Por que a ansiedade atinge mais mulheres do que homens?
Uma pesquisa divulgada no final de 2023 pela Think Olga, uma organização não-governamental, revelou que sete em cada dez diagnósticos de ansiedade e depressão eram de mulheres

Uma pesquisa divulgada no final de 2023 pela Think Olga, uma organização não-governamental, revelou que sete em cada dez diagnósticos de ansiedade e depressão eram de mulheres
Você já se sentiu ansiosa sem entender exatamente por quê? Saiba que essa sensação não é só sua — e tem explicações profundas na história, na biologia e na cultura. Sim, nós, mulheres, estamos de fato mais suscetíveis à ansiedade — e isso acontece por algumas razões. Uma pesquisa divulgada no final de 2023 pela Think Olga, uma organização não-governamental, revelou que sete em cada dez diagnósticos de ansiedade e depressão eram de mulheres. Mas, o que isso pode nos dizer?
Primeiramente, é importante lembrar que a ansiedade, como fenômeno do comportamento humano, foi reconhecida há relativamente pouco tempo e incluída no rol dos transtornos psiquiátricos. Na época dos nossos avós ou mesmo na juventude dos nossos pais, era raro ouvir alguém dizer “estou ansioso”. O conceito de ansiedade como uma categoria clínica de estudo e atenção é recente e, claro, essa evidência crescente está profundamente relacionada à cultura da era pós-moderna.
Para falar sobre ansiedade no universo feminino, é fundamental mergulhar na nossa história. O primeiro fator que nos torna mais vulneráveis a esse estado emocional é a questão biológica. As oscilações hormonais são uma característica constante em nossos corpos — e só nós sabemos o impacto que isso pode ter no dia a dia.
As variações intensas e cíclicas de hormônios, como o estrogênio e a progesterona, influenciam não apenas o sistema reprodutivo, mas também o cérebro, o humor e o sistema nervoso. Por exemplo, durante o ciclo menstrual, esses hormônios oscilam mensalmente para preparar o corpo para uma possível gravidez, impactando neurotransmissores como a serotonina, que regula o humor. Não por acaso, muitas mulheres relatam irritabilidade, tristeza ou ansiedade no período da TPM (Tensão Pré-Menstrual).
Além do ciclo menstrual, outras fases como a gravidez, a perimenopausa e a menopausa também são momentos de intensas alterações hormonais, que influenciam o equilíbrio emocional de formas variadas. Essas oscilações mexem com as substâncias químicas responsáveis pela sensação de bem-estar e, por isso, as mulheres têm, biologicamente, uma predisposição maior a desenvolver quadros de ansiedade em diferentes momentos da vida.
No entanto, a vulnerabilidade feminina à ansiedade não se explica apenas pela biologia. Psicologicamente, a pressão pela multitarefa e pela perfeição pesa muito mais sobre as mulheres do que sobre os homens. Existe uma expectativa cultural de que a mulher dê conta de múltiplas funções simultaneamente — o que, na prática, é insustentável. Essa sobrecarga, que alimenta a sensação constante de insuficiência, contribui diretamente para o aumento da ansiedade.
Socialmente, ainda enfrentamos cobranças rígidas, especialmente em relação à estética. Apesar dos avanços recentes, como o movimento de corpos livres e da valorização de diferentes tipos de beleza, as redes sociais continuam reforçando padrões inalcançáveis. Um exemplo claro é o envelhecimento: enquanto o homem maduro é o mais “experiente” e “viril”, associam a mulher que envelhece ainda, muitas vezes, à decadência. A manutenção da juventude, para nós, é quase uma obrigação.
A desigualdade de gênero também pesa. Mesmo com avanços, a maioria das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos ainda recai sobre as mulheres. No mercado de trabalho, enfrentamos obstáculos diários — do desafio de sermos ouvidas em reuniões majoritariamente masculinas até a dificuldade em ocupar espaços de liderança. Sem falar das tantas mulheres que acordam às 5h da manhã e só encerram a jornada muito depois das 22h. Essa realidade amplia o estresse e, consequentemente, a ansiedade.
É fundamental compreender que a ansiedade não é um mal a se “combater”, como muitas vezes se propaga. Ela precisa ser equilibrada. O primeiro passo é a reflexão: entender o que nos causa ansiedade e buscar formas possíveis de lidar com essas pressões. Assim como a saúde física, a saúde mental também exige autorresponsabilidade — um desafio, é verdade, diante das realidades tão diversas entre as mulheres, mas ainda assim algo necessário.
O ideal seria adotar hábitos saudáveis: praticar atividades físicas (sempre que possível), cuidar da alimentação, priorizar o sono e investir no autoconhecimento. Meditação terapêutica, boas amizades e relações familiares colhedoras também são grandes aliados. O que não podemos é esperar que alguém venha nos resgatar desse ciclo: o poder de transformação, mesmo que pequeno, precisa vir de dentro.
Seja mulher ou homem, cada jornada é única. Mas todos nós merecemos acolhimento e respeito — e isso, por si só, já seria um grande alívio para a ansiedade. Ah, seja gentil consigo mesma.