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Com a casa e a alma em ordem…e em paz

Dizem que, se precisarmos mudar alguma coisa na vida, um bom começo é trocar os móveis de lugares. Dessa forma lúdica, entramos em contato com as nossas próprias emoções e damos início a uma arrumação que atua de fora para dentro

Com a casa e a alma em ordem…e em paz – Shutterstock
A primeira coisa que a consultora Marie Kondo faz quando chega à casa dos clientes, no Japão, é ajoelhar no centro da morada e dirigir-se a ela mentalmente durante dois minutos. Com esse ritual, pede licença para entrar e solicita que aquele lar a ajude a criar um ambiente onde os moradores possam ser mais felizes. Afinal, como pode o espaço que nos abriga e protege, que está sempre lá, nos esperando voltar de um dia de tantos e tamanhos desafios, ser maltratado?
Marie acredita que a casa desempenha um papel fundamental na vida de seus ocupantes. “Você não encontrará ninguém mais generoso e acolhedor”, diz. Livrá-la da bagunça é um gesto de gratidão. Marie é autora do best-seller A Mágica da Arrumação – A Arte Japonesa de Colocar Ordem na Sua Casa e na Sua Vida (ed. Sextante). Os livros dela já venderam mais de 2 milhões de exemplares pelo mundo e há uma lista de espera de meses para ter aulas particulares com a guru, dona de uma visão tão cheia de sutilezas quanto de ensinamentos práticos, eficientes e definitivos. “Posso dizer pelos meus anos de experiência ensinando organização e encontrando leitores dos meus livros, que as pessoas geralmente se sentem mais positivas sobre a vida delas quando a casa está arrumada”, revela Marie.
Ordenar o que está fora repercute internamente. O caos perturba as emoções. “Em geral, a bagunça gera angústia e insegurança”, afirma a psicoterapeuta Ana Gabriela Andriani, de São Paulo. “Já pertencer a um ambiente minimamente harmonioso ajuda, como reflexo, a desenvolver atitudes e pensamentos mais equilibrados”, acrescenta a psicóloga comportamental Thaiana Filla Brotto, de São Paulo.
 
Templo dos objetos felizes
Acabar com a bagunça parece ser uma tarefa intuitiva. Talvez porque a maioria de nós acredite que ordenar é guardar tudo em seu devido lugar. Mas o verbo aqui não é guardar, é descartar. “Muita gente identifica objetos com as pessoas ou os lugares relacionados a eles. Isso cria uma ligação emocional”, diz Marie. Mas esse hábito pode se tornar algo ruim se levar ao acúmulo de itens e dificultar a eliminação de qualquer pertence. Para vencer a tarefa de selecionar, ela propõe perguntar-se: “Esse item realmente traz felicidade para o meu atual momento?”. Ao abrir o armário, por exemplo, em vez de passar os olhos nas roupas e concluir que tudo ali é interessante, pegue uma por vez. “Ao tocar um objeto, o corpo reage. Pode parecer estranho para quem nunca tentou, mas, se você realmente segurá-lo, algumas vezes será capaz de perceber uma sensação percorrendo seu corpo. Eu chamo isso de faísca de alegria. Quando ela surge, significa que aquilo que você tem nas mãos deve ser guardado”, conta Marie. Nesse caso, pode se apegar sem medo. Na visão de Marie, os objetos sempre querem nos ajudar. Porque sempre desejam ser úteis.
 
Porta da motivação
Tentar colocar em ordem um cômodo por vez é uma armadilha. Há o risco de começar pela parte das recordações, a mais difícil porque exige um exercício maior de desapego. O ideal, ensina Marie, é estabelecer categorias e dar conta delas de uma só vez, reunindo no chão todos os itens daquele grupo. Comece por aquilo que se pode usar (roupas e acessórios), siga para o que tem valor informativo (livros, recibos) e, por último, encare os do setor emocional (fotos, presentes). Nesse detox, você vai se deparar com lembretes de quem realmente é e redescobrir dons que o tempo guardou.
A consultora conta que uma de suas clientes, que trabalhava com tecnologia da informação, encontrou nesse processo uma nova profissão. Ao terminar a arrumação dos livros, ela percebeu que as obras compradas quando ingressou no mercado para aperfeiçoar suas habilidades administrativas foram para o lixo. Só restaram as de bem-estar social. Então, ela olhou para a estante, lembrou-se dos tempos em que fazia serviço voluntário de babá e notou que queria mesmo era contribuir para um mundo em que as mães pudessem trabalhar sem a preocupação com os filhos. Um ano depois, ela completou o curso de serviço social, pediu demissão do antigo emprego e abriu uma empresa de babás. “Percebo que, quando as pessoas vivem em casas organizadas, a vida delas muda. Conseguem um trabalho melhor, um novo namoro!”, diz Marie.
 
