Setembro Amarelo: atenção aos sinais de quem pode estar passando por processo depressivo!

A campanha que ocorre no mês de setembro, conhecida como Setembro Amarelo, é um lembrete que ecoa o ano todo: como encarar a depressão e apoiar aqueles que a enfrentam.

Costumo dizer que a depressão é como perder a si mesmo no caminho. Em meu consultório, é comum ouvir as pessoas dizendo: “Antes eu era diferente, eu trabalhava com alegria, saía com amigos, tinha planos e sonhos. Agora, tudo parece sem sentido, sem cor”.

A depressão é isso. É você se olhar no espelho e não se reconhecer mais. É você olhar para o futuro e não conseguir enxergar nada e nenhum sentido para estar lá. É sentir uma tristeza e angústia que surge do nada.

O grande problema da depressão é que ela é extremamente traiçoeira, ela começa devagarzinho. Nós pensando que é apenas uma fase, que passará logo. Ela parece ser uma sombra passageira, até que te domina. Infelizmente, muitos apenas a percebem quando visualizam naquela sensação de estar no “fundo do poço”.

A depressão é o verdadeiro dementador de nossa mente e da nossa alegria. Apesar de parecer invisível, ela nos detona aos poucos e de maneira devastadora.

O diagnóstico de depressão é muito mais aparente para quem sente e, muitas vezes, até quem passa por ele acaba se questionando. É comum pessoas depressivas tentarem encontrar outros nomes para chamar a doença, a fim de escondê-la, muitas vezes para si mesmo: preguiça, frescura, cansaço ou até “uma fase”. E é aí que se instala um grande problema, já que a maioria das pessoas demora demais para buscar ajuda e, como toda a doença, se não cuidamos, ela se alastra, piora e fica mais grave.

Segundo dados da Ipsos (empresa de pesquisa e de inteligência de mercado) os brasileiros demoram em média três anos para buscar ajuda em relação à depressão. Muitos demoram por falta de consciência da doença, outros por medo do julgamento e, infelizmente, muitos demonstram resistência em buscar uma ajuda psiquiátrica, não conseguem admitir, não consideram ser uma doença e sentem como se fosse uma ‘falha’ ou fracasso ter essa doença.

Infelizmente, o preconceito pode custar caro. Três anos de vida perdidos é muito tempo. Imagine o que é você viver três anos com a doença na qual você não tem disposição para nada, não tem vontade de viver, tem pensamentos ruins que ficam atormentando a sua mente e prejudicam o convívio com as pessoas, o trabalho, a vida financeira, entre outros. Ou seja, são em média três anos de vida perdidos, três anos vivendo em extrema tristeza a qual muitos não aguentam e optam por desistir da vida.

Outro dado de pesquisa publicado pela revista Lancet mostrou que 80% das pessoas do mundo com depressão nem sequer sabem de seu diagnóstico e vivem essa vida como se fosse algo comum e rotineiro, com falsas crenças de que a “vida é assim mesmo” e fazem perpetuar algo que não é normal.

Por isso, é tão importante estar em alerta para os principais sintomas da depressão e, quanto antes, buscar ajuda. O grande alerta para mim, como médica psiquiatra, é quando a tristeza começa a ficar desproporcional em intensidade e duração, quando começa a prejudicar a vida, os relacionamentos, o trabalho, etc. Esse é o grande alerta para buscar uma ajuda médica e psicoterapia. Você não precisa esperar a depressão impedir que você levante da cama para buscar ajuda. É essencial aprender a se observar e notar as nuances de mudanças de comportamento e disposição.

Sinas que podem indicar as características de quem está em processo depressivo:

1. Perda do brilho: acontece quando uma pessoa gostava de fazer algo que já não tem mais graça. Parece que a vida fica em preto e branco. Não importa o lugar e nem as pessoas, a sensação é que tudo parece sem graça.

2. Alterações no sono: na depressão, é comum visualizarmos os extremos, ou seja, quando a pessoa fica extremamente sem sono ou quando tem um sono insecável e vontade de dormir o dia todo;

3. Perda de libido: é muito comum alterações em relação a desejo sexual e dificuldades em sentir desejo e dificuldade em atingir o clímax nas relações;

4. Alterações em relação à alimentação: uma pessoa depressiva pode tanto não ter vontade de comer quando comer muito, mesmo sem fome.

5. Alterações na cognição: não conseguir manter o foco e a atenção e cometer pequenos erros, além de sentir o pensamento mais lento.

6. Sensação de frustração e angústia: na maior parte do tempo, isso acontece sem motivo aparente. Muitas vezes a pessoa pode ter crises de choro, uma vontade de chorar sem o menor sentido aparente.

7. Pensamento tende para a negatividade: é como se a pessoa usasse um óculos que só permite ver a parte ruim das coisas. A autoimagem é prejudicada.

8. Cansaço extremo: alguns pacientes costumam descrever a sensação de ter uma coberta de chumbo que os impedem de levantar e fazer suas coisas. Por mais vontade que tenham, é como se alguma coisa estivesse impedindo que a pessoa siga em frente.

9. Sentir culpa: o paciente com depressão se sente inferior, tem pensamentos “autodepreciativos” que o fazem pensar que não merece mais estar entre amigos, familiares, etc.

10. Pensamento de morte: os pensamentos de morte ou o desejo de se “automachucar” é um importante alerta.

Portanto, fique alerta se você não está bem ou conhece alguém que apresenta algum desses sinais. É muito importante buscar ajuda médica. A depressão é uma doença como qualquer outra que precisa ser tratada com medicamentos. E como toda doença, se a gente não cuidar, ela tende a piorar.

Hoje sabemos que depressão é o resultado de alterações neuroquímicas e é por isso que medicações são tão importantes. Ninguém sai da depressão apenas com pensamentos positivos, pois quem está com a doença não tem química para a produção desses pensamentos. Por isso, não adianta apenas querer ver o lado positivo, não adianta apenas ter fé, porque quem está com depressão tem dificuldade em tudo isso e simplesmente, muitas vezes, não consegue.

Além disso, também é importante investir na psicoterapia. Conforme a pessoa for ganhando mais força, é muito importante inserir elementos para melhora de qualidade de vida, como os exercícios físicos, boa alimentação, prática de meditação, ter boa rede de apoio, contato com amigos e com a natureza.

Atenção: se você não está bem ou conhece alguém que não está, faça a busca pela ajuda médica quanto antes!

Cuide-se e cuide de quem você ama.