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A magia da oralidade

Quem conta histórias faz um bem danado à alma de quem se converte em plena escuta. Que o diga a atriz Ana Luisa Lacombe. Em livro, ela resgata as belezas desse ofício milenar

A magia da oralidade – Divulgação/ Marina Bitten

Ouvir uma narrativa bem contada é um deleite em qualquer idade. Ainda mais quando nos atravessa por todos os poros. Especialista nessa arte há 14 anos, a atriz carioca Ana Luisa Lacombe lança Quanta História Numa História – Relato das Experiências de uma Contadora de Histórias (ed. É Realizações, R$ 39,90). A obra, acompanhada da versão em audiobook, aborda temas relacionados ao ofício, tais como gêneros narrativos, estudo da história, recursos pessoais (voz, corpo, respiração), além de experiências que marcaram a trajetória da artista. Falamos com ela para que destaque alguns de seus mais saborosos “causos”.

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De que elementos você se vale para tocar plateias de todas as idades? 
Nos espetáculos narrativos uso os recursos do teatro, mas nas narrações simples apenas conto e toco meu ukelele ou violão para acompanhar as canções que uso para alinhavar as histórias. Acredito no poder das palavras e estudo bastante a trama. Assim, com o domínio da narrativa, consigo levar todos comigo na “viagem”.
 
O que as histórias podem fazer por nós em qualquer tempo e lugar? 
Elas nos abastecem de mundo simbólico, o que nos ajuda a lidar com o real. Trazem metáforas sobre as situações da vida levando a uma existência mais sensível. Através do mundo sombrio, muitas vezes apresentado nas histórias, adquirimos recursos para lidar com essas questões quando elas surgirem em nossa vida. Além disso, podemos nos conectar com nosso próprio lado sombrio, lidando com ele de forma mais saudável e integrada.
De qual passagem você jamais se esquecerá?
Certa vez, na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), crianças com paralisia cerebral foram se soltando, participando espontaneamente, fazendo comentários e até sonoplastia (batidas na porta, cavalo, campainha etc.). As mais apáticas começaram a sorrir e se manifestar. Alguns, que não conseguiam falar, demonstravam seu entusiasmo rindo, balançando-se e tentando se expressar através do corpo. Percebi que incluir crianças com dificuldades motoras e verbais nas histórias era uma maneira de torná-las presentes e atuantes.
ANA LUISA LACOMBE