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O que é o ego?

Na visão do mestre indiano Osho, ego é exatamente o oposto do verdadeiro eu. O texto a seguir, adaptado de O Livro do Ego (ed. BestSeller), resume parte das reflexões do guru na tentativa de elucidar esse conceito e não se deixar enganar por ele

O que é o ego? – Shutterstock
Osho não pedia às pessoas para acreditarem no que ele dizia. Queria que cada uma experimentasse, por si só, se o que ele estava dizendo era verdadeiro ou não. Dessa forma, falou sobre o ego. As passagens a seguir foram compiladas pela ed. Record de palestras proferidas ao longo de 30 anos. “Quando nascemos, temos nosso eu autêntico. Depois, a sociedade cria um falso eu: você é cristão, você é católico, você é branco, você é alemão, faz parte da raça escolhida por Deus e deve governar o mundo, e assim por diante. Ela cria uma falsa ideia de quem são as pessoas. Ela lhes dá um nome e, em torno do nome, cria ambições, condicionamentos. E, pouco a pouco, trabalha o ego dos indivíduos através da escola, da igreja, da faculdade… No momento em que volta da universidade para casa, você já esqueceu completamente seu ser inocente. Você agora é um grande ego com uma medalha de ouro, é da primeira classe, está no topo da universidade. Agora está pronto para ir para o mundo.
E isso nunca lhe permite nem mesmo um vislumbre de seu eu autêntico, real, e sua vida está lá, em sua autenticidade (…). A pessoa que busca a verdade tem de começar exatamente a partir desse ponto: descartar tudo o que lhe foi dito pela sociedade em relação a quem ela é. Com certeza, ela não é nada disso, pois ninguém pode saber quem o outro é, exceto ele próprio. Nem os pais, nem os professores, nem os padres. A não ser você mesmo, ninguém pode entrar na privacidade de seu ser. Logo, ninguém sabe nada sobre você, e o que quer que tenham dito a seu respeito está errado. Coloque isso de lado. Essa descoberta é a maior possível, porque dá início a uma peregrinação totalmente nova em direção à felicidade suprema. É possível optar pela frustração, pelo sofrimento, pela infelicidade e, então, continuar a alimentar o ego. Ou pode escolher a paz, o silêncio, a felicidade, mas, nesse caso, é preciso recuperar a inocência.
O ego do homem é a fonte de todos os seus problemas, de todas as guerras, de todos os conflitos, de todo ciúme, medo e de toda depressão. Sentir-se um fracasso, comparar-se continuamente com os outros, faz com que todo mundo se machuque, e se machuque bastante, porque ninguém pode ter tudo. O ‘eu’ é necessário para que cada pessoa chame a si mesma, mas é apenas ficção. Se a pessoa penetrar fundo dentro de si, vai descobrir que o nome desapareceu, que a ideia do ‘eu’ desapareceu, e que restou apenas um ser puro, uma existência (…). O ego é, portanto, apenas uma ficção útil. Use-o, mas não se deixe enganar por ele.
 
NÃO PERGUNTE AOS OUTROS
Essa é a primeira lição a ser aprendida. Cada um deve perguntar a si mesmo. E, então, lembre-se também de evitar aquelas respostas que os outros já colocaram lá e que virão à tona. A questão é de cada um, e a resposta também tem que ser de cada um. Buda bebeu e está satisfeito. Jesus bebeu e está em êxtase. Eu bebi, mas de que forma isso vai ajudar a sede de seja lá quem for? Cada um terá de beber por si. Ouvi uma história sobre dois vagabundos que estavam sentados debaixo de uma árvore, conversando. Um deles disse: — Cheguei a este estado porque nunca ouvi o conselho de ninguém. — Irmão, cheguei até aqui porque segui o conselho de todo mundo – disse o outro. A jornada tem que ser de cada um.
 
