Na onda do consumo compartilhado
Algo que já não serve para um pode ser útil para outro. Com esses itens é possível fazer ótimos negócios, que não envolvem dinheiro, mas são lucrativos para a sociedade e a natureza

Algo que já não serve para um pode ser útil para outro. Com esses itens é possível fazer ótimos negócios, que não envolvem dinheiro, mas são lucrativos para a sociedade e a natureza
O empresário paulista Luis Gustavo Marques da Silva nem pensou no
valor monetário dos objetos quando trocou um som automotivo por um carrinho de
controle remoto para o filho. Ou quando deu um DVD em prol de um kart elétrico.
Na linha do desapego, da troca e do compartilhar, o que conta é quanto
determinado objeto vai ter de utilidade para cada um. “Valores são
relativos; a questão é abrir espaço para o novo. Me desfaço de algo que não uso
e recebo algo que usarei”, diz Luis. Tudo começou há um ano, depois de uma
arrumação em que ele se deparou com coisas que só atravancavam a casa e já não
tinham interesse para a família. “Fui buscar sites de troca e encontrei o
Toma Lá, Da-Cá! (tomaladaca.com.br)”, conta. “Tenho vários itens
anunciados, aguardando boas oportunidades.” Luis já aprendeu que nem
sempre as propostas são vantajosas. Quando ele vê benefício, aí as negociações
evoluem: os envolvidos mandam fotos dos itens, falam por telefone para saber
detalhes e, se tudo estiver certo, marcam o encontro para efetivar o escambo.
A prática do passar para a frente em vez de simplesmente descartar
aquilo que não se deseja mais embute a preocupação de esgotar a vida útil de um
bem – evitando o consumo inflacionado e a geração de lixo. Conceito altamente
contemporâneo, uma vez que a população mundial não para de crescer – até 2020
estima-se que só na China nasçam aproximadamente 100 milhões de pessoas – e as
fontes de energia são esgotáveis. “O mundo não se sutenta com os níveis de
consumo atual. Portanto, é urgente fazer opções mais conscientes”, diz
Dalberto Adulis, gerente de metodologias e conteúdos do Instituto Akatu,
organização não governamental que trabalha com a sociedade no sentido de
orientar justamente essas escolhas.
O importante é fazer as coisas rodarem de mão em mão
O presidente do Instituto Mobilidade Verde, Lincoln Paiva, destaca
que esse caminho do compartilhamento vem sendo trabalhado aos poucos. “Ao
longo dos anos, aprendi a fazer isso por meio de nossos projetos”, diz. Um
exemplo é o Bibliotaxi, que, como o nome já sugere, é uma biblioteca dentro dos
táxis, criada por Lincoln, apadrinhada pelo jornalista Gilberto Dimenstein e
atualmente administrado pela empresa Easy Táxi (bibliotaxi.wordpress.com).
Funciona assim: o taxista recebe um kit com um bolsão e alguns livros. O
passageiro que entra no táxi e gosta de algum título pode pegar e levar
consigo. Simples assim. Quando acaba de ler a pessoa deposita o livro na bolsa
de outro táxi. Se quiser, também pode ficar com o livro ou doar novos títulos.
Mas sem obrigações. A ideia é fazer o livro – e, consequentemente, a leitura –
atingir o maior número de pessoas possível. Wagner Caetano, taxista em São
Paulo, é um dos que aderiu ao Bibliotaxi. “No trânsito pesado de São
Paulo, as pessoas gostam da surpresa e são receptivas”, afirma. Segundo
Tallis Gomes, idealizador e co-CEO do aplicativo Easy Táxi, os 120 mil taxistas
cadastrados em mais de 27 países têm possibilidade de aderir ao programa.
