O luto: os caminhos naturais para a reconstrução do ser
Esta é uma das experiências mais profundas da nossa existência e envolve não apenas a dor da perda, mas uma complexa reconstrução interna

Esta é uma das experiências mais profundas da nossa existência e envolve não apenas a dor da perda, mas uma complexa reconstrução interna
Há poucos dias, perdi minha avó e não sei dizer se a ficha já caiu, estou ainda processando. O luto é uma das experiências mais profundas da nossa existência. Ele envolve não apenas a dor da perda, mas uma complexa reconstrução interna diante da ausência de alguém que fazia parte de nosso universo.
Minha avó era aquele tipo de pessoa que eu jurava ser imortal, minha velhinha, com 93 aninhos, mas vitalidade e saúde de 15. Já havia passado por tantas, que eu e minha família jamais imaginaríamos que um tombinho de nada fosse o convite de entrada para o lado de lá. É difícil aceitar e mais difícil ainda é ter que ouvir: “Mas ela viveu muito, estava na hora!”. Como se o partir tivesse hora marcada.
Perder alguém, seja por morte, separação ou outro rompimento definitivo, significa se despedir de um futuro que já não será vivido como antes, de um presente com vazio. Ainda que venha a acontecer com todos, o luto é um processo absolutamente único em cada pessoa. Não há receitas prontas, nem prazos determinados para que a dor ceda espaço à aceitação. De acordo com a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, existem cinco fases do luto. São elas: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Ainda que nem todos passem por essas etapas de forma linear.
Além dos impactos emocionais, o mesmo também pode afetar o organismo de forma significativa. Distúrbios do sono, alterações no apetite, imunidade, dores físicas e fadiga constante são sintomas comuns. Eu mesmo estou com o descanso totalmente desequilibrado. Hoje, felizmente, foi o primeiro dia em que dormi algumas horinhas a mais e despertei só as cinco da manhã, porque todos os outros dias, acordei entre duas e três da matina.
Estudos da American Psychological Association (APA) apontam que o luto pode desencadear respostas inflamatórias no organismo, especialmente, em pessoas com histórico de doenças cardíacas ou mentais. Em alguns casos, a perda pode evoluir para o que a medicina denomina luto complicado, um estado crônico de sofrimento que interfere na funcionalidade da nossa vida diária (Shear, 2015). Por isso, é essencial que vivencie-se o processo com atenção, e, assim, se a situação agravar buscar apoio dos especialistas em saúde mental.
Os florais de Bach, criados na década de 1930, pelo médico britânico Edward Bach, atuam sobre os estados emocionais, buscando restaurar a harmonia interior. Apesar de não terem comprovação científica nos moldes da medicina tradicional, estudos observacionais e clínicos indicam que os florais podem promover melhorias perceptíveis no bem-estar psicológico.
Pensando no luto, florais como Star of Bethlehem (para traumas e choques emocionais), Sweet Chestnut (para a dor extrema e desespero), Aspen (que atua sobre medos, como a solidão) e Walnut (para facilitar a adaptação às mudanças) são amplamente recomendados por terapeutas florais. A filosofia é tratar a pessoa e não a doença, promovendo o reequilíbrio sutil das emoções.
Outra aliada importante é a homeopatia, que tanto abordo aqui nos meus textos e que faz toda a diferença quando prescrita de forma assertiva. Baseada na Lei dos Semelhantes e no princípio da individualização, ela trata o paciente como um todo, considerando suas emoções, padrões mentais e reações físicas.
No contexto do luto, medicamentos, como Ignatia amara (para tristeza com nó na garganta, soluços ou suspiros), Natrum muriaticum (para pessoas que sofrem em silêncio, com aversão ao consolo) e Aurum metallicum (em casos de depressão melancólica com pensamentos negativos) são comumente prescritos, sempre com base em avaliação clínica individualizada.
É fundamental ressaltar que tanto os florais, quanto a homeopatia, devem ser utilizados com orientação de profissionais qualificados. Ainda que naturais, essas abordagens não devem substituir tratamentos médicos convencionais quando há sinais de sofrimento intenso, depressão grave ou risco de autolesão.
O acompanhamento psicológico ou psiquiátrico pode ser indispensável em certos casos, e as terapias naturais funcionam melhor como complemento terapêutico. A integração entre diferentes conhecimentos é, hoje, um dos pilares da medicina integrativa, que valoriza tanto os aspectos objetivos quanto subjetivos da saúde.
Viver o luto dentro de seus limites, sem forçar a barra e recebendo apoio é o primeiro passo para a reconstrução emocional. Ainda que marcado pela dor, o luto é também um rito de passagem, uma travessia em direção a uma nova forma de estar, de vivenciar no mundo.
As terapias naturais não prometem apagar a dor, mas oferecem instrumentos para compreendê-la, acolhê-la e, aos poucos, significá-la, um olhar diferente sobre o novo mundo que acabou de abrir, um mundo com lacunas que nem sempre podem ser preenchidas. Elas permitem que a ausência se transforme em memória afetuosa e que a dor seja convertida em amor elaborado. Nessa jornada, cada lágrima pode ser um degrau de cura. O luto não é sobre esquecer, mas sobre aprender a lembrar sem dor e com essa convivência, aos poucos, a dor dá lugar à saudade serena e à certeza de que o amor verdadeiro jamais se perde, apenas se transforma.