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Água: não deixe que ela acabe

Em agosto de 2008, nosso colunista Carlos Solano escreveu um texto emocionante sobre a água e como evitar seu desperdício. Resgatamos o texto hoje, quando se comemora o Dia Mundial da Água.

Dia Mundial da Água – Shutterstock

Preciso
urgentemente enviar uma carta! Mas, como não sei para onde remetê-la, decido
publicar o texto na esperança de que algum leitor possa encaminhá-lo para
mim. Na realidade, solicito a colaboração de todos. É uma carta para salvar as
águas, uma carta para as águas. Tive notícias, por fontes fidedignas, de que
elas – as águas – estão de partida para outro lugar. E tudo começou assim,
quando recebi esta misteriosa mensagem:

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“Prezado Solano,

Você
sabia que, daqui a 50 anos, a demanda por água em um mundo
superpovoado deve se tornar aguda? A falta já é sentida em muitos lugares.
Apesar de cobrir três quartos da Terra, 97% é salgada, 2% está nas
geleiras e apenas 1% é boa para o uso. Pedimos que, por um futuro
positivo, você valorize a água. Por isso, enviamos algumas fotos com a
expectativa de que elas mudem a convicção das pessoas enquanto é tempo. Nelas, a
água está congelada pelo médico japonês Masaru Emoto. Veja como a água pura 
da nascente revela padrões maravilhosos, que, quando ingeridos, tornam-se parte
do seu ser. Águas poluídas, ou estagnadas em reservatórios, mostram estruturas
distorcidas. Veja o efeito da música sobre a água e a vida. Algumas
cristalizam formas magníficas, e outras criam imagens assustadoras. As
gotículas se cristalizam em ressonância com aquela vibração.

As
fotos são evidência de que, com pensamentos e atitudes, você cria a realidade
em que vive. Que a paz e o cuidado alcancem seus menores gestos. Essa é a
nossa mensagem. A mensagem das águas.”

Pensei:
não é possível. A água? Com a qual matamos a sede? Com a qual varremos a
calçada e sempre abundante nas torneiras? Onde lançamos o esgoto?

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Após
o susto, eis minha resposta imediata:

Carta para salvar a água

“Sei
que você, água, não tem sido muito bem tratada – sem ela a vida evapora. O que
fazer para que não desapareça?

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sei. Evitaremos o desperdício. No sanitário, nada de lixo nem papel! A
descarga, para liberar o lixo, consome em média 12 litros de água. Com a
ajuda de 1 milhão de pessoas, pouparíamos 360 milhões de litros – o fluxo
das cataratas do Iguaçu por quatro minutos! Ao ensaboar as mãos, o corpo,
ao fazer a barba, a torneira ficará fechada – só aberta para enxaguar. Se sete
pessoas fecharem a torneira ao escovar os dentes, pouparemos o consumo de
uma criança por um dia! No chuveiro, passaremos a cantoria de 12 para seis
minutos, e a economia acenderá uma lâmpada por sete horas. Antes de lavar
vasilhas, vamos retirar os restos de comida, ensaboar e só depois abrir a
torneira. Para varrer o  chão, o jato de água fica abolido.
Usaremos vassoura e salvaremos uma caixa-d’água média por vez. Lavar
carros, hoje, só com balde.

Isso
é suficiente? Se não, outra idéia: coletar a chuva. O que fazemos com os
milhões de litros de água que caem do céu? Nada. É natural que esse
desprezo afete o seu sentimento. E é tão simples! Os coletores já existem:
são os telhados, as lajes e os pátios, que podem conduzir a água para uma
caixa. E a água da pia? Serve para a descarga. E a água dos legumes? Vai
para as plantas.

Quanto
às inundações, eu assumo: a culpa é nossa. A terra deu lugar ao asfalto, e as
águas não podem se infiltrar. Mas se usarmos mais paralelepípedos? E se
criarmos mais praças e parques para que a chuva penetre na terra e nutra as
nascentes?

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Mais
argumentos? Então, posso afirmar que beberemos mais água, valorizando o seu
poder. Eliminamos de 2,5 a 3,5 litros por dia. Para manter o equilíbrio,
devemos receber de volta a mesma quantidade, ou as impurezas ficarão retidas no
corpo, intoxicando-o.

No
mais, aguardo a resposta urgente.

Do
amigo esperançoso,

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Solano”

Enquanto
isso, na lembrança, sussurra o Pequeno Príncipe, lá do livro de Saint-Exupéry,
personagem da minha infância: “O que eles procuram poderia ser
encontrado em uma única rosa, ou em um pouco de água”.

Carlos Solano é arquiteto e escritor, autor de livros de arquitetura e
de Feng Shui. Leia mais sobre o trabalho dele em
carlossolano.com.br