da primavera. Os celtas deixaram seu legado pela força dos símbolos e do profundo conhecimento dos eventos da natureza e o contato com Deus a partir dela. Quando o cristianismo colonizou esses povos, já existiam as celebrações do Equinócio de Primavera (Ostara) e da primeira colheita (Sabbat de Beltane) no 1º de maio. Eles faziam oferendas, danças, fogueiras, banquetes para a Deusa, a Mãe Natureza. Os Celtas tinham, assim como os Judeus e todos os povos antigos, a cultura de festejar as passagens e as colheitas e para se proteger da ira de Deus, os fins, a morte. A título de curiosidade, a Roda do Ano Celta contém oito Festivais sagrados. A lebre e o ovo são símbolos de fertilidade do Festival de Primavera Celta e da própria Deusa Eostre e também são os símbolos da Páscoa hoje.
Maria Madalena e o ovo
Outra lenda associada aos ovos é uma com Maria Madalena. Conta-se que depois da Ressurreição, Maria foi levar as boas novas ao Imperador Tibério em Roma. Chegou lá ao banquete, e contou ao Imperador. Imediatamente, e descrente ele zombou dela, dizendo que se isso fosse tão verdade, o ovo branco na mão dela ficaria vermelho. Ao proferir essas palavras, o ovo imediatamente mudou de cor, na frente de todos. O Ovo, portanto, se tornou um símbolo da ressurreição de Cristo.
Ciclo Lunar
Para finalizar esse artigo repleto de curiosidades, o ciclo lunar não poderia ficar de fora. Como a Páscoa ocorre sempre no domingo após uma Lua Cheia, é sempre na fase Minguante da Lua que ela é celebrada. Não é à toa que a libertação seja a grande virtude do dia. A fase minguante carrega justamente o arquétipo da transmutação, da limpeza e da liberação. Por isso é tão valioso pensarmos e refletirmos nesse feriado.
Muito mais do que apenas os ovos de chocolate
Esses e muitos outros símbolos da festividade mostram a importância histórica e o valor simbólico que ela carrega e nós a levamos no nosso inconsciente compartilhado coletivo. Muito mais do que apenas os ovos de chocolate que garantem fertilidade ao Capitalismo, a fertilidade de verdade precisa ser pensada. “Fertilidade de quê? Estou renascendo em quê?” Dado que passamos por uma temporada de eclipses que bagunçou e reorganizou tudo, quem você é agora? Quem você está se tornando?
Enfim, desse caldo de elementos da cultura cristã (a história Bíblica), da simbologia e cultura judaica e pagã, a mensagem final é essa: Liberar para renovar. O domingo, dia 20, que celebraremos a Páscoa nesse ano de 2025, mais do nunca, pede que renovemos nossas crenças, pensamentos e esperanças. Afinal, sempre foi sobre ser uma versão melhor de si, o feriado é só uma pausa coletiva para pensar sobre. Pode cair no chocolate, mas caia também na meditação das suas escolhas e dos seus sacrifícios, tá bem? Equilíbrio é tudo nessa vida.
Boa Páscoa!
*Texto de Luiza Carisio