Farmacêutico homeopata, Jamar Tejada aponta os diversos – e não tão conhecidos – benefícios do urucum, popularmente usado como bronzeador ou mesmo tempero, chamado colorau
Se você nunca ouviu falar sobre o urucum, deve ser porque você não mora em país tropical, porque a fama dessa fruta de uma árvore nativa da floresta Amazônica – sim, é fruta e não semente – deve-se a sua coloração que o tornou popular entre os óleos bronzeadores.
Quem viveu nos anos 80 deve se lembrar que era moda besuntar-se com óleo de semente de urucum antes de se jogar no sol. Atualmente, é quase impossível encontrar o óleo nas prateleiras das farmácias, já que – felizmente – as pessoas acordaram para o perigo da exposição solar, que se torna ainda pior caso você esteja com o corpo besuntado de óleo de urucum!
Agora, se você nunca ouviu falar de urucum, talvez já tenha ouvido falar em “colorau”, aquele pozinho de coloração vermelha intensa que se coloca na comida para dar cor. Bom, muito prazer, o colorau é o apelido do urucum. Esse vermelho ocorre devido a alta concentração de um pigmento chamado de bixina, que também o tornou popular como corante alimentício.
O urucum foi utilizado primeiramente pelos povos indígenas como pintura corporal. O seu nome significa “vermelho” (uru’ku) em tupi, mas ele também pode ser chamado de annatto, rocou ou achiote, dependendo da região. O fruto em si possui um formato de cápsula com espinhos flexíveis e sementes triangulares.
Bom, se você acha que o urucum só serve para pigmentar a pele e como tempero para alimentos, está bem enganado. Olha aí todas as propriedades:
Dentre os principais compostos do urucum estão os compostos fenólicos e os carotenoides que, por vezes, estão envolvidos com as propriedades funcionais, entre elas, a atividade antioxidante.
O urucum ainda possui grande quantidade de tocotrienóis, que são isoformas da vitamina E (principalmente gama e delta-tocotrienol) e apresentam propriedades antioxidantes mais potentes do que seus equivalentes, os tocoferóis. Esses antioxidantes ajudam a combater o estresse oxidativo no corpo, protegendo as células dos danos causados pelos radicais livres, que vão desde o envelhecimento até problemas cardiovasculares, como cito abaixo. Além disso, a vitamina C também pode ser encontrada, reforçando sua ação antioxidante.
Os tocotrienois presentes no urucum, por sua potente ação antioxidante, ajudam na redução do colesterol ruim, responsável por formar placas de gordura nas artérias. A planta ajuda a prevenir e reduzir o risco de doenças cardiovasculares, como aterosclerose, infarto ou derrame cerebral.
Por ser rico em potássio – um mineral que ajuda a controlar a pressão arterial, especialmente quando está alta, já que causa um relaxamento dos vasos sanguíneos – ajuda a reduzir a pressão sanguínea. Já o magnésio, que é um bloqueador natural dos canais de cálcio, inibe a liberação de um neurotransmissor – a norepinefrina – responsável por aumentar a pressão arterial e reduzir a pressão sanguínea.
Seus ativos melhoram os receptores da insulina, promovendo uma diminuição da glicose sanguínea e estimulando a redução de gordura periférica, que favorece a perda de peso. Além disso, pesquisas indicam que o geranilgeraniol (do qual cito mais abaixo) pode exercer efeitos anti-inflamatórios e regular a função mitocondrial de energia das células e das funções hormonais.
A ação adstringente fornecida pelo urucum também atua no organismo como protetor hepático.
Alguns estudos laboratoriais mostram que o extrato das folhas de urucum é capaz de eliminar fungos, principalmente Candida albicans e Aspergillus niger, além de bactérias como Streptococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Shigella dysenteriae.
Um dos compostos do urucum é o geranilgeraniol, que participa de vias de sinalização celular muito importantes para nosso organismo, sendo precursor de outras moléculas, como os hormônios, incluindo testosterona e progesterona.
O urucum é rico em cálcio, magnésio e fósforo, que são minerais fundamentais para fortalecer, aumentar a resistência e manter a saúde dos ossos. Assim, pode ajudar a prevenir doenças como osteoporose, osteopenia ou raquitismo. O geranilgeraniol também participa do processo de formação da vitamina K2 que está envolvida na saúde óssea.
Por conter carotenoides e tocotrienois com suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, o urucum previne os danos nas células causados pelos radicais livres, mantendo o cérebro saudável e ajudando a prevenir doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Logo, podemos também classificá-lo como neuroprotetor.
Além de todas as propriedades acima, o urucum é fonte de outros nutrientes interessantes, como os carotenoides, incluindo a bixina e o betacaroteno (que é precursor da vitamina A), importantes para a saúde ocular e a função imunológica.
Você pode adicioná-lo em sua dieta ou mesmo na forma de infusão, que pode ser feito a partir das folhas secas ou frescas ou de suas sementes. Porém, para ter todos esses benefícios, é necessária uma dose bem mais elevada, o que não é viável. Eu, pelo menos, não consigo comer urucum o dia inteiro.
Daí entra a suplementação. Cápsulas de extrato seco de urucum podem ser encontrados em farmácias de manipulação, mas não deixe de conversar com profissional de saúde para ajustar a dose adequada a sua necessidade. Como sempre falo: cada indivíduo é um universo bem particular.
E, finalmente, quanto ao uso externo, seu extrato também pode ser usado como pomada para cicatrização da pele, em casos de psoríase, feridas ou queimaduras.
