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Carlos Solano – Cuia Guimarães

 “Todos os dias a
gente arruma os cabelos, por que não o coração?
”, perguntou, calmo e sorridente,
o pequeno grande sábio chinês, mestre Chen, em mais uma lição de
cultura oriental. Ele contou que tudo é mutação e que a transformação
é um princípio básico da vida. Mas “como vivenciar as mudanças sem sofrimento,
de forma que promovam benefícios?
”, perguntei. O sábio sorriu. “Só saber
ou pensar nisso não nos transforma, precisamos do impulso das intenções. Cada
ação renovadora, cada boa decisão movimenta a força interna da matéria, o
que vale para a casa, onde ritos e símbolos podem conduzir a uma mudança de
vida
.” Essa é a base do feng shui moderno, a terapia de ambientes que
reorganiza o imaginário da casa, que deve ser renovado e nutrido
constantemente, eu comentei. Foi então que o mestre me propôs um desafio:
despertar a força interna da casa onde estávamos, com as
ferramentas do feng shui. Aceitei, pois queria aprender a ser como
ele, calmo e sorridente… Escolhi um ritual de intenções chamado Traçando as
Nove Estrelas e usei o baguá, símbolo chinês para a Roda da Vida e que é
representado por uma figura octogonal ( veja ao lado ). Nela, cada setor
simbólico fala de um aspecto da existência, qualificado por um número chamado
“Estrela”: 1 é a mais yin, internalizada, e 9, a mais yang, ou exteriorizada.
Projetei o baguá sobre a planta da casa (alinhe o setor do trabalho com a
parede da entrada principal) para seguir o caminho das estrelas de um ambiente
a outro. Comecei pelo setor Trabalho ou Missão de Vida (Estrela 1); dali fui
para Relacionamentos (Estrela 2), Família ou Passado (3), Prosperidade ou
Expansão dos Dons (4), Saúde (5), Amigos, Benfeitores ou Ajuda do Céu (6),
Criatividade ou Futuro (7), Espiritualidade ou Autoconhecimento (8) e, por fim,
Sucesso (Estrela 9). Para cada um desses setores, eu li boas intenções em voz
alta, que ficaram anotadas e guardadas no local em um envelope vermelho
(simbolizando realização), com uns grãozinhos de arroz por dentro (abençoados,
antes, por uma prece). Ofereci um presente ao setor (uma flor, um objeto),
reforçando a intenção. Por fim, deixei nos cantos de cada ambiente visitado,
até o dia seguinte, algumas casquinhas de laranja (fruta que lembra um pequeno
Sol) para que “iluminassem” o trajeto.  Terminei o exercício, mas nada
miraculoso aconteceu. Será que não fiz esse dever direito? Mestre Chen abriu um
sorriso e disse: “Sendo o baguá um espelho da vida, percorrer esse caminho
dentro de casa é realizar essa trilha no coração. Com boas intenções, cada
momento pode ser um recomeço e a existência pode ser reconstruída sempre que
quisermos
”.   Num lampejo, entendi… Podemos cocriar com a vida, se
acolhermos as mudanças com boas intenções. Por isso, o sábio exercita sua
natureza positiva cultivando-a sem cessar. Lembrei-me do movimento de rotação
da Terra que constrói diariamente o frescor da vida nova. Meu coração
agradeceu, de um jeito calmo e sorridente, ao pequeno grande mestre.

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CARLOS SOLANO é arquiteto e escritor. Coordena a campanha
Vamos Plantar Um Milhão de Árvores e pesquisa com devoção a cultura popular, as
terapias da casa, a ecologia e o bem-estar. carlossolano.com.br