Publicidade

Consultar ChatGPT para prescrição de dietas não é um bom negócio, aponta estudo

Além de erros em calorias imprecisas, planos alimentares criados pelo Chat podem incluir alimentos para paciente com alergia, como leite, nozes e castanhas

Consultar ChatGPT para prescrição de dietas não é um bom negócio, aponta estudo
Consultar ChatGPT para prescrição de dietas não é um bom negócio, aponta estudo – Pexels

Desde que o ChatGPT surgiu, as discussões acerca do uso da IA na área da saúde se acentuaram. Inclusive, diversos vídeos na internet sugerem consultar a tecnologia para montar dietas. Seria isso é uma opção segura?

Publicidade

Segundo um estudo recente, publicado em maio na Nutrition, não. “Os resultados indicaram que, embora a maioria das dietas projetadas pelo ChatGPT fossem precisas, o processo poderia construir dietas que prejudicariam um indivíduo com restrições alimentares”, destaca a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

“Os erros consistiam principalmente em calorias imprecisas em dietas, refeições, alimentos específicos ou tamanhos de porções. Uma das recomendações incluía leite de amêndoas para paciente com alergia a nozes e castanhas, o que poderia criar um grande problema”, continua a especialista.

ChatGPT vs Alergias alimentares

O estudo recente usou casos hipotéticos de indivíduos com alergias alimentares para investigar a precisão e a segurança de ‘robô-dietas’ ou dietas construídas usando os modelos de aprendizado profundo implementados no ChatGPT. As estatísticas indicam que o ChatGPT tem mais de 100 milhões de usuários por mês.

“Em casos de alergias alimentares, dietas especificamente elaboradas são essenciais, pois a inclusão de um único tipo de alimento proibido pode causar choque anafilático, e a prevalência de alergias alimentares tem aumentado nas últimas décadas entre adultos e crianças”, diz a médica nutróloga.

Publicidade

No presente estudo, os pesquisadores usaram, para construir dietas usando prompts do ChatGPT, 14 alérgenos alimentares compreendendo: cereais com glúten, aveia, trigo, cevada e centeio; crustáceos como caranguejos, camarões e lagostas; peixe; ovos; moluscos; amendoim; leite e derivados; nozes de árvores; sésamo; mostarda; tremoço; salsão; e compostos contendo enxofre.

O indivíduo hipotético com alergia alimentar era uma mulher de 30 anos, uma vez que as alergias alimentares são mais prevalentes em mulheres do que em homens, e as mulheres geralmente estão mais interessadas em novas dietas. Quatro níveis de restrição foram usados como instruções para o ChatGPT construir uma dieta, e estes incluíram:

a) dieta para uma alergia alimentar com restrições de quantidade
b) dieta para duas alergias alimentares com restrições de quantidade
c) dieta para uma alergia alimentar com um padrão de energia normocalórica (igualdade no consumo e gasto de calorias)
d) dieta para uma alergia alimentar com baixo valor energético.

Publicidade

Segundo a médica nutróloga, a avaliação dos pesquisadores relatou que a segurança era a característica mais fraca de uma dieta de eliminação construída com ChatGPT. “No caso da recomendação do leite de amêndoa em uma dieta sem nozes, isso poderia ter levado a consequências graves, pois a alergia a nozes é uma das formas mais graves de alergia alimentar”, relata a médica.

Além disso, para as dietas com restrições calóricas especificadas, os pesquisadores tiveram como objetivo verificar se a dieta elaborada pelo ChatGPT poderia formular uma dieta com recomendações específicas de nutrientes.

“As dietas robóticas continham apenas uma sugestão geral de que um profissional de saúde deveria ser consultado para supervisão, mas não consistiam em advertências sobre restrições calóricas. Adicionalmente, foi incluído um suplemento dietético atípico em uma dieta não estritamente restritiva. Nenhum suplemento pode ser ingerido sem a recomendação de um profissional”, argumenta a médica nutróloga.

Publicidade

No entanto, as dietas elaboradas pelo ChatGPT seguiram algumas diretrizes dietéticas, como aumentar o consumo de frutas e vegetais em cada refeição e preferir aves e peixes em vez de carne vermelha. As dietas robóticas também incluíam notas de advertência, como ler atentamente os rótulos dos alimentos e a presença de gergelim ou outros ingredientes de nozes em alimentos comuns, garantindo escolhas alimentares seguras.

ChatGPT ajuda a emagrecer?

O ChatGPT também não conseguiu construir uma dieta para duas solicitações de um menu sem soja e, em outros casos, os valores energéticos de refeições específicas ou de todo o menu foram calculados incorretamente. “O cálculo incorreto das calorias pode impactar diretamente no objetivo do paciente. Se ele quiser emagrecer e consumir mais calorias do que gasta, invariavelmente ele irá aumentar o peso”, explica a médica.

Além disso, para as restrições relacionadas a necessidades energéticas específicas, os valores calóricos de várias refeições não foram ajustados nas dietas robóticas. “Os cardápios também foram ineficientes em sugerir tamanhos de porções, com quantidades impraticáveis ou altamente específicas, sem inclusão de receitas ou informações adicionais sobre temperos ou condimentos e sugestões de alimentos gerais, como peixes ou frutas vermelhas, sem recomendações específicas”, diz a Dra. Marcella.

Publicidade

Embora as ferramentas de inteligência artificial que usam modelos de linguagem grandes sejam facilmente acessíveis e forneçam um recurso acessível ao público, aceitar os resultados dessas ferramentas sem avaliações adequadas pode representar riscos à saúde. “O melhor a fazer é buscar ajuda de um médico nutrólogo”, finaliza a Dra. Marcella Garcez.


FONTE: *DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento.