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Paraty para além da Flip

Em julho, a Feira Literária Internacional de Paraty atrai holofotes para a pequena cidade histórica, localizada no litoral sul do Rio de Janeiro. Mas há um mundo acontecendo em paralelo que merece igual atenção

Edgard – Divulgação

“Paraty é lugar de repouso, restauração, poesia, arte, bons
espetáculos. Um lugar para onde fui parar porque precisava de introspecção para
dar seguimento ao processo de criação de um projeto. Tem gente interessante de muitas
nacionalidades e ao mesmo tempo é calma e tranquila”, conta Edgard Gouveia Jr,
arquiteto, urbanista e especialista em jogos cooperativos que motivam as
pessoas à ação por um mundo melhor. O espírito não é o da competição, mas de
gincana com altas doses de brincadeira. Não existem vencedores, porque todos
ganham. Por meio destes jogos, ele tem conseguido inspirar muitos jovens a
botarem a mão na massa para melhorar a cidade, o país e onde quer que alguém
precise de ajuda.

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Em 2008, graças à sua metodologia de brincadeiras sociais
batizada Oasis, Edgard e cinco amigos conseguiram mobilizar mais de 3 mil
jovens de diferentes regiões do Brasil para revitalizar 12 comunidades afetadas
pela enchente do rio Itajaí, em Santa Catarina. Em cinco dias, ergueram 43
construções — entre pontes, playgrounds, quiosques, campos de futebol, casas e
praças. Nos quatro meses seguintes, o Oasis se espalhou para outras cidades. São
três as regras para melhorar a vida em nosso planeta “brincando”: a ideia
precisa acontecer rápido, não pode envolver gastos financeiros por parte dos
participantes e o processo tem que ser divertido.

Para mobilizar tanta gente em pouco tempo, criaram três times:
fogo, formado por universitários, cujo perfil era o de ir até Santa Catarina
botar a mão na massa; ar, com pessoas de diversas profissões (de jornalistas e
donas de casa a engenheiros) que queriam ajudar mesmo dentro de suas casas; e terra,
envolvendo escolas públicas. Estratégia definida, publicaram uma plataforma
online gratuita com informações para inscrições nos times.

Foram criadas pequenas tarefas para que as pessoas
conseguissem se organizar e mobilizar mais gente ao redor. A história se
espalhou pela internet e alcançou tamanha dimensão que chegou ao ponto de ganhar
um espaço de mobilização dentro da São Paulo Fashion Week, uma das maiores
feiras de moda do Brasil. O encontro dos times pessoalmente foi em Blumenau. De
lá, partiram para as áreas da enchente do Itajaí. Ao chegar, a pergunta que
fizeram às pessoas afetadas foi: qual é o seu sonho? Isso mesmo – as
reconstruções foram de sonhos, do que mais sentiam falta e desejavam ter em
suas comunidades. Esta iniciativa deu tão certo que rendeu a ele convites para
falar e dar aulas em diversos países, incluindo a Universidade de Havard, nos
Estados Unidos.

O salto foi grande, mas Edgard percebeu que poderia ser
ainda maior. Atualmente se empenha em lançar outro jogo cooperativo, o Play the
Call, uma gincana mundial online com tarefas concretas no mundo real e cuja
meta é envolver 2 bilhões de pessoas em 4 anos por meio de jovens mobilizadores
de 7 a 18 anos, em todos os continentes. Primeira fase estruturada, ele partiu
em busca do local perfeito para expandir os próximos passos. E a cidade escolhida
foi Paraty.  “Entre uma reunião e outra
do Play the Call, parávamos para caminhadas na praia e idas a cachoeiras”,
conta. Essas pausas expandiram o projeto a passos largos.

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Para jogar, os jogadores precisam cumprir missões e ganhar
pontos que gradualmente aumentam seu poder de impacto. No nível 1, pessoal, a
tarefa (sempre uma ideia dos organizadores do Play the Call) cabe apenas ao
jogador. Após cumprida, a seguinte é o nível 2, familiar, onde é possível
convidar a família para cumprir a missão; no 3, o chamado se estende à
vizinhança; no 4, à escola; no 5, a praças, áreas verdes, ruas do bairro; no 6,
a meta se transforma em mobilizar o bairro inteiro; no 7, chega-se ao nível
planetário, onde jogadores de todos os continentes deste nível realizam a mesma
missão, cada um na sua comunidade.

“Pegando como foco a sustentabilidade, por exemplo, no nível
1 sua missão pode ser construir um jardim que caiba na palma da mão. No nível
2, mapear com a família a biodiversidade que circunda a sua casa; no 3, chamar
os vizinhos para criar um jardim”, exemplifica Edgard.

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Igor é um jogador de 13 anos. A missão dele era escovar os
dentes usando um copinho com 200 ml de água. “Quando surgiu a missão, eu economizei
água. Foi bem legal, não é tão difícil”, conta, todo feliz, na página do
jogo no Facebook. Atualmente, 300 jogadores estão testando a versão Beta até
que o jogo esteja pronto para ser aberto para todos. A participação é gratuita.

DICAS de Edgard Gouveia Jr.,
arquiteto, urbanista, morador de Paraty para curtir a cidade

– Caminhe pelas ruas desertas do centro histórico a partir
de dez da noite

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– Coma nos restaurantes Refúgio e Caminho do Ouro

– Caminhe pelo cais do porto em noites de lua cheia e
aproveite a vista para o mar

– O forte tem uma vista maravilhosa, bom para fazer ioga e
meditar

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– Veja a lua nascer na praia do Jabaquara

– Tenha conversas interessantes com artistas locais

– Atenção aos encontros significativos que tiver com as
pessoas que encontrar pelo caminho

Para saber mais:

http://www.playthecall.com.br/

Palestra do Edgard sobre o Play the Call no TEDxJardins:

http://tedxtalks.ted.com/video/Play-the-call-Edgard-Gouveia-Jr

Palestra do Edgard sobre a ação do Oásis em Santa Catarina
no TEDxAmazônia:

https://www.youtube.com/watch?v=24JR3cFhZng