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“Simplicidade elegante”

É assim que o sábio indiano radicado na Inglaterra Satish Kumar define o que o inspira na vida. Sem teorizações complexas, vai apenas emendando um exemplo atrás do outro de quem não apenas persegue o justo e bom mas vai lá e faz isso

Satish Kumar – Divulgação
 Parem de perseguir a felicidade. Apenas a sintam. Ela está dentro de vocês”, assegura Satish Kumar, cofundador da Schumacher College, em Londres, uma faculdade voltada para ciência, espiritualidade e meio ambiente e que já diplomou mais de 500 alunos brasileiros. Em dezembro, o sábio esteve em São Paulo para uma palestra no Sesc Vila Mariana a convite da Associação Palas Athena. Kumar veio ao país para celebrar um ano de atividades da Escola Schumacher Brasil, inspirada na matriz londrina. 
Para uma plateia lotada no teatro do Sesc, ele falou sobre paz e os caminhos para senti-la e praticá-la. Defendeu que atitudes singelas podem conduzir às mais sábias decisões. “Eu também fui convidado para fazer parte da Cop 21 (Conferência do clima que aconteceu em dezembro, em Paris), mas disse não. Grandes líderes podem firmar um compromisso sério de conter as emissões de gases de efeito estufa. Mas preferi estar aqui porque acredito que são as pessoas simples que vão mudar os descaminhos do aquecimento global. O superpoder não é os Estados Unidos, a China, a Rússia. É o povo. Nós é que temos que nos perguntar porque há tanto lixo, por que somos maus para a natureza quando ela nos dá tanto. Nós é que temos que nos questionar se o que estamos comendo, vestindo foi produzido com ética. E que devemos desistir daquilo que não consideramos bom para nós mesmos, para os outros, para o planeta.” 
É a isso que Kumar chama simplicidade elegante. Em parte, o conceito trata do respeito à tríade solo, alma e sociedade. “Uma harmonia com nós mesmos (alma), com a família humana (sociedade) e com o mundo natural (terra)”, esclarece. “Gandhi disse que há o sufi ciente para todos. Mas não para a ganância de todos. A natureza não é só um recurso para a economia. Destruir o meio ambiente em nome do PIB é papo velho. Os países precisam crescer mais em felicidade interna, isso sim”, reflete. 
A simplicidade elegante também está, aos olhos do mestre, em pessoas que estão vivendo, de fato, seus ideais. “Palavras são importantes, porém quando você vê uma coisa em que acredita sendo executada por alguém, isso é ainda mais valioso. Em sânscrito, o topo da ordem monástica é o acharia, que significa aquele que pratica. O que mais sabe é o que mais pratica”, garante ele, que lembra o exemplo que recebeu em sua própria casa. “Minha mãe tinha um sítio e me levava para lá todos os dias. Certa vez, no caminho, ela disse: ‘Vê essa árvore? Ela é a maior professora. Mais do que Buda’. E eu protestei, dizendo que nada poderia ser maior do que Buda. Então ela continuou: ‘Filho, Buda conseguiu a iluminação embaixo de uma árvore. Não somos muito iluminados hoje em dia porque não sentamos mais embaixo de árvores’. Essa ideia de que tudo está interligado veio da observação dela”, contou Kumar. “Minha mãe também me ensinou que as abelhas são mestres. Vão de flor em flor pegando um pouquinho aqui e ali, e polinizando lá. As árvores frutificam, as colmeias fazem mel. Sem danos a ninguém. Simplicidade elegante.”
Satish Kumar nasceu na Índia, em 1936, e, ainda muito jovem, iniciou uma peregrinação pela paz mundial que o levou a se estabelecer na Inglaterra. É cofundador da Schumacher College, em Londres, faculdade reconhecida internacionalmente por unir ciência e espiritualidade e ser um dos melhores centros do mundo de estudos ambientais. Em 1973 tornou-se editor da revista Ressurgence & Ecologist, cargo que ocupa até hoje. Por sua atuação ao longo da vida, acumula muitos prêmios e a autoria de diversos livros. Entre eles Soil, Soul and Society – A New Trinity of Our Time (Solo, Alma e Sociedade – A Nova Trindade de Nosso Tempo, ainda sem tradução para o português).

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