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‘Edição de fotos não existe no mundo real’, psicóloga comenta perigos das imagens manipuladas nas redes sociais

Vivemos em um mundo em que é normal ouvirmos e até elogiarmos alguém por ter emagrecido. Mas você sabia que isso é tão prejudicial como falar que a pessoa engordou?

Com a proximidade do Setembro Amarelo, transtorno alimentar, depressão, ansiedade são gatilhos para o suicídio. – Unsplash/ Laura Chouette

Quantas vezes você já ouviu que alguém está mais magro, como forma de elogio? O pensamento de que magreza é sinônimo de beleza e que desenvolvemos culturalmente deve acabar. Para a psicóloga Fabiane de Faria, elogiar alguém pela sua perda de peso pode ser tão prejudicial do que comentar sobre o ganho.

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“O que pode parecer um elogio, muitas vezes é uma atitude incoerente e perigosa. Estamos acostumados a enaltecer sem nem mesmo nos perguntar o que está por trás dessa mudança. O elogio da perda de peso pode ser, na verdade, um elogio para um transtorno alimentar, uma depressão, um coração partido, ansiedade, luto ou até uma doença”, pontua a especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e idealizadora da plataforma de atendimento psicológico online, aterapia. 

No mais, dietas têm efeitos colaterais perigosos para a saúde mental. Para descobrir porque isso acontece, Fabiane de Faria esclarece as principais dúvidas sobre o tema a seguir. Confira:

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Dietas têm efeitos colaterais perigosos para a nossa saúde mental?

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Dietas podem, sim, ter efeitos colaterais em nossa saúde mental, no entanto, tudo depende da forma e do objetivo com que ela está sendo aplicada.

Tratar a dieta apenas como um meio para alcançar o emagrecimento puro e simples pode ser uma cilada.

Em nossa sociedade, a perda de peso tem uma conotação de sucesso, existe uma falsa ideia de que ao atingir este propósito, seremos felizes. Mas a realidade é um tanto diferente. Com tantos ideais de beleza inalcançáveis é muito difícil “chegar lá”. E aí, mesmo com a perda de peso, muitas pessoas se sentem profundamente desamparadas e insatisfeitas com suas vidas.

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Quer dizer que se eu emagrecer, eu não posso ficar feliz? 

Claro que pode. Seria hipocrisia dizer o contrário. Em um mundo onde o culto à magreza ainda é extremamente presente, emagrecer passa pelos ideais de felicidade e de objetivo alcançado.

No entanto, vale se atentar aos motivos que levaram ao emagrecimento e de que forma ele está sendo reforçado pela sociedade. A sua capacidade não está atrelada a perda de peso, seja feliz independente da forma do seu corpo.

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Cerca de 25% das pessoas que fazem dieta acabam desenvolvendo um distúrbio alimentar. Por que isso acontece? 

Dietas restritivas e com o único objetivo de emagrecer são um perigo para a saúde mental.

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Quando mal supervisionadas, as dietas podem levar o paciente a conceber crenças equivocadas sobre os alimentos. A principal delas é focar apenas no valor nutricional da comida, sem considerar que ela também tem outros papéis na nossa vida, como a socialização, o afeto, a memória, a cultura e o próprio prazer em comer. 

Uma dieta baseada apenas em contagem de calorias, demonizando alguns alimentos, pode desencadear transtornos alimentares. 

Por que a gente tende a achar que magra e linda são sinônimos?

Na nossa história, nos foi ensinado que existe um tipo de corpo certo.

Aprendemos isso através de nossa família, amigos, mídias sociais, pessoas de referência. Quantas vezes, quando emagrecemos, somos elogiadas? Alguns dizem: “olha que pessoa esforçada, conseguiu emagrecer”. Outros fazem questão de reforçar que estamos mais bonitos quando estamos magros.

Para além disso, somos ensinados que nosso valor está ligado à forma do nosso corpo e ao nosso peso. Existe toda uma construção social onde o magro é bonito, competente e esforçado, e o gordo que é feio, preguiçoso e desleixado. 

Como trabalhar a nossa mente para a autoaceitação? Como ver beleza em corpos distintos? 

É preciso uma mudança nas escolhas das pessoas que nos influenciam e nos conteúdos publicitários que consumimos. É preciso expor-se a diferentes tipos de corpos, diferentes tipos de beleza. Mudar esse olhar nos auxilia a enxergar além do padrão de beleza definido e nos aceitar como um corpo vivo e com suas peculiaridades. 

Deixar de seguir perfis das redes sociais com imagens irreais, manipuladas, já é um começo. Pode ser que aquele corpo desejado seja uma mentira.

Lembre-se: editores de fotos não existem no mundo real. Que tal procurar por alguém com um corpo parecido com o seu?

Evite comentar sobre a aparência de outras pessoas, aos poucos essa mudança de olhar também irá se virar a seu favor e te ajudará a diminuir os julgamentos e cobranças sobre o seu próprio corpo. 

Entrar em contato com a própria imagem pode ser difícil e sofrido, busque ajuda. Esse processo não precisa acontecer sozinho.  

Às vezes o emagrecimento vem carregado de dores e angústias mais graves que imaginamos, e não de glamour e alegria. Pode explicar melhor essa afirmação, por favor?

Em uma sociedade que valoriza a magreza a qualquer custo, o “ser magro” é sinônimo de “ser feliz”; a busca pelo “corpo perfeito” não é só sobre o corpo. É sobre amor, atenção, validação, liberdade, pertencimento, aceitação, controle ou qualquer outra coisa que surja como uma necessidade. Existe tanto sofrimento envolvido nessa aceitação que ela é inalcançável. E, mesmo se for possível chegar lá, ainda assim não será o suficiente