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Tempo de serenidade: Aprenda a ter paciência e retomar o ritmo da sabedoria

É possível retomar o ritmo da sabedoria e se posicionar na vida com um pouco menos de inquietação e um pouco mais de tranquilidade e centramento

Tempo de serenidade: Aprenda a ter paciência e retomar o ritmo da sabedoria – MAX RIVE

Esta é uma época ansiosa. As novas tecnologias nos
acostumaram a obter estímulos e respostas imediatos e a falta de retorno
instantâneo para uma mensagem – de e-mail ou celular – já é capaz de nos tirar
do eixo. Difícil imaginar que a humanidade já se correspondeu por cartas
transportadas de navio. Outros tempos, outro ritmo. Não se trata de uma ode à
nostalgia: o passado foi diferente, não necessariamente melhor – mas isso
significa que há outro jeito de vivenciar a expectativa.

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“Penso que a impaciência ocorre quando a ansiedade
nasce de uma falta de propósito – essa inquietação é mais rara quando a espera
vale a pena”, pondera George Barcat, professor da Associação Palas Athena, em
São Paulo, organização sem fins lucrativos dedicada à filosofia e à qualidade
de vida. Como você espera é um reflexo do que você realmente espera. Uma
perspectiva mais positiva diante da vida só é possível quando há uma crença
anterior de que problemas fazem parte da jornada e de que, no mínimo, algum
aprendizado sempre pode ocorrer.

“Diante do abismo, o único passo seguro é para trás”,
ensina o filósofo, que ministra um curso intitulado Sabedorias da Lentidão, na
Palas Athena. O abismo em questão é a imprevisibilidade da vida e esse passo
para trás nada mais é do que uma certa cautela para encontrar o significado
daquilo que se vive. Você pode se permitir esses instantes no dia a dia. Pense
bem: poucas são as situações que realmente requerem respostas instantâneas,
como frear o carro diante de um animal na estrada.

Por lentidão, pode-se entender aqui o tempo necessário,
simplesmente. Se um imprevisto aparece ou se alguém lhe faz uma pergunta
invasiva, uma cobrança desmedida, uma crítica precipitada – tudo isso pode
esperar os segundos necessários para uma organização interior. Quando se
respeita o tempo das coisas – e, em especial, quando você consegue acatar o seu
próprio tempo –, é natural reagir com serenidade e compaixão com o outro e
consigo mesmo.  É possível tirar o ego do
embate e observar cada situação com inteligência e sensibilidade.

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Paciência, portanto, é uma forma de se posicionar
diante da vida, um exercício constante de boa vontade e de generosidade. Vez ou
outra, você vai se deslocar desse eixo, mas é possível deter o impulso da
ansiedade tão logo o perceba para se retomar o estado inicial de empatia
consigo e com o outro. A pressa é áspera, ríspida – com um pouco mais de
paciência, você se torna uma pessoa mais atenciosa e gentil. Ouve melhor. Fala
melhor. Sente-se melhor.

O estilo de vida contemporâneo, especialmente o urbano,
ao mesmo tempo que nos proporciona vantagens como o saneamento básico, o fácil
acesso a uma série de recursos materiais e o compartilhamento de ideias e
opiniões, também nos toma a tranquilidade dos comportamentos naturais. “O nosso
estado saudável reproduz os ritmos da natureza”, ressalta a psicóloga e
escritora Patricia Gebrim. Sem os estímulos da tecnologia, das metas a cumprir
e dos prazos a expirar, seríamos naturalmente mais serenos. O fato é que isso
ainda pode ser feito nos dias de hoje, desde que você se predisponha
internamente à tolerância.

“Do modo como vivemos hoje, somos instados a dar
respostas rápidas e a tecnologia, que poderia nos proporcionar tempo para
cuidar também de nossa alma, tornou-se uma fonte de cobranças cada vez mais
constantes”, diz Patricia. Pelo celular ou via internet, o trabalho encontra
você onde quer que esteja, mesmo em dias e horários inoportunos. E nos tornamos
cúmplices desse processo. “Passamos a exigir de nós mesmos corresponder a essas
solicitações, quase como se estivéssemos nos tornando máquinas também”, adverte
ela.

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Paciência é um tipo de ativismo
De certa forma, a prática da paciência acaba se tornando um ativismo. É uma
postura determinada, pulsante, mesmo quando se manifesta pela tranquilidade,
como o eu lírico da canção Paciência, de Lenine. “Enquanto o tempo acelera e
pede pressa/ Eu me recuso, faço hora, vou na valsa/ A vida é tão rara…”
Porque “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma/ Até quando o corpo pede
um pouco mais de alma/ A vida não para”. Então, quem precisa parar é você.

