Zonas Azuis, os locais com maior expectativa de vida: o que podemos aprender com eles?
As Zonas Azuis, ou “Blue Zones”, são conhecidas pela elevada expectativa de vida da população. Entenda os requisitos que proporcionam a longevidade nessas áreas

As Zonas Azuis, ou “Blue Zones”, são conhecidas pela elevada expectativa de vida da população. Entenda os requisitos que proporcionam a longevidade nessas áreas
Adoro um filme e um documentário, ainda mais se for sobre saúde e qualidade de vida. Sou capaz de assistir por horas filmes sobre doenças, alimentação, medicamentos, etc. Mas um documentário da Netflix me chamou atenção: “Como Viver até os 100: Os Segredos das Zonas Azuis”. Esse documentário fala sobre as Zonas Azuis, lugares no planeta onde as pessoas vivem mais, ultrapassando muitas vezes a barreira dos 100 anos.
É assustador pensar que há menos de um século, segundo o IBGE, a expectativa de vida no Brasil chegava a apenas 45 anos! Dá para acreditar? Graças ao avanço da ciência e à vontade de viver mais, esse número hoje atinge algo em torno de 77 anos. Mesmo assim, ainda longe dos felizardos habitantes dessas regiões.
“Zonas Azuis” ou Blue Zones são um conceito criado por Gianni Pes, pesquisador sênior do Departamento de Medicina Clínica e Experimental da Universidade de Sassari, na Itália, e disseminado por Dan Buettner – o apresentador do documentário que citei acima.
Ao longo dos quatro episódios, com durações que variam entre 32 e 44 minutos, o explorador visita cinco Zonas Azuis e busca entender quais são as características principais que estão impulsionando essa maior expectativa de vida. Não se preocupe, pois não irei dar spoiler, mas gostaria de explorar o que esse conceito nos traz de aprendizagem.
Segundo Buettner, apenas cerca de 20% do tempo que vivemos é ditada por genes, o resto é estilo de vida. Quer saber mais sobre o assunto, indo além do documentário? Leia o livro de Buettner “As Zonas Azuis da felicidade: As lições das pessoas mais felizes do planeta”.
Voltando à série, idosos e especialistas que residem em Okinawa, Japão, região da Barbagia da Sardenha, Itália, Loma Linda, na Califórnia, Estados Unidos, Icária, Grécia, e na Península de Nicoya, Costa Rica, são entrevistados. Cada local possui uma cultura muito rica e única, sendo que alguns entrevistados vivem em áreas urbanas e outros em locais afastados e mais próximos à natureza.
Entre as particularidades de cada lugar, em Barbagia, por exemplo, encontra-se a maior concentração de homens centenários do mundo, Já em Okinawa, vemos a maior concentração mundial de mulheres com mais de 70 anos.
Em Okinawa, a dieta é essencialmente vegetariana, pobre em sal, rica em frutas e vegetais e contêm muitas fibras e antioxidantes. Os alimentos mais consumidos são vegetais, algas, batata-doce e tofu. Todos são alimentos ricos em nutrientes e baixos em calorias. Os derivados da soja, como o tofu e a sopa de missô, ricos em flavonóides, protegem o coração e reduzem o risco de desenvolvimento de câncer. Eles consomem mais soja (60 a 120 gramas por dia) do que qualquer outra população na Terra e não comem demais. Eles têm uma prática chamada “hara hachi bu”, que significa “comer até estar apenas 80% satisfeito”.
Já em Barbagia, o segredo está no isolamento. A alimentação deles foi sempre muito simples, a base de frutas e legumes, já que eram um povo pobre e com pouco acesso ao mundo exterior. Assim, eles tinham que comer apenas aquilo que plantavam: tomates, batatas, berinjelas, abobrinhas, frutas, pão, massa fresca e caseira, vinho tinto e leite de cabra. Além disso, comem carne apenas ocasionalmente ou em festividades. Os sardenhos possuem fortes valores familiares, o que proporciona baixos índices de depressão e estresse.
Em Ikaria, uma ilha grega no Mar Egeu, um a cada três habitantes vive até pelo menos os 90 anos e lá há a menor taxa de casos de demência do planeta. Se não bastasse isso, os ikarianos tendem a viver uma década a mais antes de desenvolver doenças cardíacas ou câncer.
Diferente dos outros lugres, em Loma Linda, nos EUA, a particularidade é o fato de que a população é composta por adventistas do sétimo dia, cuja expectativa de vida é de uma década a mais do que os demais norte-americanos. Os adeptos da Igreja Adventista compõem cerca de metade dos 24 mil habitantes do local. É uma comunidade cristã evangélica que segue diretrizes rigorosas sobre alimentação, exercício e descanso. A igreja incentiva o vegetarianismo, a prática de exercícios físicos, não fumar e não beber.
Os adventistas creem que sua longevidade esteja ligada ao respeito pelo corpo humano como um templo do Espírito Santo e todas as semanas praticam o Sabbath (o dia do descanso no sábado), em que se concentram na família, na comunidade, em Deus e na natureza. Muitos são vegetarianos. Consomem basicamente legumes, frutas e cereais integrais.
Pensando nos hábitos culturais, no caso de Okinawa, a população local consome muito um tubérculo conhecido como beni imo, uma espécie de batata-doce roxa, e que, devido suas grandes qualidades nutricionais e antioxidantes, é considerado um superalimento, tornando a refeição dos japoneses daquela ilha muito mais completa do que a dos americanos.
Mas, afinal, o que os moradores desses locais fazem para somar 23 anos a mais de vida que nós, brasileiros, que só chegamos aos 77?
Os habitantes das Zonas Azuis compartilham estilos de vida em comum, sendo:
1 – A família está em primeiro lugar;
2 – Não fumar — centenários não fumam;
3 – A maioria dos alimentos consumidos é derivada de plantas;
4 – As atividades físicas com moderação são parte do cotidiano;
5 – As pessoas de todas as faixas etárias são socialmente ativas e integradas a suas comunidades;
6 – Legumes – consumir sempre!
As dietas diferem um pouco de região para região, mas têm algumas semelhanças em comum que consistem essencialmente em:
Diante dessas características em comum, Buettner descreveu 9 lições de ouro para uma vida longa e saudável:
1 – Mantenha-se em movimento naturalmente, em pequenas tarefas do dia a dia, como caminhar ou cuidar do jardim.
2 – Encontrar o seu propósito e o prosseguir com paixão;
3 – Ir devagar, trabalhar menos, descansar e tirar férias;
4 – Parar de comer quando estiver 80% satisfeito;
5 – Consumir mais vegetais e menos carne e produtos processados;
6 – Beber vinho tinto, mas com moderação;
7 – Criar laços afetivos e relações sociais saudáveis;
8 – Alimentar a alma com atividades espirituais;
9 – Amar a sua tribo e fazer da família uma grande prioridade.
Vamos colocar em prática? Passos pequenos para muito mais anos de vida!