Por que Iemanjá se transformou em mulher branca no Brasil?
“Dois de Fevereiro, dia da Rainha. Que pra uns é branca, pra nós é pretinha”, canta Emicida, na música ‘Baiana’, que coloca em debate a cor da Rainha do Mar

“Dois de Fevereiro, dia da Rainha. Que pra uns é branca, pra nós é pretinha”, canta Emicida, na música ‘Baiana’, que coloca em debate a cor da Rainha do Mar
Domingo, 2 de fevereiro, é dias de Iemanjá. Em algumas capitais, é dia de oferecer flores brancas para a divindade afro-brasileira. Patrimônio cultural imaterial de Salvador, Belo Horizonte e Fortaleza, a festa de Iemanjá completa 103 anos de tradição na capital baiana. No entanto, uma questão sobre a Rainha do Mar intriga muitos praticantes da Umbanda e do Candomblé: a representação da cor de sua pele.
No Brasil, a representação de Iemanjá é como uma mulher branca, de longos cabelos lisos e vestida de azul. No entanto, essa representação gera questionamentos de estudiosos e praticantes dessas religiões, que afirmam que a verdadeira essência de Iemanjá se perdeu no sincretismo religioso e nos processos históricos de embranquecimento.
A questão da cor de Iemanjá não só reflete a inclusão de influências europeias e católicas na sua representação. Também está enraizada em processos coloniais que priorizaram a estética eurocêntrica. Assim, a história e a cultura dos africanos escravizados no Brasil sofreram adaptações para se ajustar às normas sociais dominantes da época.
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Helena Theodoro, pesquisadora em história comparada da UFRJ, afirma à BBC que a imagem de Iemanjá branca tem raízes no processo de colonização do Brasil, que impôs uma visão de superioridade europeia sobre os povos indígenas e africanos. “Houve uma demonização das religiões negras e indígenas a partir do que a Europa situou como sendo civilizado, humano”, explica.
Portanto, podemos comparar a representação de Iemanjá como branca ao embranquecimento de figuras religiosas como Jesus Cristo. No catolicismo, Jesus é geralmente representado com características europeias, o que muitos estudiosos afirmam ser resultado do domínio colonial e cultural europeu. Além disso, Iemanjá, que é uma energia de fertilidade e conexão com as águas, foi moldada por um processo de sincretismo com santos católicos, incluindo Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora dos Navegantes. Isso contribuiu para a popularização de sua imagem como uma figura branca, distante de suas origens africanas.