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Um pé no sítio, outro na cidade

Em Catuçaba, próxima à São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, Peèle e Yentl mostram que é possível morar no campo e trabalhar à distância. Com qualidade

Um pé no sítio, outro na cidade – Eduardo Foresti e Arthur Soares

Se você mora em uma cidade grande, provavelmente
já sonhou em algum momento se mudar
para bem longe. Fugir da bagunça e da confusão,
gastar menos dinheiro. Ter talvez um sítio
no meio do mato, plantar e colher seu próprio
alimento. Morar em uma casinha caiada e levar
uma vida mais tranquila. E pode ser que tenha
desistido do desejo por questões práticas que
acabam inibindo a vontade, pelo menos a curto
prazo: é possível ganhar dinheiro num lugar
como esse? Como ficar longe dos bons restaurantes,
da vida cultural e dos amigos?

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Os publicitários Paulo Lemos – mais conhecido
como Peèle – e Yentl Delanhesi, passaram
por tudo isso. Só que a vida deu um empurrãozinho
para que realizassem o sonho. Peèle
nasceu no Vale do Paraíba e logo mudou com
a família para o interior de Goiás, onde desfrutou
a infância. Yentl nasceu em Porto Alegre,
mas sempre teve um contato muito forte com a natureza. Os dois se conheceram em São
Paulo quando trabalhavam em uma agência de
propaganda. Logo perceberam que tinham em
comum a curiosidade por lugares diferentes e
formas alternativas de viver.
Começaram a morar juntos e, quase por impulso,
compraram um sítio para passar os fins
de semana em Catuçaba, cidadezinha próxima
à São Luiz do Paraitinga – por ser relativamente
perto da capital paulista e, ao mesmo tempo,
guardar características de um interior cada vez
mais raro. Dizem que Catuçaba é o último reduto
caipira do estado.
Acontece que logo depois da compra, Peèle
recebeu uma proposta para trabalhar em uma
agência de propaganda em Miami. O casal se
mudou para a cidade americana e acabou ficando
por dois anos. Na sequência, transferiu-se
para Los Angeles por mais um tempo. Ambos
trabalhando como freelancers. A ideia era ficar por lá. Durante esse período nos Estados Unidos,
contudo, eles começaram a perceber que
o fato de estarem longe não impedia que tivessem
bastante contato com os amigos do Brasil.
Nem atrapalhava a vida profissional, pois o formato
de trabalho nos EUA já era remoto e feito
de uma maneira tranquila. A experiência mostrava
que morar em uma área mais rural e trabalhar
à distância seria possível em qualquer
lugar… Até no Brasil. E passaram a alimentar a
possibilidade de voltar, não mais para São Paulo,
mas diretamente para o campo.
Como não tinham experiência com a vida na
roça, exceto as lembranças de infância, resolveram
se preparar um pouco mais enquanto
ainda estavam no exterior. “Yentl trabalhou
como voluntária em uma horta orgânica e eu fiz cursos em uma fazenda próxima a Los Angeles.
Aprendi, entre outras coisas, a fazer queijos com
leite de cabra”, conta Peèle.
Um ano atrás, Bernardo Paz, idealizador do
centro de arte contemporânea Inhotim, em Brumadinho
(MG), os chamou para propor novos
modelos de desenvolvimento para o parque. Foi
o impulso que faltava para o casal voltar de vez.
Para desenvolver um trabalho mais conectado à
realidade e às necessidades do lugar, moraram
dentro do Inhotim até concluírem o trabalho.
E dalí partiram definitivamente para Catuçaba.
Quando compraram o sítio, a única benfeitoria
que havia era uma casinha centenária de
cerca de 70m2
com dois quartos, um banheiro
e uma sala integrada à cozinha. “Para poder
mudar, refizemos a parte elétrica e hidráulica renovamos as instalações do banheiro e adicionamos
um forro para proteger do frio. Também
instalamos janelas do tipo guilhotina e reformamos
o forno à lenha”, detalha o morador.
A decoração dos ambientes é minimalista e
pessoal. Os tampos da mesa da sala e da bancada
do banheiro, por exemplo, foram desenhados
por Peèle e executados por um senhor que
utiliza apenas madeira de árvores que caem naturalmente.
“A estética é muito importante pra
gente porque dá a ‘melodia’ do lugar. Então, estamos
o tempo todo mexendo nos objetos, colocando
ou tirando um acessório, às vezes, que
encontramos no sítio, por exemplo”, diz Yentl.
Para trabalhar à distância, o maior desa o
foi conseguir instalar uma conexão de internet.
Foram três meses até descobrir como fazer: a
saída era colocar uma conexão por rádio. Hoje
em dia o casal tem uma empresa de consultoria
chamada Niiez. Se comunicam por e-mail e fazem
a maior parte das reuniões virtualmente.
Uma vez por mês pelo menos, eles saem para
as reuniões presenciais. Pode ser em São Paulo,
Inhotim ou até Los Angeles, onde mantêm
contatos profissionais e amizades.
No sítio, eles captam a água de uma nascente,
além de plantar e colher o próprio alimento.
Agora estão construindo um galinheiro com a
ajuda do Joãozinho, o caseiro.
A mistura do dia a dia no campo com o trabalho
realizado de longe deu a Peèle e Yentl
uma rotina harmônica e próxima à natureza
que não pára de dar frutos. “A vida na roça parece
não ter novidades. Mas sempre rola uma
visita inesperada, um convite para um café,
uma chuva que vem para fazer a gente dar uma
aquietada”, afirma Peèle. Esses ensinamentos,
o casal leva para a consultoria e acaba inserindo
nos trabalhos tão singulares que desenvolve
para a gente da cidade grande.