ALEXANDRE, O GRANDE, E O MENDIGO NU
Alexandre, o Grande, encontrou Diógenes, que era um mendigo nu, com apenas uma lâmpada, sua única posse. E mantinha sua lâmpada acesa mesmo durante o dia. Ele, obviamente, estava se comportando de maneira estranha, e até mesmo Alexandre teve de lhe perguntar: — Por que está mantendo essa lâmpada acesa durante o dia? Ele levantou sua lâmpada, olhou para o rosto de Alexandre e disse: — Estou procurando pelo homem de verdade dia e noite, e não o encontro. Alexandre ficou chocado por um mendigo nu poder dizer esse tipo de coisa a ele, um conquistador do mundo. No entanto, ele podia ver que Diógenes era muito belo em sua nudez. Os olhos eram tão serenos, o rosto tão pacífico, suas palavras tinham tanta autoridade, sua presença era tão tranquila, que o próprio Alexandre parecia um mendigo do lado dele. Ele escreveu em seu diário: ‘Pela primeira vez senti que a riqueza é algo diferente de ter dinheiro. Eu vi um homem rico’.
A MENTE ESTÁ SEMPRE MENDIGANDO
Um mendigo bateu na porta do palácio. Por acaso, o rei estava saindo para sua caminhada matinal no jardim, de modo que ele próprio abriu a porta.
— Este parece ser um dia de sorte para você — disse o mendigo.
— Para mim ou para você? — falou o rei.
— Isso será decidido no fim do dia. Sou um mendigo, e peço apenas uma coisa. Tenho essa tigela de esmolas. Pode enchê-la com qualquer coisa que você queira?
O mendigo parecia um pouco estranho. Seus olhos eram os de um místico, e seu discurso não era o de um mendigo, e sim de um imperador. O rei ordenou que seu primeiro-ministro enchesse a tigela do mendigo com moedas de ouro, para que pudesse lembrar que batera na porta de um rei, e que ele foi um afortunado. (…) E, então, o problema começou. Quando o primeiro-ministro trouxe um saco de moedas de ouro para encher a tigela, todas desapareceram, e a tigela permaneceu vazia. Mais moedas, mais moedas… Diamantes, rubis, esmeraldas. Tudo desapareceu na tigela, que permaneceu vazia. Por fim, o rei perdeu tudo. Era noite. O rei era teimoso, mas agora não adiantava, ele não tinha mais nada para dar. Ele caiu aos pés do mendigo e lhe perguntou o segredo da tigela: (…)
— Basta olhar atentamente para a tigela. Ela é feita do crânio de um homem. Dentro do crânio do homem está a mente. Despeja-se tudo nela e tudo desaparece. Ela está sempre pedindo mais, e está sempre vazia. Ela é sempre um mendigo, não se pode mudar isso. A única coisa que pode ser feita é compreendê-la – esclareceu o mendigo. Esta é a sua situação também. Você não conseguirá satisfazer a si mesmo se ouvir a mente; no entanto, se não ouvir a mente, nesse exato momento a satisfação será toda sua.
 
