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Medo x coronavírus: especialista explica como receios demasiados podem desencadear doenças psicológicas

Profissional esclarece dúvidas sobre o medo enfrentado pelas pessoas frente à pandemia do Covid-19

É comum sentirmos medo durante o isolamento? – Getty Images

Com a chegada do coronavírus ao Brasil, a recomendação é que fiquemos em casa o máximo possível, saindo apenas em casos de extrema necessidade. Mas sabemos que essa missão pode não ser fácil para muitas pessoas. Serão o isolamento e a mudança brusca na rotina, motivos para desencadear uma sensação de medo nos indivíduos?

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A psicóloga Marina Prado Franco, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CTC VEDA em São Paulo, conversou com a Revista Bons Fluidos e esclareceu algumas dúvidas sobre o assunto.

1. Em casos de doença como o coronavírus, é normal as pessoas sentirem medo? Até aonde esse medo pode ser considerado normal?

Em casos de doenças que ainda não temos muito conhecimento sobre, é normal as pessoas sentirem medo, porque o medo é irracional e surge perante situações desafiadoras ou situações em que a gente não tem uma familiaridade. Como não sabemos nos comportar diante desse cenário, não temos controle. Quando não se tem conhecimento sobre um vírus novo, isso por si só já é um fator que pode vir a predispor o surgimento do medo. E até onde esse medo pode ser considerado normal? Um medo considerado normal não atrapalha nossa vivência do dia a dia, não atrapalha nossa rotina, nossas atividades diárias. Quando isso começa a repercutir, por exemplo, no meu sono, na minha relação com as pessoas, nas minhas atividades do dia, isso já pode ser considerado um medo que ‘não é mais tão saudável’ e que deve ser olhado de perto. Ou seja, passa-se a viver em função do medo. Ele faz com que você tome algum tipo de atitude, ou não. Fique paralisado, por exemplo.

2. Isso pode se tornar um medo patológico? Como caracterizar esse tipo se sentimento?

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Para diferenciar o medo patológico do medo comum, a gente deve olhar o quanto de prejuízo isso está trazendo para o indivíduo nas suas relações pessoais e em suas atividades corriqueiras. O medo patológico vai ser um medo que não tem relação com a realidade. Quando existe um medo que não é justificado com base no real e manifesta-se apresentando sintomas intensificados, isso pode ser considerado um medo patológico. Este é, por exemplo, o caso das fobias específicas, como o medo de voar, medo de água, o medo de algum animal em específico, com uma dimensão desproporcional ao perigo que aquela situação realmente provocaria numa pessoa. Então, por exemplo, uma pessoa pode normalmente ter o medo de voar, mas isso tem base nas estatísticas de risco que aquele transporte pode nos trazer. Se a gente tem um medo que tem uma intensidade com sintomas que nos impedem de agir e sem uma razão aparente, isso pode ser considerado um medo patológico.

3. As pessoas podem sentir ansiedade por causa do medo?

Sim. É muito comum que um sentimento esteja atrelado a outros. Então, uma pessoa que está com medo de uma situação específica, ela pode também ficar ansiosa pela ausência de controle. Quando ela percebe, por exemplo, que o medo (patológico) está aparecendo com uma intensidade tão grande que ela não consegue ter o controle daquilo, ter o domínio sobre si mesma, então aparece a ansiedade, com sintomas clássicos de taquicardia, sudorese, boca seca, e pensamentos como ‘será que eu vou morrer?’, ‘eu não vou ter controle sobre esse meu medo’. Na sensação de falta de controle e de que não vai conseguir lidar com aquilo sozinho, é que a ansiedade aparece.

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4. Como é o tratamento?

O tratamento para a ansiedade é justamente, primeiro, a aceitação daqueles sentimentos. Na verdade, já é comprovado que a ansiedade tende a aumentar, por isso, deve-se aceita-la, buscar entender as motivações, os pensamentos que estão passando pela sua cabeça, e questioná-los: ‘quais são as evidências que eu tenho de que esse medo, as preocupações que tenho, de fato, irão acontecer?’. Ter pessoas para te apoiar, fazer uma terapia se você sozinho não está conseguindo lidar com isso. Busque uma ajuda profissional! Boa parte dos psicólogos oferecem atendimento online. E pratique atividade física, pois ela regula os batimentos cardíacos, por exemplo, e libera hormônios ligados ao prazer.

Num momento de isolamento, sendo ele um isolamento parcial, por conta da internet, os amigos e a família podem ser peças chaves para você lidar com essas aflições, porque eles devem acolher isso, te escutar, e devem te contrapor com outros olhares, falar de experiências próprias e, talvez, normalizar aquilo que você está sentindo. E aí, você poderá se sentir acolhido, poderá sentir que aquilo que você está sentindo pode ser algo natural. Só o fato de dividir, ter alguém que não julgue para te escutar, é essencial neste momento.

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Marina Prado Franco é uma psicóloga formada pela Universidade Federal de Sergipe; Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CTC VEDA em São Paulo; Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP; realiza atendimento presencial e online. Tem experiência no atendimento com adolescentes e adultos.