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Amado Antônio – Shutterstock
Experimente perguntar por aí pelos causos e milagres acontecidos pela intervenção do santo mais querido do Brasil… Em minutos, os mais extraordinários relatos motivados pela ação do menino nascido em Lisboa e tornado frade franciscano há mais de 800 anos chegarão aos seus ouvidos.
Em Salvador, nas ladainhas, novenas e trezenas dedicadas ao santo, pode se ouvir exclamações espontâneas, como “Antônio, me escuta!” ou “Antônio, atende meu pedido!”. “De tão íntimo, dispensa-se o título de santo a ele”, conta o estilista Mário Queiroz, que presenciou a cena numa igreja perto do Pelourinho. No meio dos pedidos, se clama pelo bem mais desejado na vida: uma cura, um marido, um emprego e até uma televisão de plasma, porque não é preciso ter vergonha de pedir algo importante ao santo.
No Brasil, a figura do moço de traços nobres e bonitos com Jesus ao colo é vista em casas, altares, medalhinhas e santinhos. Ela se perpetua em nossa lembrança de forma carinhosa. “Desde criança tenho devoção a Santo Antônio. Sua imagem fazia parte do cenário da família”, lembra o frei Geraldo Monteiro De Roma, autor de Santo Antônio – Vamos Conhecer a Vida de um Grande Santo (Editora O Mensageiro de Santo Antônio). Trata-se de uma obra sobre a vida do frade que perambulou pela Europa no início do século 13.
O santo é tão amado que são inúmeras as crianças com seu nome em Portugal, França, Espanha, Itália e por aqui. Embora batizado de Fernando quando nasceu em Lisboa, em 1195, Antônio (“o propagador da verdade”) mudou seu nome ao se tornar frade, porque era isso o que o jovem português queria fazer: propagar a verdade de sua fé, difundir os Evangelhos e viver seu amor a Cristo em seu dia a dia.
Santo Antônio é popular porque amou os pobres, como exige a Ordem dos Franciscanos, à qual pertenceu. Segundo a tradição, dedicou sua vida a ajudá-los, inclusive materialmente. Alguns relatos contam que ele teria conseguido um dote para uma moça italiana casadoira (daí ser o santo das casamenteiras), outros falam que distribuiu pães doados por uma devota francesa que lhe atribuiu um milagre (segundo a tradição, o pãozinho bento dado pelas igrejas consagradas a ele no dia 13 de junho garante fartura em casa se colocado numa lata de mantimentos). O santo também teria o dom de devolver objetos e de obter vitória em causas perdidas devido a outro grande feito: teria convencido um noviço a se arrepender de lhe ter roubado o livro de orações depois de esse fiel ter avistado o diabo numa ponte.
Além das histórias ligadas a Santo Antônio, uma graciosa tela de um monge holandês no século 16 talvez tenha sido uma das maiores publicidades de seu carisma: ele pintou o santo se divertindo com as traquinagens do Menino Jesus espalhando livros pelo chão de uma biblioteca. Nela, Antônio mostra sua alegria e bondade com a Criança Divina, e por essa intimidade com o Menino Deus se tornou o santo ideal para receber nossos pedidos. Afinal, quem se importava com as brincadeiras do garoto também se importaria com nossos desejos tão humanos.
É bom lembrar que Antônio se tornou franciscano quando São Francisco de Assis ainda estava vivo. Ele o conheceu e fez parte do movimento que revolucionaria toda a história da Igreja Católica. Sua opção pelos pobres e pela simplicidade vinha do seu coração, mas a imagem de frade generoso e bonachão não mostra totalmente quem Antônio era: um homem extremamente culto, leitor de autores gregos e latinos, com vasto conhecimento sobre a ciência de sua época, conforme se lê em seus sermões. Com extrema capacidade de usar bem as palavras e notável ardor, o frade conseguia converter o mais renitente dos ímpios. Sua coragem também era reconhecida. É homenageado por militares e se tornou patrono de muitos regimentos. No sincretismo religioso brasileiro, por exemplo, ele é considerado em parte do Brasil como Ogum, o orixá guerreiro (em algumas regiões, divide o título com São Jorge). Quando vivo, Antônio desejava, inclusive, tornar-se mártir: na juventude, foi ao Marrocos tentar converter os mouros, arriscando sua vida, e só voltou porque ficou muito doente. Segundo alguns estudiosos, talvez seja essa a razão pela qual as moças o “martirizem” quando ele não quer atender a seus pedidos (o deixam de cabeça para baixo, tiram o Menino Jesus de seu colo, o colocam na geladeira ou num poço…).
Antônio morreu na Itália no dia 13 de junho de 1231, aos 36 anos. O papa Gregório IX o canonizou apenas 11 meses depois de sua morte, e o chamou de “santo de todo mundo”, numa alusão à fama que ele tinha em vida. Se já foi célebre em seu tempo, hoje nem se fala. O protetor do Menino Jesus e das moças é amado em todo o Brasil.
“Aqui em casa nunca falta o pão de Santo Antônio dentro de um pote de arroz: um exercício de fé que aprendi com minha avó e que se perpetua até os dias de hoje em nossas vidas.” – Fernanda Zerbinati, Santo André, SP
“Tive um pedido atendido quando viajei para os Estados Unidos pela primeira vez. Ao desembarcar, liguei de um orelhão para avisar à minha família que estava bem e, sem perceber, deixei as passagens lá. Procurei no achados e perdidos do aeroporto e nada. Então apelei para o santo: “O sr. sabe que estou sozinha e não conheço ninguém aqui, por favor me ajude”. Passaram cinco minutos e anunciaram meu nome indicando onde devia buscar meus pertences.” – Almerinda Borges Garibaldi, Brasília, DF

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