Excesso de simpatia? Entenda o que é a Síndrome de Williams, que afeta a sociabilidade das pessoas
Por que algumas pessoas são extremamente simpáticas com estranhos? Saiba mais sobre a síndrome de Williams

Por que algumas pessoas são extremamente simpáticas com estranhos? Saiba mais sobre a síndrome de Williams
Imagine caminhar pela rua e receber sorrisos e gestos de carinho de desconhecidos. Essa é a realidade de muitas pessoas com síndrome de Williams, uma doença genética rara que afeta cerca de uma a cada 7.500 pessoas. Conhecidos pelo comportamento extremamente sociável e afetuoso, pessoas com a síndrome costumam tratar todos como amigos de longa data.
A simpatia desmedida, no entanto, também pode trazer riscos. A dificuldade em reconhecer situações de perigo torna essas pessoas vulneráveis a abusos. Além disso, geralmente têm dificuldade em manter amizades longas e são propensos ao isolamento.
A síndrome ocorre devido a uma questão de DNA e alterações em genes importantes. Um deles, o ELN, é responsável pela produção de elastina, proteína que garante a elasticidade dos tecidos. Sua ausência pode causar problemas cardiovasculares, muito comuns em pessoas com SW. Já o gene BAZ1B influencia na formação da cartilagem e dos ossos do rosto. Por isso, pessoas com a síndrome possuem características faciais específicas – como nariz e queixo pequenos e boca larga.
É difícil, no entanto, identificar quais genes são os responsáveis pela simpatia extrema das pessoas com SW. Uma das teorias é que o BAZ1B também pode influenciar nesse quesito. Outros cientistas acreditam que o gene GTF21 é o responsável, já que estudos mostram que animais com mutações deste gene são mais sociáveis. Em humanos, a falta dele pode estar ligada à baixa mielinização dos neurônios, prejudicando a comunicação entre regiões do cérebro ligadas ao medo e a tomada de decisões.
A parte negativa da síndrome, no entanto, é o que chama atenção. É o que alerta Alysson Muotri, professor de Pediatria e Medicina Celular e Molecular da Universidade da Califórnia. “Eles aceitam todos sem preconceitos, o que parece uma característica encantadora. Mas, no fim, há uma razão pela qual o cérebro humano evoluiu para ser um pouco mais cauteloso com pessoas novas. Você não sabe se elas vão te machucar ou te amar. As pessoas com essa síndrome não conseguem fazer essa distinção”, pontuou.
Diversos problemas de saúde acompanham a doença, como questões cardiovasculares, atrasos no desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem – incluindo um QI abaixo da média. Na idade adulta, a grande maioria dos afetados não consegue viver de forma independente.
Segundo Muotri, a SW forma mais conexões no cérebro relacionadas à recompensa. “Quando você se lembra de alguém ou vê alguém que gosta, seu cérebro libera dopamina, o que cria uma sensação boa. Acredito que as pessoas com síndrome de Williams podem ter uma desregulação desse neurotransmissor. Então, quando veem um rosto novo, imediatamente liberam dopamina e se sentem bem”, teoriza.
Ainda não existe um tratamento para a síndrome. No entanto, um medicamento recentemente aprovado pela Food and Drug Administration (FDA, órgão dos Estados Unidos), chamado clemastina, está sendo testado pela sua capacidade de melhorar a mielinização do cérebro.
A síndrome de Williams continua sendo estudada por revelar aspectos profundos do comportamento humano, e pode ensinar muito sobre o papel da empatia, da gentileza e da conexão social na nossa espécie.