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‘Engolir sapo’ engorda! Psicóloga explica como acumular emoções prejudica o processo de emagrecimento

Segundo a psicóloga Daniela Faertes, quando não conseguimos expressar os sentimentos, a comida acaba virando uma espécie de comfort food

Psicóloga alerta para os malefícios de guardar emoções para si – Pexels/ Liza Summer

Você já parou para pensar que esses dois quilos a mais que sempre queremos eliminar pode ser resultado de não expressarmos as emoções negativas? A famosa frase “engolir sapo” nada mais é do que ficar contrariada ou calada diante das imposições dos outros. Como se isso não fosse ruim, ainda pode piorar se descontarmos todas as frustrações na comida, como explica a psicóloga Daniela Faertes.

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“A fala é uma das formas de expor nossos sentimentos. Quando não conseguimos expressá-los, a comida acaba virando uma espécie de comfort food. Se eu não falo o que sinto, acabo precisando de um conforto para lidar com isso”, explica a especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais.

A questão é: o que fazer para não comer as emoções?

Essa e as principais dúvidas sobre o assunto, Daniela Faertes esclarece a seguir. Confira:

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Falar o que pensa ajuda no processo de emagrecimento?

Sim, se a pessoa que tem essa dificuldade tende a ser passiva e não fala o que pensa ou sente. Falar pode ajudar muito. É importante tomar cuidado sobre “como” se fala, sem ser agressiva ou passiva, que é o que a gente chama de assertividade, uma habilidade social treinável. Simplesmente extravasar de qualquer forma pode ter outros prejuízos. Se não, a pessoa passe de “engolir sapo” para o “dragão que cospe fogo”, impulsivo e destrutivo. 

Por que “comemos as emoções”?

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A comida acaba sendo uma forma de ingerir alguma coisa factualmente. Então dá uma sensação de que você está digerindo também aquilo que ficou indigesto do não falar. A verdade que digerimos a comida e não o falar. 

Cuidar demais dos outros faz com que não sobre energia para cuidar de nós mesmos e acabamos engordando. Essa afirmativa é verdadeira? Como mudar esse quadro?

Sim, sem dúvida essa afirmativa é verdadeira. Sempre falo que nós temos 100% de energia física e mental; e precisamos organizá-las. Se não dermos enfoque ao emagrecimento, fica difícil dele acontecer.

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Podemos focar nossa energia mental para frases como “me deixa ver como posso fazer para diminuir a carga de trabalho, não ter tanto estresse e evitar essa necessidade de consumir comfort food” ou “deixa eu ver como incluo em minha rotina um espaço para fazer as comidas mais light, organizar minha geladeira, o cardápio e fazer meu exercício”. Essa matemática é fundamental para o processo de emagrecimento.

Ao demandar energia ao outro, viramos uma fonte constante de ajuda e cuidado, acarretando na dificuldade de colocar um limite. Até porque amigos, familiares, filhos, trabalho e casa sempre vão precisar de nós, por isso a reserva de espaço é tão importante.

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Fazer outras atividades enquanto come, por exemplo, ler, assistir televisão, é errado? Nosso psicológico tende a sentir mais fome do que o normal quando não prestamos atenção na comida na hora da refeição?

O fato de não prestar atenção na hora da refeição significa uma comida de automatismo que você perde a percepção do prazer e isso acaba prejudicando e fazendo com que você coma mais.

Mas comer e fazer outra coisa ao mesmo tempo não é de todo prejudicial se você estiver concentrada naquele conjunto de coisas. Por exemplo, você pode ter uma refeição prazerosa com a televisão desde que você esteja dividindo a atenção entre ela e a comida, prestando atenção no que está ingerindo.

O errado é sempre o automatismo, pensar em algum problema de trabalho e quando você vê, sua refeição já acabou e você nem percebeu, por exemplo.

O nosso psicológico não tende a sentir mais fome, mas quando a gente come no automático, ele demora a acessar nossa sensação de saciedade e até de extensão do prazer.

Quais os riscos de fazer tudo sozinha e os perigos de estar com o botão do “sim” sempre ligado?

O risco de fazer tudo sozinha é acabar ativando uma sobrecarga, fora a questão da solidão. Quando as decisões não são divididas, delegadas ou, até mesmo, ouvidas, tudo acaba ficando mais pesado. O próprio processo de terapia ajuda nisso, porque é uma espécie de dividir o pensamento com alguém.

Vale destacar que existe o comportamento de fazer tudo sozinha, que é fisicamente pesado, e o de pensar e decidir sobre tudo de forma independente, que acaba levando a um desgaste emocional muito grande.

Renunciar às próprias vontades estimula os acampamentos em frente a geladeira e eleva às alturas o risco de permanecer acima do peso, doente e infeliz?

Sim, renunciar as nossas próprias vontades é sempre uma questão que leva à angústia. É aquela sensação de estar sendo abusado pelo outro, de não ter ajuda ou de que está sempre ajudando e não recebendo.

Qualquer coisa que leve à angústia pode se relacionar com a comida para quem tem esse hábito pelo conforto.  A ideia de permanecer acima do peso, ou adoecido, cada vez com mais sobrepeso – até obesidade – e infeliz, fica mais acessível. A nossa fala imprime o que estamos sentindo, se não colocarmos isso para fora, ela acaba tendo que ir para outro lugar, como para a comida, por exemplo, que é um caminho muito fácil para isso por ser acessível.

Quais as habilidades e estratégias de cuidados pessoais necessárias para ter uma vida feliz, realizada e bem-sucedida, além de parar de comer excessivamente?

Acho que é aquele efeito de uma coisa que acaba levando a outra. Quando você consegue se controlar em relação à comida, é possível que se sinta mais realizada e bem sucedida naquilo que você se propôs, que é comer menos, emagrecer, ser saudável. Para que a gente possa administrar isso melhor, temos que tirar parte da nossa energia de outras áreas da nossa vida. 

Deixe de lado algumas questões do trabalho, dos outros, da família, para gerar essa matemática de energia e focar na questão do limite. Direcionar uma parte da nossa energia para comer menos, pode atrapalhar um pouco algumas outras áreas da nossa vida, mas isso sim vai dar uma sensação de realização, de controle, logo, de mais bem-estar.


Psicóloga Daniela Faertes: Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), é especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais. Especializou-se por renomados institutos nos Estados Unidos e também pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), IPUB – UFRJ e Instituto Albert Einstein.

Atuou no Serviço de Psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e, como supervisora, coordenou o núcleo de tabagismo e criou o setor de amor patológico. É uma das pioneiras em trazer para o Brasil os novos modelos e técnicas de Psicoterapia Cognitiva. É membro da American CognitiveTherapyAssociation e professora convidada da PUC-Rio de graduação e pós-graduação. Faz atendimento nas áreas de mudança comportamental, bem-estar, transtornos psiquiátricos, dependência química e outras compulsões. Atualmente, é Diretora do Espaço Ciclo no Rio Janeiro, palestrante e supervisora clínica e de Grupos de Estudo em Terapia Cognitivo.