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As raízes da ioga

Hoje comemora-se o Dia Internacional da Ioga. Para comemorar, preparamos um dossiê com reportagens diárias sobre o tema e que serão publicadas de hoje até sexta-feira. Para começar, conheça a história de muitas linhas de ioga que chegaram ao Ocidente

Dia 21 de junho é celebrado o Dia Internacional da Ioga – iStock

Qualquer um que deseje fazer ioga tem
um desafio muito maior do que encarar posturas complexas: encontrar um caminho
no intrincado cipoal de escolas que fazem parte dessa filosofia milenar.
No leque de opções, existem alternativas para todos os gostos, como se
pode ver nos vários nomes que antecedem a palavra ioga: power, kundalini, raja,
siddha, bhakti, ashtanga, iyengar. “Essa prática milenar assemelha-se a um rio
cheio de corredeiras e afluentes que se estende por um território marcado
por diferentes acidentes geográficos”, compara Georg Feuerstein, autor do livro
A Tradição do Yoga (ed. Pensamento).

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Feuerstein revela que a palavra
ioga aparece já no antiquíssimo Rig-Veda, que representa para o hindu o
que o Antigo Testamento é para os povos cristãos. E é mencionado também no
Bhagavad Gita, o equivalente hindu do Novo Testamento, que nomeia três tipos de
prática: karma-ioga, a ioga da ação; jnâna- ioga, relacionada ao
conhecimento; e bhakti- ioga, a do amor. “Mas, no contexto geral do hinduísmo,
seis grandes formas de ioga  se destacaram: raja- ioga, hata- ioga,
jnâna- ioga, bhakti- ioga, karma- ioga e mantra- ioga. A essas podem se
acrescentar a kundhalini- ioga, intimamente ligada ao tantra- ioga”, completa o
autor.

Durante mais de 5 mil anos, a
busca por saúde e crescimento pessoal deu origem a um conjunto variado de práticas,
cada uma acompanhada de explicações diferentes sobre como alcançar esse
objetivo. Esse legado foi passando de mestre a discípulo e acabou gerando
novas escolas, dentro das quais ocorreram cisões e transformações.

Não é difícil imaginar o que aconteceu
quando as águas convidativas desse rio ultrapassaram as fronteiras da Índia e
desaguaram no Ocidente, no início do século 20. “Logo surgiram outras
correntes, novos gurus que emprestaram seu nome à técnica que adotaram ou
desenvolveram, além de adaptações mais condizentes com a maneira de enxergar
o mundo nessa parte do planeta”, observa Márua Pacce, do Núcleo de Yoga
Ganesha, em São Paulo.

No Brasil

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Muitas dessas escolas se consolidaram
por aqui, dividindo espaço com outras correntes e ramificações. Confira as mais
conhecidas.

Hata-ioga

A “ioga vigorosa”, também
conhecida como hata-ioga, foi desenvolvida no século 19. Como todas as escolas,
visa transcender a consciência, mas a metodologia adotada se concentra
especialmente em torno do fortalecimento do físico. O objetivo principal é
desenvolver o potencial do organismo para que ele seja capaz de suportar a
força e o peso da elevação espiritual. Seus praticantes entendem que os estados
místicos exercem um efeito profundo sobre o sistema nervoso e o organismo de forma
geral, por isso ele precisa estar preparado para se transformar num corpo
divino, ou adamantino. A hata-ioga descreve mais de 80 mil posturas,
derivadas de 84 consideradas fundamentais para a prática.

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Raja-ioga

A tradução literal desse termo é “ioga real”.
Raja é o sistema descrito por Patanjali, sábio que viveu no século 3 a.C. e que desenvolveu uma
didática para praticar ioga. Considerado um modelo clássico, sua principal meta
é promover o controle da mente por meio de uma prática meditativa intensa.
Concentração e meditação são palavras-chave. O caminho proposto pela raja-ioga
tem oito etapas, que devem ser cumpridas por quem quer alcançar a iluminação:
duas abordam a conduta ética do praticante; a terceira ensina posturas físicas;
a quarta versa sobre o controle da respiração; a quinta explicita a introversão
dos sentidos; a sexta é voltada para a concentração absoluta; a sétima discorre
sobre a contemplação; e a oitava é samadhi, a transcendência buscada por todo
praticante de ioga, seja qual for a tendência.

