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Saudade em branco e preto

Um novo site de fotografias surge para despertar o sentimento do mundo em imagens que tratam da diversidade e da poesia em diferentes latitudes e longitudes

Saudade em branco e preto – Daniela Picoral
“Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!”. No poema Confidência do Itabirano, Carlos Drummond de Andrade fala de uma saudade profunda
da terra natal, Itabira, em Minas Gerais. Resume com a imagem de um retrato na parede a nostalgia de um tempo e a melancolia por algo tão prazeroso que se tornou ausente.
É esse sentimento do mundo que a fotografia pode disparar, como um gatilho. E que o site saudades.co, lançado este ano, vem acalentar. A ideia surgiu de um imenso arquivo de imagens de viagens que a gaúcha Daniela Picoral, radicada em São Paulo, possuía. “Eram cliques que todo fotógrafo faz para si mesmo nos intervalos
entre um trabalho e outro, mas que acaba nunca revelando”, conta a profissional que, até então, fotografava executivos para revistas de negócios e contava histórias de amor para álbuns de casamento.
Um dia, fazendo a curadoria desse material, ela se flagrou tocada pela luz captada naqueles momentos, rememorando paragens onde certamente gostaria de voltar. “Achei que outras pessoas poderiam se sentir igualmente transportadas para lá, que poderia despertar a mesma vontade de percorrer o mundo ou de lembrar algum lugar
visitado no passado”, diz. “A gente vê uma foto e retoma um momento. Olho a igreja enfeitada de bandeirinhas no Maranhão, por exemplo, e lembro daquele dia ensolarado, de como estava quente, das crianças jogando bola em frente à igreja”, conta. A partir daí, toda a viagem vai sendo recuperada. “Vem a sensação boa de estar em um lugar desconhecido, a sensação de liberdade por não ter horário, a leve ansiedade de um primeiro dia de viagem. Para mim, a fotografia é o interruptor da memória: uma única cena acende inúmeras lembranças. E com elas vêm o desejo de explorar outros cantos.”
O site da Saudades Edições Fotográficas, como Daniela batizou o projeto, acabou reunindo seis profissionais com essa filosofia. Fotos de paisagens nacionais ou estrangeiras, sempre menos óbvias, com ângulos ternos. Como o enquadramento de um cinema na Provença, França. “Esse clique me traz os cheiros e gostos da região, principalmente das taças de vinho rosé geladinho”, recorda a fotógrafa. Já as dunas dos Lençóis Maranhenses a fazem sentir falta de estar ao ar livre, lançar o olhar ao longe, ampliar horizontes.
O trabalho em preto e branco foi escolhido nesta edição porque Daniela o considera ainda mais sensível. “Consegue revelar estados de espírito e emoções com mais intensidade. Muitas vezes, a cor se torna um elemento de distração e eliminá-la torna a imagem mais impactante”, compara. No site, contudo, há tanto registros
em cor como em preto e branco à venda. O que os une é a intenção: explorar a diversidade e a poesia de tantas latitudes e longitudes a fim de despertar a nossa curiosidade e nos fazer sonhar.
Se a fotografia aciona a nostalgia e traz de volta uma emoção boa experimentada e já passada, melhor exibi-la. “Por isso eu diria para todos que fotografam com o celular ou tablet para escolher as imagens favoritas e mandar imprimir. Seja para colocar em um álbum, colar na geladeira, deixar em um porta-retratos”, sugere Daniela. Ou pendurar na parede, como no poema de Drummond.

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