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Feita para reverenciar o nascer e o pôr do sol

Em frente à praia, no sul de Florianópolis, esta morada abriga a família ao mesmo tempo em que se abre para a natureza, em um intercâmbio sem fronteiras

Feita para reverenciar o nascer e o pôr do sol – Pedro Caetano
Com natureza até no nome, a Casa Restinga é a realização de um sonho que Maria Carolina Duva tinha desde quando vivia em um apartamento em São Paulo, no m da década de 90. “Tinha um abacateiro grande na minha janela perto da Avenida Paulista, em São Paulo. Era lindo, mas sonhava ir além.” E foi no sul de Florianópolis, em Morro das Pedras, bem em frente à restinga da praia, que a arquiteta paulistana encontrou seu lugar. Para preservar a área quase intocada diante do terreno, ela projetou sua casa de forma elevada, deixando o chão de areia livre para a vegetação da restinga invadir. A construção, realizada em apenas cinco meses, foi feita em 2013 pelas amigas Daniela Leindecker e Fernanda Lucena, que, juntas, formam a Teia Arquitetura. Térrea, com pé direito alto e diversos painéis de vidro, a casa emoldura a paisagem e transforma tudo o que se vê pelas janelas em obra de arte. Minimalista, a arquiteta optou pelo simples e bem-feito, como ela própria define a construção. Todos os acabamentos são rústicos e naturais, de madeira e concreto, com o mínimo de intervenção industrial e desperdício. Na área externa, até o muro na lateral da casa foi pensado com carinho. Vazado e feito só de tijolos, foi inspirado em uma casa de barro chinesa. “Com certeza uma das minhas paixões”, diz orgulhosa. Para ampliar a vista do horizonte, a Casa Restinga explorou o seu lugar mais alto: o teto. Foi ali que a moradora construiu um piso de madeira para observar os mais lindos
detalhes e transformações da natureza. “A cada dia na restinga uma nova flor aparece.” Ela também gosta de conviver com os pássaros da região. “Eles voam muito baixo e estão sempre por aqui”, conta.
Esse contato diário com a natureza faz descarregar as tensões do dia a dia da Carol, também proprietária de uma loja de artigos feitos à mão por pequenos produtores locais, e que inclui de roupas a utensílios para a casa. A loja, Santa Maria Casa, fica dentro do Mercado São Jorge, um local que já virou reduto de produtos orgânicos e objetos ecossustentáveis em Florianópolis.
Nessa busca por um estilo de vida mais próximo do natural e apaixonada por trabalhos de artesãos e artistas brasileiros, Carol garimpou vários dos seus móveis e objetos de decoração. “A mesa de jantar, na verdade, é um carro de boi que encontrei praticamente abandonado em um lenheiro. E o maior tapete é feito de taboa (nome popular de uma planta aquática que pode chegar a até 2 metros de altura), desenvolvido por artesãos de uma comunidade no Piauí.”
Convivem ainda no ambiente uma poltrona de couro com estrutura de bambu, um banco multilaminado de madeira de reflorestamento de Paricá, design de Paulo Alves, e uma mesa de centro que representa um rio cristalino, feita por Domingos Tótora. “O tampo de vidro fica sobre uma escultura feita à mão com papel kraft reciclado”, explica a moradora. Mas nem tudo o que ela ama lá dentro é brasileiro. “Um dos meus mimos é uma dupla americana do pós-guerra de saleiro e pimenteiro que comprei em uma feira de antiguidades”, confessa a moradora.
Com 136 m² de área construída, a casa tem uma ampla área comum, dois quartos, uma suíte e um banheiro. Mas todos os espaços têm toques especiais. A banheira, por
exemplo, é feita de seixos escolhidos um a um pela moradora e a filha. A suíte ganhou lugar estratégico. “Ao acordar, abro a porta da varanda do meu quarto e deixo o sol entrar”, conta Carol, que costuma ler seus livros deitada na rede dessa sacada diante do mar. Mãe de Alice e Augusto, ela adora tocar o piano que herdou da sua mãe, enquanto a filha a acompanha ou toca clarinete e o filho brinca no deck com escorregador que vai direto à restinga.
É no deck, com vista para a praia, que a família e os amigos passam a maior parte do tempo. Depois do meio-dia, quando a sombra começa a invadir o tão disputado espaço, o almoço é servido ali. “Gosto de sentar à mesa no deck e observar. O sol nasce no mar; e a lua cheia também”, conta Carol, com um sorriso de gratidão. Dali ou da cobertura da casa ela vê todas as nuances do tempo.

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