Ashtanga-vinyasa-ioga

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É o sistema ensinado por Sri K.
Pattabhi Jois. Seu nome deriva da prática de ioga estabelecida pelo sábio
Patanjali. Ao sistematizar a ioga, Patanjali mencionou o caminho ashtanga, ou
“senda de oito etapas”. A maioria das escolas se baseia nesse caminho, mas
a linha criada por Pattabhi Jois mostra um enfoque bem particular, que casa
movimentos físicos com respiração. Para cada movimento, existe um tipo
específico de expiração e inspiração, cujo objetivo é fazer uma limpeza
interna. O movimento conjugado com a respiração gera intenso calor interno, que
aquece o sangue, promove a transpiração e favorece a eliminação de impurezas.
Essa ioga de ritmo acelerado, composta por movimentos fixos, se tornou
muito popular no Ocidente.

Iyengar-ioga

Bellur Krishnamachar Sundararaja Iyengar (mais conhecido como B.K.S Iyengar) é o fundador da modalidade que leva seu nome. Nasceu em 1918 e morreu recentemente, em 2014. Até então, deu aulas em seu centro, em Puna, no sul da Índia. O método inclui sequências vigorosas de exercícios e valoriza a prática da ioga como terapia para a cura de doenças e o poder do corpo para curar a si próprio. Iyengar desenvolveu uma série de apoios, como cordas e objetos de madeira, para ajudar os alunos a melhorar a permanência e o alinhamento nas posturas. “O corpo é meu templo e as posturas são minhas preces”, disse o mestre. Nos anos 50, ensinou ioga a celebridades como o violinista Yehudi Menuhim, o que pavimentou seu caminho no Ocidente.

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Sivananda- ioga

Trabalha com uma série de 12 asanas básicos que se repetem sucessivamente. A sequência abrange todos os movimentos necessários à saúde e ao bem-estar, mas é considerada difícil para os padrões ocidentais. O método foi desenvolvido pelo médico indiano Swami Sivananda Saraswati. Em 1936, fundou a Divine Life Society e, 12 anos mais tarde, o Sivananda Ashram e a Yoga Vedanta Forest Academy. A ioga sivananda se baseia no sistema gurukula, no qual os estudantes passam os anos de aprendizado morando com o instrutor. Estudam filosofia, aprendem as posturas, os exercícios respiratórios e a karma-ioga. Também adotam uma dieta vegetariana e levam uma vida devotada aos exercícios, respirações, relaxamento e meditação.

Kundalini-ioga

É conhecida também como “ioga da consciência”. Apesar do nome, essa prática não se concentra, particularmente, na elevação da kundalini (a energia armazenada na base da coluna que, segundo a tradição hindu, sobe pela espinha quando o discípulo alcança a iluminação). O método envolve um trabalho intenso de exercícios energéticos e rítmicos que ajudam a desenvolver a concentração e a criatividade, a expandir a consciência e a integrar corpo, mente e espírito. Além das posturas, inclui pranayamas, meditação e ensinamentos sobre nutrição. O representante dessa linha é o indiano Yogi Bhajan, que criou a Fundação Healthy Happy Holy Foundation (conhecida como 3HO) em 1969, na Califórnia, Estados Unidos. Bhajan classifica seu método como um “catalisador criativo”, uma filosofia capaz de extrair o melhor das pessoas.

Siddha-ioga

Apesar de não contemplar a prática de posturas, também está inserida no grupo das escolas de ioga. Inclui leitura de textos sagrados, cantos devocionais, mantras, contemplação e prestação de serviço altruísta. O objetivo da prática é alcançar a auto-realização, entendida como sinônimo de união com Deus. Shaktipat, o despertar espiritual, é o termo-chave dessa prática, que, segundo seus praticantes, permite acessar o potencial divino latente em todas as pessoas. Os ensinamentos da siddha foram trazidos para o Ocidente na década de 70 por Swami Muktananda.

Outras linhas

Mais um método que aposta em movimentos
intensos e aeróbicos é a power-ioga. Criada nos Estados Unidos, coordena
posturas e movimentos aleatórios com respiração. Sua principal característica
são os exercícios interligados, feitos em série e sem parar. Acredita-se que
eles aumentem a resistência do corpo e a capacidade de concentração.
Também aposta na geração de calor e na transpiração para produzir a
limpeza do corpo. Difundida no Brasil pelo professor De Rose, a swástya-ioga é
considerada pelo seu mentor como uma filosofia baseada na ioga pré-clássica,
que visa o autoconhecimento. É voltada principalmente ao público jovem e é
muito encontrada em academias. Utiliza oito tipos de técnica, entre elas
mantras, exercícios respiratórios, concentração, meditação e técnicas para
descontração.