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Especialista avalia que falta de fé, não só na religião, é o responsável direto pelos problemas psicológicos nos tempos atuais

A principal causa dos males do mundo atual é a falta de fé, segundo o filósofo

Perda da capacidade de acreditar pode ter consequências graves no equilíbrio do ser humano – Pixabay

Segundo a concepção do filósofo e psicanalista luso-brasileiro Fabiano de Abreu, a falta de fé, a perda da capacidade de acreditar, pode ter consequências graves no equilíbrio do ser humano.

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Fabiano acredita que a fé pode ser comparada a um extinto básico, algo que nasce conosco e que desempenha um papel crucial ao longo da nossa vida.

“Desde os primórdios, que através das pinturas e da escrita, seja na Mesopotâmia, no Egito ou na Grécia, temos conhecimento que a fé estava presente. A fé, o ato de acreditar, foi um motor de desenvolvimento, uma alavanca. Seja a fé em um ou mais deuses ou a fé em um outro conceito, mais ou menos abstrato, a fé em acreditar em algo concreto, a fé que serve se mote, de patamar seguro em que muitos se agarraram e continuam a agarrar para fazer a diferença e impulsionar o mundo até os dias de hoje”, observa.

A fé não é uma só e pode estar presente em muitas coisas. A fé pode ser depositada em nós, no outro, em algo superior ou mesmo na natureza. No entanto, o homem e a fé por vezes seguiram caminhos divergentes.

Ele ressalta que no momento em que estamos vivendo, a tecnologia tem desacelerarado o desenvolvimento da inteligência, fazendo com que nos limitemos a informações incompletas em meio a tantas notícias, e também tem tirado um dos nossos instintos: a fé.

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Profundo, né?

Mas para ficar mais claro, Fabiano de Abreu enumera uma listagem do tipo de fé que o homem carrega consigo e em si ao longo da sua vida e também, a forma como cada uma delas se manifesta ou o condiciona.

Afinal, que tipos de fé podemos ter e como podemos, às vezes, perdê-la?

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Fé na religião

“As informações nos últimos séculos fizeram com que, cognitivamente, não acreditássemos em muitas coisas que são ditas na Bíblia. Assim como a religião católica com os estudos de teologia derrubaram os muitos deuses que existiam por parecer algo impossível para mentes tão desenvolvidas.

Ou porque simplesmente encontraram algo que supria melhor os seus objetivos. Mais tarde os próprios preceitos dos católicos foram postos em causa. É como um ciclo. Mas em que vamos agora acreditar? Estamos condicionados a acreditar numa força maior.

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Se perdermos a fé em Deus, em quem acreditar? Nosso instinto manda ter uma referência. Qual referência teremos se os nossos ídolos em terra são falhos demais para nos apegarmos? A internet, a mídia social, criou uma falsa sensação de poder onde nos tornamos ídolos de nós mesmos. E agora? Se não temos ídolos a não ser nós mesmos, em quem acreditar? Esse buraco, essa falha no inconsciente, sem preenchimento, causa danos e um deles é a solidão. Acreditamos tanto em nós mesmos e ao mesmo tempo sentimos falta de alguém para acreditar, pois temos tanto conhecimento de nossas falhas que caímos em decepção. Decepção em nós, nos outros, na falta de referência”.

Fé no outro

“No passado, ter palavra e honra era o que formava o ser. Hoje não ter palavra e(ou) honra é normal, afinal, poucos têm palavra e mentir tornou-se uma grande brincadeira. É o fim da importância do indivíduo onde o caráter já não é medido como referência como antes.

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O egoísmo faz parte do nosso instinto, mas fizemos ele ultrapassar as barreiras e tornar-se membro do nosso cotidiano. As pessoas estão mais egoístas pois a competição é maior assim, como a necessidade de status”. 

Será que poderemos voltar a ter fé no outro? Essa quarentena promete nos responder essa questão!

Fé em nós mesmos 

Devia ser bom quando uma colheita ou uma caçada dava certo. Tínhamos uma meta, um objetivo e constantemente estávamos conquistando. E eram objetivos naturais, de nosso instinto.

Nas eras mais remotas, as conquistas eram quase que uma rotina. Tínhamos conquistadores para admirar, ou nós éramos os conquistadores seja de regiões, das colheitas que deram certo ou de apenas se safar da morte.

E quando e como perdemos a fé em nós mesmos? Perdemos a fé em nós mesmos também pois não somos mais aplaudidos. Também perdemos a fé pois são muitas coisas a conquistar e isso cria a impressão de que nunca conquistamos por completo.

Já sabemos que aquilo é só mais um de muitos e então nunca estamos satisfeitos.

Mas precisamos recuperar a fé em nós!

Fé na natureza

“Viemos da natureza, fazemos parte dela. Convivemos com ela na maior parte da nossa evolução como homem.

Perdemos a fé na natureza, pois não estamos mais em comunhão com ela. Estamos ou em cidades grandes de concreto ou em vilarejos em que a natureza são apenas campos de plantações. Se somos parte da natureza e não estamos com ela, então estamos desagradando nosso instinto e com isso, há uma falta no inconsciente”, termina.

O homem por si só está condicionado à necessidade de acreditar, em si, no outro, em algo.

Acreditar o faz avançar, batalhar, conquistar.

A fé move. A fé é um motor. A fé é algo tão interligado ao ser humano que, ao perdê-la, ele acaba se sentindo incompleto, por muitas vezes, vazio.