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Aquilo que gera

A analista junguiana Marion Woodman assegura que o bom balanço entre as energias masculina e feminina resulta na explosão da criatividade. Aquela força que fertiliza o imaginário para posteriormente deixar suas marcas no mundo

Marion Woodman – Keith Beaty – Contributor / Getty Images

Embora não percebamos, há uma dança em curso nas profundezas da alma. Masculino e feminino – energias opostas e complementares –, ora se entrosam, ora se apartam. Segundo a analista junguiana canadense Marion Woodman, expoente dos estudos sobre o feminino, o casamento ou o divórcio desses aspectos da personalidade, presentes tanto em homens quanto em mulheres, afeta diretamente a maneira de ser e estar no mundo. Para que nos tornemos seres inteiros, ela ensina, essas polaridades precisam se harmonizar dentro de nós. 

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O feminino está mais associado à apreciação dos caminhos percorridos do que com os resultados colhidos na linha de chegada. “A consciência feminina diz respeito ao processo. Considera como meta a jornada em si, e reconhece que o objetivo é aperceber-se dela. Ser é estar consciente do vir a ser”, escreve na obra A Virgem Grávida – Um Processo de Transformação Psicológica (ed. Paulus – esgotado no fornecedor). O masculino, em contrapartida, tem para estabelecer alvos e agir para que eles sejam atingidos. Objetividade é o talento. 
Recai ainda sobre o feminino a capacidade de estar presente no aqui e agora – sem projetar demais o futuro nem remoer o passado –, bem como o exercício cotidiano da receptividade – aceitar e acolher o que a vida traz. “O feminino é a amorosidade em cujo bojo cabem todos os conflitos, todos os processos físicos e psicológicos, que não devem ser rejeitados, mas amorosamente acolhidos”, defende. Já o masculino se relaciona às ideias de discriminação e discernimento. Movimentos assertivos em direção ao mundo. De acordo com a estudiosa, a união bem-sucedida dessas forças se expressa da seguinte forma: o masculino positivo tem a capacidade de honrar o feminino, despertando-o para sua própria assertividade, ao passo que o feminino positivo acorda o masculino para o seu próprio poder receptivo. Dessa parceria brota uma torrente de energia criativa à disposição das nossas empreitadas cotidianas. “É essencial que os dois lados trabalhem juntos para se construir o novo”, ensina a mestra. O método de trabalho da analista enfoca os sonhos e o corpo, dois canais de contato direto com o inconsciente. Seja por meio do conteúdo que nos visita durante o sono, seja pela expressão corporal terapêutica, as energias masculina e feminina vão emergindo para a consciência até encontrarem a vazão mais equilibrada no mundo concreto. Nem receptividade demais, o que pode levar à passividade, nem excesso de assertividade, que pode degringolar para o controle e a sede desmedida de poder. A dança deve encontrar o compasso mais ritmado possível. 
Um alerta: se não for internamente acarinhado, o feminino pode resvalar para a crueldade; o masculino, tornar-se tremendamente frio. Com isso, a alma adoece, como também o corpo. A não ser que, como bons dançarinos, aprendamos a calibrar as forças opostas e complementares que nos movem e nos conectam à vida em sua totalidade.
Nascida em 1928, no Canadá, Marion Woodman tornou-se analista junguiana aos 45 anos. Foi professora de inglês por quatro décadas até atravessar uma crise de meia-idade que resultou na descoberta de sua vocação como psicoterapeuta. Estudou por cinco anos no Instituto C. G. Jung, em Zurique, na Suíça, e retornou a sua terra natal para clinicar e se dedicar aos estudos do feminino, tema de vários livros, entre eles, A Feminilidade Consciente (ed. Paulus – esgotado no fornecedor) e O Vício da Perfeição (ed. Summus). Aposentou-se em 2008. Atualmente, três discípulas dirigem a fundação que leva seu nome. Mais informações:  mwoodmanfoundation.org.