Livros, aliás, estão entre os artigos mais populares quando o
assunto é escambo. Manter os volumes em casa é considerado por muitos amantes
da leitura inconveniente, oneroso e trabalhoso, pelo espaço que ocupam. O
melhor é ler o máximo, gastando o mínimo. A baiana Rosana Bernas, pedagoga,
está nessa desde 2009, quando descobriu o Skoob – books escrito de trás para a
frente -, um endereço virtual para trocar livros, ideia do carioca Lindenberg
Moreira (skoob.com.br). O processo é fácil: o usuário se cadastra, informa os
títulos que disponibiliza e os que gostaria de ter. “Cada pessoa tem uma
estante virtual. Uma consulta a estante da outra e, se encontrar algo que
interesse, combina a permuta”, explica Rosana. Pode acontecer de um enviar
o livro pelo correio e o outro não. Nesse caso, o site não se responsabiliza
pela possível fraude, mas, em compensação, a fama do fraudador se espalha. Quem
não cumpre o combinado perde a credibilidade e, pelo jeito, basta. Em cinco
anos de existência, o Skoob já registra 1,405 milhão usuários, pouco mais de
50% da Região Sudeste.
Vale a máxima: menos é mais
Lincoln Paiva defende o hábito de dar uma coisa por outra como um
exercício de desprendimento e para lembrar que devemos nos apegar às pessoas e
não aos objetos. “Não sou contra o consumo. Sou avesso ao consumo
imbecilizado”, distingue. O filósofo Jelson Oliveira, professor da
Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), partilha da mesma opinião.
Inclusive, está lançando o livro Elogio da Simplicidade (ed. PUCPRess).
Entendendo-se por simplicidade não a falta ou a precariedade, mas a
essencialidade. “Essa é a virtude mais urgente de nosso tempo, em que
predominam o excesso, a pressa, a correria, o consumismo e muitas outras formas
de fuga de si mesmo”, diz Jelson.
Não só as pessoas mas também as empresas precisam repensar suas
práticas sociais, produtivas e econômicas. Algumas já estão buscando formas de
se antecipar ao que vem por aí, introduzindo modelos de negócio bem diferentes
dos convencionais. Dalberto cita o exemplo da Mercedez Benz, montadora que, na
Alemanha, passou a alugar veículos em vez de apenas vendê-los, comportamento
que se dissemina na Europa. Outro compartilhamento valioso é o de espaços
urbanos. No momento em que cedem lugar para bicicletas, ruas de pedestres ou
mesmo pequenos cantos de convivência, as cidades tornam-se mais amigáveis e, portanto,
mais utilizadas e seguras.
Intercâmbio de casas e cultura
A jornalista mineira Renata Monti, radicada no Rio de Janeiro, aderiu à
troca de casas (usou o homeforexchange.com) como forma econômica de viajar nas
férias. Ela experimentou o intercâmbio de apartamentos com um francês, morador
do bairro de Marais, em Paris, e ficou nada menos do que 23 dias hospedada na
casa dele. Sem gastar nada. Em retorno, ele ficou na casa dela.
“Diferentemente do hotel, o intercâmbio de casas promove uma vivência cultural.
Por exemplo: enquanto eu e meu marido dávamos dicas de coisas legais e não tão
turísticas para o francês, ele nos escrevia quase diariamente mandando ideias
de onde ir, o que fazer.” Depois da busca e do primeiro contato via site,
ela marcou bate-papos pelo Skype com o médico francês para alinhar
expectativas. Ambos enviaram informações sobre o perfil de cada um, se fumavam,
se tinham animal de estimação, se estavam dispostos a deixar o carro livre etc.
“Mesmo assim fiquei nervosa ao sair de casa. A ideia de que a pessoa pode
estragar tudo é apavorante. No entanto, quando cheguei na casa dele, vi que ele
havia deixado coisas de valor à mostra e não teria por que fazer algo errado
com a minha casa.” Aí foi só aproveitar a viagem. E tudo com uma economia
estimada em 5 mil reais!
Trocas do bem | |
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Conheça alguns endereços | |
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Um livro por outro Há sites como o Bookcrossing em que o conceito é deixar um livro * bookcrossing.com.br * skoob.com.br Meu DVD por… No aplicativo Bondsy, da App Store, ou no DescolaAi basta * descolaai.com * tomaladaca.com.br Intercâmbio de casas No Home For Exchange, o usuário pode descobrir um morador de uma * trocacasa.com * homeforexchange.com | |
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1. Repare se o site oferece a possibilidade de os usuários 2. No caso da troca ocorrer pessoalmente, o ideal é marcar um 3. Quando o motivo do contato for a troca de casas, veja se o |