Janela da aceitação
Há uma reflexão que deve ser feita quando você compartilha a casa com alguém: como organizar as áreas comuns, cheias de bagunça de familiares? Entenda que a regra do descarte é individual, e não coletiva. A tentação de jogar o sapato velho do marido, a roupa antiga da irmã e o celular quebrado do filho é grande. Mas, de acordo com Marie, a mania de apontar e querer consertar as falhas na arrumação dos outros pode refletir uma desordem no seu próprio espaço físico (se procurar nas suas gavetas, provavelmente vai encontrar muitos objetos que não deveriam estar ali) e mental. Afinal, deixar que os outros encontrem o próprio caminho para a ordem é um exercício de tolerância e compreensão.
Jardim das emoções
Pense naquele ambiente da casa que, de tanta desordem, já foi oficializado como o espaço da bagunça. Para lá vai tudo aquilo que você ainda não sabe se deve ser jogado fora. Ali dentro, empilhadas uma a uma, estão as decisões deixadas para depois. Uma hora elas começam a cobrar um posicionamento. Você acaba cedendo, se desfaz do mínimo que pode, recoloca as velhas lembranças em caixinhas novas e… o ciclo reinicia depois de um tempo. “Quem não consegue descartar o que não usa evita se colocar em situações de conflito”, diz Ana Gabriela. “Sempre que a gente escolhe, abre mão de algo. Se arrisca. Quem guarda tudo e se desorganiza evita esse processo.” Arrumar a casa é uma forma de fortalecer seu poder de decisão. “Às vezes, o interior está conflituoso e a gente não vê saída. É complexo lidar com essas questões mais profundas. Então, começar do externo, de fora para dentro, traz a sensação de que é possível vencer os bloqueios”, afirma Thaiana. Organizar dá início a uma conversa com a gente mesmo. Fazemos um inventário do que realmente gostamos e chegamos ao entendimento de quem somos e do que queremos ser. “Ao colocar tudo em ordem, você olha para o passado (o objeto antigo) e para o futuro (o que vai continuar usando). Tal processo ajuda a elaborar as emoções”, traduz Ana Gabriela. “Há beleza nisso porque é também uma tentativa de estabelecer uma ordem interna, de superar uma perda ou uma dificuldade e, enfim, mudar o rumo da vida.”
Para Thaiana, essas são formas lúdicas de aprender a dar passos maiores. “Quando tratamos um paciente, procuramos estabelecer uma hierarquia de exposição à dificuldade. Partimos do que é mais fácil naquele momento, com resoluções que estão ao alcance, para o mais complexo, como as decisões ligadas à família e ao trabalho.
Organizar a casa é uma arrumação de fora para dentro.” Uma pergunta que Marie propõe fazer toda vez que se sentir incapaz de descartar algo é: “Tenho dificuldade por apego ao passado ou receio em relação ao futuro?”. Viver em descompasso com o presente gera o desejo de consumir mais, para conseguir conforto momentâneo. E, então, a casa fica cada vez mais entulhada. Ao manter a ordem, você enxerga que tem muito mais do que imagina – e, provavelmente, do que precisa.
Altar da gratidão
Livrar-se de algo – uma roupa, um hábito – parece bem difícil. Mas facilita adotar uma relação positiva em relação a eles. “Agradeça a cada objeto pelo importante papel desempenhado em sua vida e permita que ele vá”, aconselha Marie. Mesmo que seja o presente de uma pessoa querida. “A maior alegria de presentear é vivida por quem dá. Quando você recebe, aquela felicidade já está expressa.” Por isso, não sinta culpa, experimente a gratidão.
Para Marie, o ato de dobrar ou guardar é uma expressão de amor e agradecimento pela maneira como os tecidos protegem nosso corpo e os itens que nos ajudam no dia a dia. “Quando agradecemos os objetos, valorizamos o que temos. Então, eles duram mais e tendem a ser guardados com carinho nos lugares certos. Isso economiza dinheiro e tempo, gerando prazer”, observa.