Isso requer que se evitem, com antecedência, as
circunstâncias que lhe causam inquietude. É preciso estabelecer limites
saudáveis, dizer não. Algo relacionado com autoconhecimento e autoestima. O primeiro,
para entender quais são os seus valores e o que deixa você desconfortável; e, o
segundo, para fortalecer a consciência de que tem direito de se posicionar
diante de uma situação que considere abusiva, no relacionamento, na família, no
trabalho ou na vida social.

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“A felicidade exige um equilíbrio entre demandas
externas – trabalhar, relacionar-se, ganhar dinheiro – e necessidades internas
– relaxar, contemplar, conhecer-se, sentir”, enumera Patricia. Quando não há
esse equilíbrio, podemos adoecer. Um dos maiores perigos de aceitarmos tudo sem
darmos limite às outras pessoas é o acumulo interno de pressões. “Essa represa
pode um dia romper e provocar uma inundação de agressividade”, destaca o
psiquiatra Rogerio Panizzutti, professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.

A psicóloga Patricia Gebrim explica que a impaciência
costuma ser um sintoma associado à frustração de quem alimenta a ilusão de que
pode controlar todos os aspectos da vida. “A busca por controle é uma tentativa
de evitar o sofrimento. Mas isso gera um estado de tensão constante, uma vez
que, por mais que nos esforcemos, a vida sempre nos surpreende.”

Menos controle
O antídoto seria a consciência de que se fará o melhor possível em cada
situação. Nem mais nem menos. “Não se trata de nos tornarmos passivos. Mas, se
já fizemos tudo o que poderíamos ter feito, seria sábio que entregássemos o
resultado e nos dispuséssemos a aceitar o que quer que viesse em nossa direção.
Temos de compreender que nunca seremos perfeitos”, diz Patricia.

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O ator e professor de teatro Leonardo Birche, 23 anos,
sofria muito em situações de espera cotidianas, como em fila de supermercado ou
em ponto de ônibus. “Acredito que a minha impaciência vinha do medo de perder
tempo. Com aulas, ensaios, trabalho e até diversão para dar conta, entrava em
desespero.” Isso só melhorou com um ajuste pontual em sua rotina. Leonardo
morava em São Bernardo e fazia todas essas atividades em São Paulo, distante 22
quilômetros. Seu caso era um certo excesso de otimismo: programava muitas
coisas para um mesmo dia, que só dariam certo em um mundo ideal. Agora, morando
em São Paulo, ele consegue fazer o que considera importante, sem precisar sair
tão cedo de casa nem chegar tão tarde e cansado. O problema, como se vê, não
era a vida, mas uma circunstância. E paciência também é perceber que o contexto
pode mudar.

Às vezes, só é preciso diminuir a velocidade, como fez
a analista financeira Raquel Bixofis, 44 anos. Ela controla as finanças de
quatro empresas, é separada e cuida de quatro filhos e da mãe. Já ficou anos
sem férias e chegou a dormir no escritório para dar conta de todo o serviço.
Descontrolava-se facilmente por causa de tantas responsabilidades sobrepostas.
Hoje, após as oito horas regulamentares no escritório, Raquel desliga o
computador e segue para casa. Não perde o humor e se concentra para manter a
cabeça e o corpo presentes quando está com os filhos.

Permanecer integralmente presente sempre foi um dos
pilares das sabedorias orientais, seja pela filosofia budista, seja pela
prática da ioga, entre outros segmentos. “A ioga funciona como um manual de
instruções sobre como viver bem”, argumenta Swami Shiva Maheshwara, presidente
da Sociedade Brasileira de Yoga Integral. “A maioria das pessoas só procura as
aulas quando já está doente e estressada pela vida que levam. Faz-se tudo com
pressa: trabalho, alimentação, interação social e mesmo sexo.” Não precisa ser
assim. E não precisa ser uma mudança radical e instantânea.

O mestre iogue conta que, no começo, essas pessoas mais
agitadas precisam exercitar posturas dinâmicas, até que desenvolvam a
concentração necessária para exercícios que requerem maior presença. “Meditação
é o ato de acalmar as ondas mentais e observar essa calmaria”, ele ensina.
Desenvolver essa habilidade é um processo. A recuperação da tranquilidade
interior também toma seu tempo e requer, veja só, um pouquinho de paciência.