Fadiga do ping: o impacto silencioso das notificações digitais na saúde mental
Psicólogo Alexander Bez explica como o excesso de estímulos digitais pode comprometer a cognição, a criatividade e o equilíbrio emocional

Psicólogo Alexander Bez explica como o excesso de estímulos digitais pode comprometer a cognição, a criatividade e o equilíbrio emocional
Você sente um cansaço mental inexplicável, mesmo sem grandes demandas físicas? Tem a impressão de estar sempre “de plantão”, mesmo fora do expediente? Pode ser sinal da chamada “fadiga do ping”, termo que descreve a exaustão provocada pelo fluxo constante de notificações digitais, oriundas de aplicativos como e-mail, LinkedIn e redes sociais em geral.
“Estamos vivendo em uma realidade midiática-digital, onde a conexão constante se tornou um novo normal. Porém, isso nos coloca em um estado de alerta permanente, o que mina, aos poucos, nossa saúde mental”, afirma o psicólogo Alexander Bez.
Primeiramente, essa nova normalidade tecnológica pode parecer, para muitos, como um trem-fantasma interminável ou até mesmo uma montanha-russa mental, como define o especialista: “É como estar preso em um looping. A mente gira em voltas incessantes, semelhante à sensação de uma força G negativa. Isso tem consequências reais sobre o nosso funcionamento cerebral, especialmente no lobo frontal, responsável pela cognição, criatividade e tomada de decisões”.
A exposição prolongada a notificações e conteúdos digitais afeta diretamente nossa produtividade, concentração e habilidades cognitivas. O psicólogo alerta que o excesso de informações causa sobrecarga e nos impede de concluir tarefas no mundo real.
“Estamos mergulhados em um mar de estímulos que nos sequestra das nossas prioridades diárias. O cérebro, para se manter saudável, precisa de pausas, de momentos offline e de interações físicas verdadeiras, algo que está cada vez mais raro”, pontua.
O fenômeno se conecta diretamente com o que autoridades americanas já denominam como Pandemia da Solidão: um cenário onde as relações presenciais diminuem enquanto as digitais crescem, criando uma falsa sensação de conexão social. “Muitas pessoas acreditam que estão se relacionando porque interagem online, mas, na verdade, estão se afundando em uma solidão silenciosa e prejudicial”, observa Bez.
E os impactos não param por aí. A polarização política e o consumo excessivo de conteúdos ideológicos nas redes também contribuem para esse quadro de fadiga e confusão mental. “O indivíduo passa a viver dentro da realidade paralela dominada por fake news, extremismos e delírios coletivos. Isso rouba sua lucidez e empobrece sua capacidade crítica”, alerta o profissional.
A chave, segundo ele, está no equilíbrio: “A grande sacada está em dosar o tempo que passamos nesses aplicativos. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas reconhecer seus limites. Quanto mais conectados digitalmente estamos, menos conectados com a realidade ficamos”.
Por fim, conclui com um alerta contundente: “Os apps, quando usados em excesso, atrofiam a criatividade, limitam a cognição e nos isolam socialmente. O cérebro humano precisa de interação presencial para se desenvolver e manter-se saudável’’
*Texto de Luana Dourado, da Assessoria Márcia Stival