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Oscar Quiroga – Reprodução/ CARAS

Está tudo escrito nas estrelas ou somos capazes de manobrar nosso destino com liberdade pela vida afora? 

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Não há, obviamente, resposta definitiva para essa pergunta. Em tese, há coisas na vida que não podemos controlar – a humanidade não é livre para escolher, por exemplo, o que está inscrito em seu código genético – e existem outras que, sim, podem se valer do livre-arbítrio. Daí o porquê de o tema suscitar reflexões muito importantes: que servem tanto para aceitarmos o que não pode ser mudado quanto para nos esforçarmos mais para transformar aquilo que estiver ao nosso alcance. 
Um ponto de partida mais concreto nessa conversa reside numa visão equivocada de que o destino aconteceria apenas em momentos dramáticos de nossas existências, naqueles golpes de sorte, coincidências magníficas ou mesmo nas tragédias inesperadas. Certamente, é diante de acontecimentos portentosos que atualizamos a ideia de haver um destino que não dominamos e que, quando emerge, transforma nossas existências para sempre. Porém, se chamamos destino apenas os acontecimentos com capacidade para grandes guinadas na vida (fatos que só ocorrem de vez em quando, sejamos francos), o que acontece com o restante do tempo? Na verdade, a força do destino que supomos residir apenas nas tragédias ou profundas alegrias vai se tecendo no dia a dia, por meio dos hábitos. Repetidos à exaustão todos os dias, eles moldam nosso caráter e, por sua vez, nosso caráter molda parte dos acontecimentos que nos conduzirão a eventos de grande magnitude. Comer muitos doces todos os dias engordará, fazer caminhadas diariamente aliviará suas tensões e preparará você para a luta da vida, repetir os mesmos movimentos no teclado do computador e mouse sem uma postura ergonômica adequada criará dores musculares; a lista é interminável, os hábitos que repetimos automaticamente diariamente são formiguinhas que passam despercebidas, mas que juntas se transformam nesse formigueiro poderoso que é muito difícil de mover. 
Por isso, da próxima vez que você se perguntar se é possível mudar o destino, observe a maneira como você mesmo se comporta. Se for capaz de modificar seus vícios e cacoetes, então sua alma estará mais próxima de dominar o destino também. Pelo contrário, se você não é capaz, por preguiça ou má vontade, de intervir em sua rotina e alterá-la naquilo que desgosta, então sua alma estará mais distante de poder arbitrar livremente sobre o futuro. 
Que essa reflexão sirva para prestar atenção a tudo que é deixado no automático e que poderia ser ponto de apoio para você exercitar sua força de vontade, pois, afinal, os hábitos não surgem do nada. Em algum momento do passado você pode tê-los recebido de seus pais, da escola, da sociedade, ou também pode ter tido uma vontade passageira que acabou se cristalizando e você deixou de questionar. No fundo, como dizia Jung, “o que não enfrentamos em nós mesmos acabaremos encarando como destino”. Prefiro, nesse quesito, exercer pelo menos a minha parte de domínio sobre essa força.