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Guru do aconchego

Criadora do blog Not So Big, que significa “nem tão grande”, a arquiteta britânica Sarah Susanka é adepta das casas modestas e adoráveis. Conversamos com ela

Sarah Susanka – Taylor Johnson
De acordo com a filosofia “Not So Big”, espaços pequenos podem fazer muito pela alma. Pode explicar?
 Um espaço realmente nos encanta quando é bonito e inspirador e, ao mesmo tempo, cumpre sua função sem esforço. Essas qualidades nada têm a ver com tamanho. Um ambiente singelo que realmente nos abraça e acolhe pode ser uma das coisas mais poderosas e cheias de alma que podemos criar. Ele reflete quem somos por dentro e nos faz sentir verdadeiramente em casa. Esse é o melhor reflexo que podemos ter. Um ingrediente-chave para a sensação de bem-estar. 
Como criar um “espaço para respirar” em nossos lares? 
Espaço para respirar é um local onde podemos relaxar antes de adentrar outras áreas da casa. Se atravessamos a porta da frente e de cara nos deparamos com uma sala bagunçada, bem, ali não há espaço para respirar. É abrupto e desconfortável. Mas, se há um vestíbulo ou uma pequena sala antes de se adentrar a área de convivência principal, é possível fazer uma transição graciosa. Esse respiro permite que a pessoa se descole da persona pública antes de assumir a persona mais introspectiva que a maioria de nós acessa no âmbito doméstico.
Como o gesto de cuidar da casa pode nos tornar mais conscientes acerca do momento presente e de nós mesmos? 
Lavar as janelas, aspirar a sala ou limpar o banheiro, todas essas tarefas podem ser feitas no estado de presença. O sentido das coisas reside na consciência do momento presente, e não nas atividades em si mesmas. A palavra favorita hoje em dia é “atenção plena”. É sobre estar aqui neste momento por completo.
Quais são os erros mais comuns que cometemos ao decorar a casa e qual sua sugestão para consertá-los? 
Um deles diz respeito à mania de acumular coisas ao longo da vida. Nós compramos com frequência, mas não nos desfazemos das coisas com a mesma constância. Assim a casa se enche de itens que tiveram algum sentido, mas que, com o passar do tempo, se tornaram apenas mais um objeto a ocupar espaço, sem enriquecer nossa vida como antes. Com isso, ela lembra um depósito de memórias envelhecidas. 
Os recursos do planeta estão cada vez mais escassos. Ao mesmo tempo, novos produtos não param de chegar às prateleiras. Como nossa casa pode contribuir para um mundo com beleza e menor impacto? 
Gosto de um pensamento do pai do movimento das artes e ofícios (iniciado na Inglaterra na metade do século XIX), William Morris: “Não mantenha nada que você não saiba para que serve ou não ache belo”. Se vivermos com base nessa premissa, teremos casas que alimentarão nossos espíritos, sem nos sobrecarregar com o excesso de coisas. Por isso, sempre que compro algo novo tento passar adiante uma peça que já não seja mais importante. Isso mantém as coisas em equilíbrio.
Um palácio não é a chave para a felicidade, Sarah? 
A palavra lar está ligada à qualidade, e não à quantidade. Construir uma residência enorme não necessariamente nos ajuda a nos sentir em casa. Se você deseja uma morada que ame, conceba cada espaço de maneira que tenha uso diário e ajuste-os ao seu jeito de viver, e não à maneira que lhe disserem ser a mais apropriada. E esteja convicto de que sua casa o agrada, que é bonita e o faz se sentir confortável. Essa é a verdadeira morada da felicidade.

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