PODER
Há, com certeza, um poder que não tem nada a ver com a dominação sobre os outros, mas o poder de uma flor abrindo suas pétalas… alguém já viu esse poder, essa glória? Alguém já viu o poder de uma noite estrelada, e que não domina ninguém? Alguém já viu o poder da menor folha dançando ao sol, na chuva, com sua beleza, sua grandeza, sua alegria? Não tem nada a ver com ninguém mais. Ela não precisa nem mesmo ter alguém para vê-la. Essa é a verdadeira independência. E traz o indivíduo para a fonte de seu ser, de onde sua vida surge a cada momento. Mas esse poder não deve ser chamado de poder, porque cria confusão. A própria palavra ‘poder’ significa ‘sobre alguém’. Mesmo as pessoas de grande esclarecimento não foram capazes de enxergar. Na Índia existe uma religião, o jainismo… a palavra jaina significa “o conquistador”. O significado original, com certeza, é o que é citado na pergunta formulada: o poder que surge dentro do homem como uma pétala que abre e a flor que libera seu aroma. Porém, procurei fundo na tradição do jainismo. Quando eles chamam um homem de ‘conquistador’, também dizem a seu respeito que ele conquistou a si mesmo.
AUSÊNCIA DE EGO
Como abandonar o ego quando não se consegue distinguir entre o que é esse conceito e o que é a verdadeira natureza? A resposta é que o ego não pode ser abandonado. É como a escuridão, não se pode abandonar a escuridão, pode-se, apenas, introduzir a luz. No momento em que há luz, a escuridão deixa de estar presente. (…) A meditação funciona como uma luz, a meditação é a luz. Basta olhar dentro de si. Ela encontrará sua própria natureza, luminosa, perfumada como uma for de lótus. Não depara com tal beleza em nenhum outro lugar. É a experiência mais bela da vida. E, depois de ter visto sua própria lótus de luz, sua própria lótus florescendo, o ego está acabado, para sempre. Daí não vai fazer essas perguntas sem sentido. ‘Como distinguir’, você diz, ‘entre o que é o ego e o que é a minha verdadeira natureza?’. Ou o ego está lá, e, então, a verdadeira natureza não é conhecida, ou a verdadeira natureza é conhecida, e, então, não há nenhum ego.
 
AMOR-PRÓPRIO OU EGOMANIA?
A diferença é sutil, mas muito clara. O egomaníaco vai criar cada vez mais sofrimento para si. Tornará o homem cada vez mais nervoso, não permitirá que ele relaxe de jeito nenhum. O amor-próprio é exatamente o oposto. No amor-próprio não há o ‘eu’, apenas o amor. Na egomania não há amor, apenas o ‘eu’. (…)
O primeiro e mais básico passo em direção ao amor é o amor por si mesmo, sem que haja o ‘eu’ nele. Deixe-me explicar. O ‘eu’ surge apenas como um contraste ao ‘tu’. O ‘eu’ e o ‘tu’ coexistem. O ‘eu’ pode existir em duas dimensões. Uma dimensão é o ‘eu-coisa’: você-sua casa; você-seu carro; você-seu dinheiro. Esse ‘eu’ não é consciente, ele está dormindo profundamente. (O que quer que a pessoa ame, é no que ela se torna. O amor é alquímico. O homem nunca deve amar a coisa errada, porque ela vai transformá-lo. Nada é tão transformador quanto o amor.) Se a pessoa estiver cada vez mais infeliz é porque está a caminho de tornar-se egomaníaca. Se estiver cada vez mais tranquila, calma, feliz, centrada, então ela está em outro caminho, o caminho do amor-próprio. Se estiver no caminho do ego, vai se tornar destrutiva em relação aos outros. Se estiver se movendo em direção ao amor- próprio, a pessoa permite que o outro seja ele mesmo, pois ela lhe dá total liberdade.
Deixe-me contar uma anedota. O rosto de Mulla Nasruddin iluminou-se quando reconheceu o homem que descia as escadas do metrô à sua frente. Ele deu um tapa tão entusiasmado nas costas do homem que este quase caiu, e gritou:
— Goldberg, quase não te reconheci! Pudera, você ganhou 15 quilos desde a última vez em que o vi. E você consertou seu nariz, e posso jurar que está 10 cm mais alto. O homem olhou para ele, irritado.
— Desculpe, mas não sou Goldberg.
— Ah! — disse Mulla Nasruddin —, então você também mudou de nome?
O ego é muito astuto e tem alta capacidade de autojustificação. Se a pessoa não estiver muito atenta, ele pode começar a se esconder atrás do amor-próprio. (…) O ‘eu’ é falso, o você’ é falso, mas são utilitários, são úteis no mundo. Seria difícil administrar o mundo sem o ‘eu’ e o ‘você’. Eles devem ser usados, mas são apenas artifícios do mundo. Na realidade, não há nem o ‘você’ nem o ‘eu’. Existe algo, alguém, alguma energia, sem limitações, sem fronteiras. Dela chegamos e dentro dela desaparecemos novamente.”

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