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Cultivando as boas sementes

Para o monge vietnamita Thich Nhat Hanh, a consciência existe em dois níveis, como sementes e como expressões dessas sementes. Cada vez que deixamos uma delas se manifestar, ela gera mais espécies iguais. Por isso devemos ter cuidado ao selecionar o tipo de princípio que queremos ver brotar

Thich Nhat Hanh – Reprodução/ Facebook
Suponhamos que exista dentro de nós um grão de raiva. Em condições favoráveis, como diz Thich Nhat Hanh, no livro A Paz a Cada Passo (ed. Rocco), “essa semente brota como uma zona de energia, ela arde e nos faz sofrer. É muito difícil que possamos sentir alegria no momento em que essa semente se manifesta. Se sentirmos raiva por cinco minutos, novas sementes de raiva serão produzidas e semeadas no solo do nosso inconsciente”. 
Felizmente, o mesmo acontece com o sorriso e com a alegria. “Quando eu sorrio, as sementes do sorriso e da alegria estão brotando. Enquanto elas se manifestam, novas sementes de sorriso e alegria estarão sendo plantadas”, diz o mestre. Em contrapartida, ele também alerta: “No entanto, se eu não praticar o sorriso por alguns anos, essa semente se enfraquecerá, e eu talvez não consiga mais sorrir. 
Segundo o monge, há muitos tipos de princípios germinativos em nós, bons e maus, transmitidos por nossos pais, antepassados e pela sociedade.
Para entender como eles eclodem em nosso interior, Thich Nhat Hanh usa como metáfora um minúsculo grão de milho. Dentro dele existe o conhecimento transmitido pelas gerações anteriores, de como brotar e produzir folhas, flores e espigas. “Nosso corpo e nossa mente também têm conhecimentos que lhes foram transmitidos por gerações anteriores. Nossos ancestrais nos legaram sementes de alegria, paz e felicidade, como também sementes de tristeza, raiva, e assim por diante.” 
As sementes saudáveis funcionam como os anticorpos. Quando um vírus penetra em nossa corrente sanguínea, o corpo reage – os anticorpos vêm cercá-lo e transformá-lo. Um processo semelhante acontece com nossas sementes psicológicas na visão de do mestre. “Se plantarmos sementes revigorantes, salutares, curativas, elas tomarão conta das sementes negativas, mesmo que não lhes peçamos nada.“ 
Mas, para que isso ocorra, é preciso que cultivemos as melhores sementes com uma boa dose de devoção e responsabilidade. “Cada um de nós precisa de uma reserva de sementes que sejam belas, saudáveis e fortes o suficiente para nos ajudar nos momentos difíceis. Às vezes, quando a dor em nós é muito forte e concreta, mesmo que tenhamos uma flor à nossa frente, não conseguimos tocá-la. Se tivermos um depósito repleto de sementes saudáveis, podemos convocar algumas delas a se apresentarem para nos ajudar.” 
A ajuda pode vir na forma de uma amiga muito próxima. “Se você sabe que sentado ao seu lado, mesmo sem dizer nada, se sente melhor, poderá trazer essa imagem à consciência, e os dois poderão ‘respirar juntos’.” Em momentos difíceis, isso pode contribuir muito para você recuperar o equilíbrio interno. Com o tempo, insiste o monge: “Você mesmo deve se fortalecer no íntimo para que se sinta bem quando estiver sozinho. Precisamos praticar a plena consciência o tempo todo para plantar em nós mesmos sementes renovadoras, curativas. Mais tarde, quando precisarmos delas, elas cuidarão de nós.” 
Thich Nhat Hanh é um monge budista, escritor, poeta e pacifista. Nasceu no Vietnã em 1926 e foi ordenado aos 16 anos. Em 1967 foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por Martin Luther King Jr. É autor de mais de 70 livros espalhados pelo mundo, todos contendo a essência da sabedoria antiga habilmente adaptada aos tempos de hoje. Em estilo suave e lúdico, com sugestões criativas que podem ser usadas imediatamente, nos ensina que não é necessário esperar para mudarmos nossa vida. Tem viajado por Estados Unidos e Europa para fazer conferências e organizar retiros sobre a “arte de viver conscientemente”. Vive no sudoeste da França, na comunidade budista conhecida como Plum Village, cercada de vinhedos e campos de trigo, milho e girassol. 

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