Uma casa com alma pode dispensar o design assinado, a arquitetura impecável, o luxo dos espaços amplos, mas jamais se separa das memórias, objetos que contam por quais caminhos o morador já andou. Esse lastro com a passagem do tempo acolhe, descontrai e gera interesse. Como na casa que abre essa reportagem, em que um imenso adesivo em forma de árvore dá as boas-vindas. Ela carrega consigo, penduradas nos galhos como se fossem frutos, as fotografias de diferentes gerações da família. Estão ali o bebê recém-chegado e o bisavô, a cena do casamento dos pais, da primeira comunhão, daquelas inocentes férias na praia, quando a única preocupação era se faria sol ou chuva no dia seguinte. Todas as imagens coladas com fita crepe – ou graciosamente acomodadas em minimolduras – transmitem a mensagem: nessa morada o tempo fincou raízes.
Ou então, no quarto, sobre a cabeceira da cama, um painel com cliques de viagens mantém os roteiros inesquecíveis. “Em que momento estivemos lá mesmo?”, “Lembra daquele tiozinho que nos ajudou com as malas?”, e o repassar da história atravessa os anos, chega até os dias atuais e vamos refazendo as nossas próprias trajetórias.
Poucas coisas têm o poder das fotos de trazer de volta lembranças e bons momentos. Por isso nada de escondê-las. A ideia é deixá-las à vista, expostas, valorizadas, homenageando as pessoas queridas. Leve os álbuns para a sala, arrume as fotografias em porta-retratos charmosos. Revista a geladeira com imagens – quem sabe uma
foto impressa em adesivo…
Nosso acervo de imagens pode ir mudando como a própria vida. De vez em quando, você atualiza as memórias, trazendo novos momentos, um sobrinho que antes não havia. Se a parede é branca, molduras coloridas aquecem o visual, ao mesmo tempo que as fotografias esquentam o coração.
Memórias também podem ser feitas de objetos lúdicos. As peças bacanas que você adora e que ficavam esquecidas no fundo do armário merecem estar em exposição e ainda dão um toque pessoal ao ambiente. Uma sugestão é colocá-las sob redomas de vidro, preciosas que são como os momentos a elas associados.
Espelhos diversos, que habitaram na casa dos avós, depois moraram com os pais, também fazem bonito colocados todos juntos, transbordando afetividade em uma passagem da casa até então desanimada. Se quiser, inspire-se na disposição sugerida na foto da página 54. O conjunto tem um segredo: apesar de as molduras serem
de diferentes tamanhos, elas ficam harmônicas porque têm em comum o estilo antiguinho, que garante o equilíbrio visual.
Uma parede forrada de pratos e quadrinhos – presentes recebidos, lembranças de viagens – pode fazer a diferença num dia solitário. Então solte a imaginação e dê-lhes espaço. A dica para que o arranjo fique suave é dispor os objetos dentro de um losângulo imaginário, com o cuidado para que os tons tragam delicadeza.
O aconchego não menospreza cantinhos. Ao contrário, vê neles recantos perfeitos. Às vezes pode ser um desafio unir objetos de memória que aparentemente não
dialogam entre si. Há três quadros que pertenceram a sua mãe, por exemplo, dois com inspiração oriental e uma com a imagem de Jesus? Que tal dar-lhes moldura dourada para que tenham mais unidade e sofisticação? Que tal pregar um na parede e repousar os demais logo abaixo, sobre a escrivaninha? E mesclar com uma foto recente, de um momento feliz para lembrar a si mesmo que rir ainda cura quando o astral não estiver lá no alto.
Fotos são flashes seletivos da realidade, e, ao escolhê-las, manifestamos a direção do nosso desejo. Selecione os melhores momentos – suaves, apaziguadores, afetivos – e invente maneiras de espalhar todas essas boas intenções pela casa. Pelas paredes, sobre os móveis, apoiadas no chão. A imagem ao lado, em branco, é uma brincadeira
nossa para cutucar você a revolver memórias e preencher seu entorno com elas.