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Malga Di Paula – Cadu Pilotto

Hoje eu quero falar sobre uma experiência incrível que venho vivenciando há seis anos, desde que resolvi mudar meus hábitos alimentares e me tornar vegetariana. 

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Esse era um desejo crescente em mim, por perceber que tirar a vida de outro animal para me alimentar me causava um grande desconforto. Mas o fato de eu ser gaúcha e ter uma dieta originalmente carnívora tornava esse objetivo algo que parecia impossível de alcançar.
Certo dia, fui profundamente tocada ao ver um peixe morrendo asfixiado, em um programa de pesca, no mesmo período em que meu marido lutava para respirar – já que era portador de enfisema pulmonar. 
Cresci na roça e vi muitos animais morrerem para virar alimento. Na época, aquilo parecia normal. O episódio do peixe, contudo, aconteceu em um momento em que eu vinha questionando o comportamento humano de se colocar acima de todas as espécies. Percebi que eu queria ser diferente disso e lembrei-me de uma frase de Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Resolvi, então, mudar. E parei de comer todos os tipos de carne.  Devo confessar que não foi tão fácil, principalmente porque era uma decisão solitária – não é porque eu estava decidida a mudar que as pessoas à minha volta tinham que mudar também. Hoje, depois de ter atingido o meu objetivo e me sentir feliz com a decisão, percebo o quanto eu precisei ser persistente para seguir em frente com o meu objetivo.
Esse desbravar de fronteiras tem sido uma lição muito importante em todos os aspectos de minha vida. Sentar-me em uma mesa com pessoas se alimentando de carne tem sido um grande exercício de tolerância. Mas não a tolerância no sentido daquilo que a gente apenas suporta, como se fôssemos superiores. Estou falando de tolerância no sentido de respeitar as escolhas de cada um. 
Agora venho me preparando para uma nova mudança. Pretendo parar de consumir qualquer produto de origem animal, desde alimentos até o vestuário. Tenho pesquisado muito a respeito e concluído que a minha atitude pode fazer alguma diferença para o futuro do planeta. E assim caminho para o veganismo. 
Estou me preparando para as dificuldades que vou enfrentar – a gente não imagina quantos produtos no mundo têm uma relação com a origem animal – mas estou determinada a seguir em frente, afinal sentir-se em paz consigo mesmo é a nossa constante busca. Só eu sei o prazer que sinto de adotar uma dieta em que não entram produtos animais. Tanto por motivos éticos – porque compartilhar a minha vida com “eles” é aprender cada vez mais que o amor é uma fonte inesgotável de disposição para cuidar, amparar e compreender… – quanto fisiológicos. Meu corpo respondeu superbem à troca no cardápio. No fundo, essa transição no prato é mais um desafio que me coloco. 
Tomarei outras decisões radicais? É bem provável que sim, pois, conforme dizia o grande Heráclito, um filósofo grego do século V a.C., “Nada é permanente, exceto a mudança”.