Assim como cada experiência é válida para definir quem somos, cada objeto cumpre uma função. A roupa que não caiu bem ajudou a mostrar o que não favorece seu corpo. O utensílio de cozinha ganho e que continua na caixa exerceu a função de expressar o carinho de quem deu. Mas é preciso libertá-los da prisão e deixar que sejam felizes em outro lugar. Não que a vida feliz esteja destinada ao minimalismo. Nada disso. É possível viver em um ambiente cheio de coisas e ainda assim manter a harmonia. O importante é que seu espaço faça sentido para você. E que cada mimo em cada canto alegre seus olhos e sua alma.
Lavanderia da mente
Esse processo interior foi o que levou a designer holandesa Barbara Sophia Tammes a repensar a vida e, como diz, “redecorar” a mente. Aos 28 anos, ela era diretora de criação de uma agência de publicidade internacional, viajava o mundo a negócios e tinha acabado de ganhar o prêmio máximo de sua profissão, um Leão de Ouro no Festival de Cannes, na França. Até que sua melhor amiga morreu acidentalmente e Barbara sentiu na pele a impermanência das coisas e a brevidade de uma vida.
Ela pediu demissão e começou a trabalhar de forma independente para companhias sustentáveis, que agem a favor do planeta. A experiência exigiu dela uma reorganização não só mental, mas também física: ela deixou os grandes centros urbanos e se mudou com a família para uma fazenda perto de Amsterdã, onde vive com o marido, os dois filhos, dois cachorros, cinco cavalos, alguns gatos e uma coruja. Barbara também escreveu e ilustrou um livro, Design Interior – Faça Uma Limpeza Mental, Organize Seus Pensamentos e Redecore a Sua Vida (ed. Alaúde), em que ensina a planejar uma nova morada para quem você é. Ela conta que o maior desafio da faxina mental é reconhecer que as sensações ruins, a insegurança e a ansiedade existem, em vez de se punir por ter de lidar com elas. E garante que a imaginação é o pontapé inicial para mudar. “Imagine que seus pensamentos são pássaros. Assim como faria com as aves, você não tenta pegá-los e não se irrita porque eles voltam. Apenas dá um nome a eles e os observa indo embora”, diz Barbara. No livro, ela nomeia espécies de pensamentos que incomodam. Como o papagaio, que repete exaustivamente o que os outros poderiam ter dito ou pensado; o mergulhão, que afunda naquela ideia negativa sobre você que se tornou uma convicção; e o curiango, sempre lamentando o quanto a vida é difícil. “Esse processo de reconhecer e identificar permite criar um distanciamento. Você deixa de confundir a sua essência com os seus pensamentos e se liberta deles.”
Outro caminho é construir uma capela para a alma e para o ego. “Defino o ego como uma irmã mais velha superprotetora que tenta me livrar de todo tipo de sofrimento. Ela é irritada, inflamável, desconfiada; faz tudo por uma boa causa. Mas preciso lembrá-la sempre de que posso cuidar de mim mesma, que aguento a dor, não preciso de status nem de ser o centro das atenções”, diz.
O SEGREDO PARA ENERGIZAR SEU GUARDA-ROUPA
No livro A Mágica da Arrumação , a consultora japonesa Marie A Mágica da Arrumação , a consultora japonesa Marie Kondo ensina que organizar as peças como se elas fizessem um movimento ascendente para a direita cria um ambiente harmônico. “Visualizar as roupas ordenadas tem um efeito calmante”, diz. Antes de começar, a regra número um é doar as que não trazem mais felicidade.
• Dobre o máximo possível de roupas e deixe nos cabides apenas aquelas que parecem felizes penduradas, como as peças de tecido esvoaçante e as de alfaiataria.
• Pendure as peças deixando-as apontadas para a direita.
• Da esquerda para a direita, a ordem básica é: casacos, vestidos, blazers, calças, saias e blusas.
• Desenhe mentalmente uma seta para a direita, na horizontal, e outra inclinada descendo para a esquerda: cada categoria começa com as peças mais compridas, pesadas e escuras e termina com as mais curtas, leves e claras.
• As meias devem ser dobradas, e não enroladas em bolas, que estragam os elásticos.

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