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Pode ficar quieto

O jeito de ser reservado está em baixa nesses tempos de máxima extroversão. Mas não deveria. Como aponta a escritora Susan Cain, a introversão também tem talentos fundamentais ao mundo de hoje

Susan Cain – Aaron Fedor

Comunicar-se com desenvoltura, sendo capaz de expor sentimentos, ideias e opiniões com clareza, é uma competência vital tanto no trabalho quanto na vida íntima. Nesse e em tantos outros sentidos, a extroversão vale ouro. Acontece que seu reverso também tem muito a ensinar, como revela a escritora Susan Cain na obra O Poder dos Quietos – Como os Tímidos e Introvertidos Podem Mudar o Mundo Que Não Para de Falar (Agir). 

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De um terço a metade da população mundial é introvertida. Isso significa uma em cada duas ou três pessoas. Esse significativo grupo é formado por excelentes observadores – de si mesmos e do mundo. Aquele tipo sensível que capta com facilidade o que se passa ao redor e que sabe “ler” outros seres humanos. Varredura que rende profundos significados. Mereceria mais valorização, mas não é o que vem acontecendo. “Transformamos a extroversão num padrão opressivo que a maioria de nós acha que deve seguir”, aponta Susan. Quem disse que apenas os ousados e sociáveis têm mais chances de alcançar sucesso profissional? “Quando se trata de criatividade e de liderança precisamos dos introvertidos fazendo o que eles sabem fazer de melhor”, defende a autora. Esse perfil tem grande capacidade de concentração, de ponderação, de formular estratégias, além ser firme e assertivo com brandura, o que amacia o convívio e coloca as relações numa perspectiva mais construtiva. Um importante contraponto à aceleração, à impulsividade e ao gasto muitas vezes desnecessário de energia.
Além disso, os quietos tendem a ouvir e agregar sugestões de colegas e colaboradores com maior frequência. Sem falar nos preciosos momentos de quietude em que conseguem depurar ideias e obter revelações. Não por acaso, grandes artistas, pensadores e inventores ao longo da história foram legítimos introvertidos. “A solidão importa e para algumas pessoas é como o ar que respiram”, destaca a escritora. Que fi que claro. Introversão não é sinônimo de timidez. “Timidez é o medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto a introversão é a preferência por ambientes que não sejam estimulantes demais. A primeira é inerentemente dolorosa; a segunda, não”, diferencia Susan. No entanto, nada impede que esses dois perfis se sobreponham. Outro ponto importante: nem todos os reservados são iguais. “A introversão interage com nossos outros traços de personalidade e histórias pessoais, produzindo tipos de pessoas radicalmente diferentes”, esclarece.
Tampouco um jeito de ser está em desvantagem em relação ao outro. “Extrovertidos precisam de muita estimulação, inclusive social. Introvertidos se sentem mais vivos quando estão em um ambiente silencioso e calmo.” O segredo, segundo a especialista, é nos colocarmos nas zonas de estimulação que sejam mais favoráveis. “Quando entendermos isso, vamos valorizar e reconhecer mais o trabalho do quieto, assim como endossamos o do ousado e sociável. Cada qual com sua contribuição.”
Escritora e conferencista, Susan Cain nasceu em 1968 nos Estados Unidos. Formou-se em direito pela Harvard Law School e trabalhou muitos anos como consultora de negócios. Como boa introvertida, abandonou a carreira em favor de uma vida mais reservada. Foi então que passou a escrever sobre o tema da introversão no mundo contemporâneo. Além de seguir com suas pesquisas, ela viaja o mundo para participar de conferências sobre liderança, gerenciamento, treinamento e educação. Criou ainda um curso de expressão e comunicação em público destinado a introvertidos e o Quiet Leadership Institute para auxiliar organizações no treinamento de líderes introvertidos e na capacitação de crianças quietas. Mais informações: quietrev.com.