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O caminho para a satisfação

Para o lama Michel Rinpoche, a dificuldade de encontrar a verdadeira fonte do bem-estar tem a ver com o fato de estarmos presos a oito preocupações materiais – e dedicarmos energia demais a elas

Lama Michel Rinpoche – Acervo Bel Cesar

“É preciso parar de procurar satisfação onde ela não está”, responde o lama Michel Rinpoche. “Um bom exemplo é a história do homem que procurava suas chaves debaixo de um poste de luz. Na tentativa de ajudá-lo, alguém perguntou onde ele tinha perdido as chaves. ‘Na outra rua’, ele respondeu. ‘Então por que está procurando aqui?’ , quis saber a pessoa. ‘Porque aqui tem luz, lá não.’ Quantas vezes colocamos energia em algo sabendo que lá não está a solução? O caminho pode parecer mais fácil, porém é inútil.” 

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A história está publicada no livro recém-lançado pela ed. Gaia, com o título Grande Amor – Um Objetivo de Vida , Diálogos entre Lama Michel Rinpoche e Bel Cesar. Ele, um jovem monge budista e fi lho dela, mãe e psicóloga.
Na conversa, que discorre, entre outros temas, sobre os tipos de sofrimento e o que fazer diante de situações muito difíceis, Bel comenta que é próprio da sociedade capitalista as pessoas se sentirem insatisfeitas, quererem mais e mais
Um comportamento que fica ainda mais exacerbado pela existência de toda a sorte de estímulos externos a que somos submetidos. Lama Michel explica que o bem -estar constante surge da capacidade de reconhecermos nossa satisfação interna. Mas que buscá-la na felicidade material é enganoso – e passageiro. 
Se, contudo, soubermos reconhecer verdadeiramente o que nos dá satisfação, poderemos ter ou não mais coisas sem sofrer com isso. Sem apego, sem aversão, nem possessividade – que gera aversão e ódio. “Vamos falar de um problema atual: a escassez de água. Quando consigo água, logo penso que é minha. Como sei que há pouca água onde estou, o que faço se uma pessoa se aproxima dizendo que está com sede? Escondo a água. Basta sua intenção de beber a minha água que já sinto uma certa aversão. E da aversão nasce o conflito, que é o oposto do bem-estar.
“O problema é que estamos presos aos oito dharmas mundanos ou oito preocupações mundanas: ficar feliz quando se 
consegue um bem material; ficar infeliz quando não se consegue um bem material; ficar feliz quando se tem um prazer sensorial; ficar infeliz quando se tem um desprazer sensorial; ficar feliz quando se tem boa reputação; ficar infeliz quando se tem má reputação; ficar feliz quando se é elogiado; ficar infeliz quando se é criticado.” 
Projetar nisso a satisfação – dedicando tanto tempo e energia a esses interesses – é como procurar as chaves onde sabidamente elas não estão só porque é mais fácil assim. 
A saída, diz o monge budista, é redirecionar a nossa energia para nos libertarmos das ilusões e renunciar ao sofrimento. “Eliminar o que não nos faz bem para dar lugar a uma felicidade muito maior. Todos os grandes mestres que conheci até hoje são exemplos claros de pessoas muito felizes… Isso acontece porque acessam essa alegria de outro lugar, não apenas das condições que estão à sua volta.” Talvez seja aí que tocam a própria essência, um aspecto interior que existe independentemente de onde, com quem ou como estivermos.
Lama Michel Rinpoche nasceu em São Paulo em 1981. Aos 5 anos, foi reconhecido pelo lama Gangchen Rinpoche, líder de uma das vertentes do budismo tibetano, como a reencarnação de uma linhagem de lamas tibetanos. Aos 12, inspirado pelo convívio com lama Gangchen tornou-se monge e passou a viver no Monastério de Sera Me, na Índia, onde estudou a filosofi a budista tibetana. Desde 2006, reside na Itália, mas por três meses do ano dá continuidade aos estudos no Monastério de Tashi Lhumpo, no Tibete. É autor dos livros Uma Jovem Ideia de Paz (ed. Sarasvati) e Coragem para Seguir em Frente (ed. Gaia). No Brasil, é um dos mestres do Centro de Dharma da Paz Shi De Tchö Tsog. centrodedharma.com.br