Publicidade
Malga Di Paula – Cadu Pilotto
“Você vai superar isso.” É provável que você já tenha ouvido ou usado essas palavras para confortar alguém. Mas talvez você nunca tenha parado para pensar sobre a amplitude da palavra “superação”. A etimologia nos diz que o termo vem do latim superatio e significa o “ato de elevar-se, de passar por cima”. De cara, vemos que a palavra já nasceu com um quê de heroísmo. E isso faz sentido, pois a superação frequentemente exige um esforço sobre-humano de cada um de nós. 
Na hora do sufoco, muitos de nós somos tomados por uma sensação de que é quase impossível estar acima do que aconteceu. A dor pode nos paralisar a ponto de turvar nossa memória das muitas situações difíceis que já vivemos antes e que superamos. Aliás, a vida é pródiga nesse sentido. O limite que superamos ontem é apenas um ensaio para o desafio que virá amanhã. Minha experiência guarda semelhança com a descrita por Elizabeth Gilbert no livro Comer, Rezar, Amar (ed. Objetiva). Há uma passagem em que a autora descreve seu sentimento diante do “Augusteum”, o mausoléu construído pelo rei Otaviano Augusto para abrigar seus restos mortais por toda a eternidade. Augusto jamais poderia supor que um dia o Império Romano viraria pó e que seu mausoléu seria tomado por ruínas. 
Olhando as ruínas do mausoléu, a personagem pensa em todas as transformações pelas quais aquele lugar passou: foi queimado, devastado, mas depois encontrou  uma maneira de se reconstruir. Assim é com cada um de nós. Precisamos lembrar que a nossa ruína pessoal é transitória. Não é fácil, claro. Nos momentos difíceis, a sensação de que estamos desmoronando parece não ter fim. Mas, e isso a vida me mostrou, a ruína pode ser o indício de uma transformação urgente que, às vezes, estávamos recusando. 
Posso dizer que aprendi coisas diferentes em cada crise pela qual passei. E, de certa forma, um aprendizado completou o outro. O amor incendiou meu coração com a deliciosa sensação de acordar todos os dias com a certeza de estar construindo uma vida plena com um homem maravilhoso. Já a perda desse homem me jogou na ruína. A dor parecia ter o carimbo da eternidade, mas foi justamente essa dor que me fez redescobrir o amor por mim mesma! 
A vivência da ruína em que a dor me lançou revelou-se futuramente um presente. Em algum momento, tornou-se possível amar a minha dor. Não, isso não significa que assumi o papel de vítima e me acomodei nele. Ao contrário, foi naquele momento que eu me senti senhora da minha própria dor. Não podia jogá-la debaixo do cobertor, mas podia trazê-la à tona. Ficar cara a cara com ela. A dor imensa que eu sentia pela perda de uma pessoa podia se tornar uma gratidão profunda por essa pessoa ter aparecido na minha vida. Eis aí um curioso paradoxo: ao respeitar a dor, você não fica mais apegado a ela; se torna mais forte, consciente de que pode enfrentar qualquer sofrimento, criando assim, as condições para superá-la. A chave da superação pode estar na própria dor.

Publicidade