Publicidade

Ansiedade x home office: psiquiatra explica a importância da resiliência para lidar com o problema

Segundo o médico psiquiatra e nutrólogo Frederico Porto, essa capacidade só se desenvolve no ser humano através do descanso. Para isso, recomenda que o profissional faça micropausas no cotidiano para respirar e se acalmar

Médico psiquiatra fez recomendações para vencer a ansiedade no home office – Unsplash/ Chris Montgomery

O home office, consagrado pela pandemia de covid-19, trouxe grandes desafios aos profissionais. Isto porque a reorganização da rotina nem sempre é feita de maneira adequada, gerando situações de estresse e quadros de ansiedade.

Publicidade

Uma pesquisa realizada pela empresa Runrun.it no final de 2020, com 1500 trabalhadores, constatou que 84% dos entrevistados apresentam estresse em decorrência do trabalho remoto (55% dizem estar moderadamente estressados e 29% afirma estar muito estressados). Ainda conforme o levantamento, 61% dos respondentes estão exaustos, sem energia física e/ou emocional e 43% têm grande dificuldade em se desligar das tarefas de trabalho.

O médico psiquiatra e nutrólogo, Frederico Porto, afirma que o regime de home office nublou as fronteiras entre o trabalho e o lazer, ocasionando um quadro de confusão que é revertido muitas vezes em estresse e ansiedade. Porto explica que o ser humano separa suas atividades do cotidiano por espaço. “Antes da pandemia, as pessoas saíam de casa para trabalhar e voltavam para descansar. Essa separação bem definida facilitava o trânsito de um contexto ao outro”, diz. 

+++ Técnica de hipnose pode acelerar o tratamento da depressão

Vida pessoal e trabalho dentro de casa

Publicidade

Agora, relata Porto, está tudo misturado dentro de casa, o que dificulta muitas vezes para o profissional encontrar momentos de parada e desligamento. Conforme o psiquiatra, as pessoas devem criar em suas casas rituais que facilitem a definição dos espaços destinados a trabalho e descanso. “Caso contrário, o esgotamento mental e emocional certamente acontecerá”, diz.

Na sociedade contemporânea, com mudanças constantes e velozes, é cada vez mais comum pessoas sofrem de algum transtornos psíquico. “A vida moderna gera muito mais estresse e ansiedade do que outras eras”, afirma Porto. Segundo o médico psiquiatra, no período pré-histórico, hipoteticamente, o homem topava com um animal perigoso duas vezes por semana e o seu estressor era algo físico, palpável. A situação podia ser confrontada de maneira mais fácil. Havia poucas alternativas: fugir ou lutar.

Já na atualidade, a despeito da comodidade e conforto em que a maioria das pessoas vive, as situações estressantes se proliferaram. “No mundo do trabalho, por exemplo, um colaborador ou um empresário precisa resolver pendências a todo instante, seja relacionado a um fornecedor, cliente etc. É preciso ‘matar um leão’ por hora”, comenta. Além disso, o objeto estressor não é físico, mas mental, e a maneira primária que o ser humano tinha para reagir ao estresse (fugir ou lutar) não funciona mais. “O fato de não conseguirmos descarregar esse estresse como queríamos faz com que ocorra uma série de alterações no nosso organismo”, explica.

Publicidade

A pandemia potencializou os transtornos psicológicos

A pandemia, com seus medos de infecção e anseios pela vacina e volta à vida normal reforçou ainda mais o estresse e ansiedade que já sentíamos. O psiquiatra compara a situação vivida em cenário pandêmico com uma pessoa perdida em um deserto à procura de um oásis. “Em março de 2020, a expectativa era que a ordem normal fosse reestabelecida em um ano. Passado esse prazo, a normalidade não voltou e o que parecia um oásis mostrou-se de fato uma miragem. Um outro prazo de cerca de um ano nos foi dado para que encontrássemos o oásis de verdade e estamos nesse momento a procura dele”, diz.

O médico psiquiatra explica que a ansiedade é um estado emocional que se referência ao futuro. “Nós nunca ficamos ansiosos pelo que já passou, apenas pelo que vai acontecer”, diz. Assim, conforme Porto, a pandemia age para que o quadro de ansiedade das pessoas se aflore, pois reforça a incerteza em relação ao porvir.

Publicidade

+++ Resiliência é se adaptar, superar desafios e ”fazer do limão uma limonada”

A pandemia um dia vai passar, mas dificilmente o dinamismo do mundo contemporâneo será revertido. A tendência, aliás, é que a velocidade das mudanças aumente. “Assim como as estrelas do céu não irão desaparecer, os fatores geradores de ansiedade não diminuirão. Por isso, será preciso cada vez mais desenvolver a resiliência, a capacidade de adaptação, seja em âmbito pessoal, seja em âmbito profissional”, enfatiza o psiquiatra.

Dê uma pausa de tudo!

Publicidade

Para isso é fundamental o descanso. “Nenhum sistema vivo pode ser resiliente sem descansar. A resiliência não está na capacidade de gastar energia, mas na capacidade de recuperá-la”, afirma Porto. Nesse sentido, é preciso introduzir no cotidiano as chamadas micropausas. “É como se fosse proposto tirar dois minutos de férias por hora para respirar. Fazendo isso de maneira rítmica, suave, abrem-se as portas para o descanso rápido e profundo e para a recuperação do organismo”, diz.

De uma perspectiva da medicina integral, que é a que Porto desenvolve em seu consultório, essa reorganização do sistema orgânico, para contornar o estresse e ansiedade, se dá em três frentes: corpórea (com atenção para o sono, alimentação e atividade física); emocional (onde primeiro se identifica quais as emoções presentes, e então faz-se uma intervenção, por exemplo, via respiração); e mental. Assim, inicialmente é preciso buscar a paz no corpo.  

Não é possível continuar ansioso quando se passa a respirar tranquilamente”, garante. Posteriormente, deve-se identificar as emoções que nos dominam. “A partir do momento que elas são identificadas é possível intervir para controlá-las”, diz. A última etapa é fazer a intervenção mental a partir da compreensão dos padrões de pensamento repetidos no dia a dia.

A busca por mitigar os transtornos de ordem psicológica não deve ocorrer apenas da ótica do indivíduo. Como foi dito, as situações que geram quadros ansiosos tendem a aumentar no futuro. Lidar com isso será uma questão cada vez mais constante nas empresas. “Da mesma maneira que investem em capital técnico para que os profissionais se aprimorem, as corporações precisão investir no treinamento de competências emocionais”, diz o psiquiatra. Conforme Porto, a resiliência integral (física, emocional, mental e espiritual) será competência fundamental para trabalhadores e gestores serem capazes de lidar com os desafios da vida daqui para a frente.

+++ Home office: saiba porquê trabalhar da cama não é uma boa ideia, embora pareça confortável

Sem esquecer, claro, de procurar profissionais adequados para o tratamento quando o seu quadro de ansiedade se tornar patológico. Porto alerta para possíveis sinais, tais como alteração do sono. “O sono é um termômetro fundamental, porque é o maior descanso que o ser humano possui. Você percebe que está com problemas para dormir, quando demora para pegar no sono ou quando acorda no meio da madrugada”, diz.

A falta de prazer também é um indício de que as coisas não andam bem. “Se algo que costumava gostar de fazer não está mais sendo prazeroso, fique atento”, afirma o psiquiatra. O terceiro sinal é a desesperança. “A espécie humana é a única que tem noção de tempo e que faz projeções. Se você deixa de se inspirar pelo que o futuro pode trazer, talvez seja o momento de procurar ajuda”, conclui.