Publicidade
Renato Cymbalista, professor da Universidade de São Paulo – Reprodução
Renato Cymbalista, professor da Universidade de São Paulo, fala sobre as obras arquitetônica que promovem a conexão com uma ordem divina.
A arquitetura está na forma, função e nos materiais. E, dentro disso, há uma busca incansável pela perfeição. É o desejo de se aproximar de Deus? 
Há diferentes perfis de arquitetos. Alguns buscam atingir pelo seu trabalho espaços de transcendência, nos quais somos retirados do nosso tempo e espaço, da vida cotidiana, para uma esfera mais elevada. Um bom exemplo é a obra do jovem Rodrigo Cerviño Lopez ao projetar a Galeria Adriana Varejão, no Instituto Inhotim (centro de arte localizado em Brumadinho, MG). Mesmo o projeto tendo finalidades laicas, tem algo de espiritual que foi atingido lá. Mas, na nossa sociedade, as demandas são muito pragmáticas e urgentes. A arquitetura “espiritualizada, transcendental” é mais exceção do que regra hoje em dia.  
Como acessar esse segmento? 
Nós, arquitetos e urbanistas, temos que nos conscientizar e acolher as pessoas que querem falar com o(s) seu(s) deus(es). Independentemente de acreditarmos ou não no divino, precisamos nos qualificar nas múltiplas linguagens do sagrado.
As igrejas da Idade Média têm o pé-direito (distância entre o chão e o teto) altíssimo, representando que o homem é ínfimo em relação ao céu. Era uma imposição da Igreja ou a visão dos arquitetos sobre o poder de Deus?  
As catedrais desse período sempre podem ser analisadas como veículos de demonstração do poderio da Igreja e dos bispos (vide o Duomo, em Florença, com 115 m de altura, ou a antiga St. Paul Cathedral, de Londres, com 150 m). Devemos ter em vista que isso se apoiava em crenças que eram inquestionáveis e generalizadas em praticamente todos os segmentos da sociedade.

Publicidade