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Pimenta: mocinha ou bandida? Mitos e verdades sobre o ingrediente poderoso

Na coluna desta semana, Jamar Tejada desvenda os conceitos que envolvem o ingrediente picante presente em muitas cozinhas: a pimenta

Jamar Tejada explica mitos e verdades sobre a pimenta; ela emagrece? Causa câncer? Descubra!
Jamar Tejada explica mitos e verdades sobre a pimenta; ela emagrece? Causa câncer? Descubra! – Freepik

Tem quem não consiga viver sem um frasquinho de pimenta ao lado para dar aquela incrementada no prato. Meu avô paterno, já falecido, era um desses. Lembro que ele abria um frasco de pimenta dedo-de-moça e comia com adoração. E eu, que nunca fui fã da especiaria, só olhava o velho e me sentia apavorado com tamanha coragem! Mas o prazer que meu avô sentia ao comer pimenta tem uma explicação científica.

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Quando ela entra em contato com as mucosas da boca, do nariz e da garganta, desencadeia um sinal de dor. Então, de célula em célula, a mensagem chega ao cérebro e reage, produzindo endorfinas que são substâncias relacionadas ao alívio e ao bem-estar. Aí você já deve estar imaginando que ele sofria de gastrite não é mesmo? Estranhamente, não! Mas, está certo o que ele fazia? Claro que não!

Adorada por uns e evitada por outros, as pimentas trazem muitos mitos e há anos os seus efeitos estão sendo estudados no nosso organismo. Há indícios de que a pimenta favorece o equilíbrio dos níveis de colesterol no sangue, a vasodilatação e o controle da pressão arterial, assim como protege nosso estômago. Justamente o contrário do que se pensa, já que muitos a evitam porque acreditam elevar a pressão ou causar uma úlcera.

O fato é que a pimenta é realmente poderosa e o que confere a ela esse poder é um mix de antioxidantes, compostos bioativos, como carotenoides e polifenóis, especialmente flavonoides que atuam em sinergia.

Além disso, possuem um ingrediente exclusivo: a capsaicina. Essa substância é a responsável pelo ardor. Não à toa o nome de batismo – Capsicium – serve para o gênero que engloba as pimentas do tipo malagueta, dedo-de-moça, jalapeño, além das pimentas-de-cheiro e dos pimentões.

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Esse composto bioativo não existe à toa, ele é uma proteção para a planta. O ardor provocado por ele afasta predadores dos frutos, como alguns mamíferos, mas as aves são imunes e exercem papel fundamental na manutenção da espécie. A coloração das pimentas Capsicum silvestres atrai as aves que, ao comerem os frutos, contribuem para a dispersão das sementes. A natureza é sábia!

A questão da ardência vai depender da quantidade de moléculas capsaicinoides encontradas nos frutos, que é bem variada. Fatores como a constituição genética da pimenteira, condições de cultivo, a temperatura e a umidade durante o crescimento dessas plantas, interferem na concentração, nas sensações provocadas e nos benefícios à saúde.

Há indícios de que as pimentas têm como origem a região da bacia do Lago Titicaca, entre Peru e Bolívia. Os frutos do gênero Capsicum (cerca de 30 espécies) só foram encontrados por Cristóvão Colombo em sua segunda viagem à América, no século 15 para depois então tomarem fama pelo mundo. As pimentas exibem vários formatos, tamanhos, cores e graus de picância. Entre as fortes, estão malagueta, fidalga e habanero. Já a biquinho, a murupi e a dedo-de-moça figuram como mais suaves. Pimentas-do-reino vêm de outra família e, inclusive, não contêm a capsaicina. Nossa pimenta-rosa também faz parte de um clã diferente.

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Quanto ao uso e seu poder de ardência (picância)

Os tipos de pimenta variam de acordo com a região em que são produzidas, no que se refere ao tamanho, a cor e a força do sabor que elas trazem. Na lista a seguir, a ardência da pimenta está classificada de 0 a 7, e quanto maior a classificação, mais forte é a pimenta.

Picância 0- Cambuci e americana: são pimentas doces, muito usadas recheadas, grelhadas, assadas ou em pratos com picles e queijos.
Picância 1-2- Pimenta-do-reino: muito utilizada na culinária mundial, pode ser usada como tempero para todos os tipos de pratos.
Picância 3- Pimenta-de-cheiro: indicada principalmente para temperar peixes e crustáceos, também podendo ser usada para pratos com frango, risotos e legumes refogados.
Picância 4- Fidalga: usada para temperar peixes e fazer marinadas de legumes e comidas em conserva.
Picância: 6- Caiena ou dedo-de-moça: usada principalmente para produção de molhos e picles.
Picância 7- Malagueta e Cumari: usadas para temperar feijoada, carnes, acarajé, bolinhos e pastéis.

Explicado sobre a capsaicina vamos então aos mitos e verdades sobre as pimentas

Quem sofre de hemorroidas pode fazer uso de pimenta?

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A capsaicina tem ação vasodilatadora e não é metabolizada pelo nosso organismo, logo a ardência provocada por ela sentida na boca acaba irritando também a mucosa intestinal e anal, provocando inchaço, sangramento e dor quando há vasos dilatados ou inflamados no local.

Logo, quanto maior concentração de capsaicina – encontrada principalmente nas sementes e nos veios internos do vegetal – pior será a resposta.

Muitos acreditam que a solução para as hemorroidas está simplesmente em cortar a pimenta e os temperos picantes da dieta, mas isso não é garantia de cura, apenas evitará os sintomas e o desconforto na hora de ir ao banheiro.

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Porque a pimenta ataca a minha rinite?

O mesmo que acontece com a mucosa gástrica e intestinal acontece com a mucosa nasal! A capsaicina aumenta a irritação das mucosas nasais, fazendo o nariz escorrer, coçar, entupir, além de provocar espirros.

Pimenta faz mal para o estômago?

Mito! A capsaicina tem grande poder anti-inflamatório, que pode atuar na mucosa do estômago e ajudar em problemas intestinais. No caso de gastrite ou úlcera, é melhor evitar até que a doença esteja controlada.

Como dito anteriormente, a capsaicina não é metabolizada pelo organismo e parte dela pode ficar retida na mucosa estomacal por um bom tempo, podendo, dependendo da quantidade, pode persistir uma gastrite. Por outro lado, tem um efeito gastroprotetor, pois aumenta a produção do muco gástrico. Ela também pode combater a bactéria que provoca gastrites e úlceras estomacais. Logo, o segredo está no consumo em equilíbrio, como todo o resto dos alimentos.

Esse mito da pimenta em relação ao estômago foi bem comentado após a mídia dizer que um homem de 47 anos havia tido o estômago perfurado pelo uso da pimenta-fantasma e em um hambúrguer. O problema não foi a pimenta, mas os vômitos que a seguiram. Depois de ingerir o purê, o paciente tomou cinco copos de água e começou a vomitar sem parar, o que causou o rompimento interno.

Pimenta provoca câncer?

Pelo contrário, a pimenta ajuda no combate ao câncer. Uma pesquisa publicada no The Journal of Cancer Research dos Estados Unidos em 2006 apontou que a capsaicina, que tem poder antioxidante, pode prevenir a produção e induzir a apoptose (morte celular programada) em células do câncer de próstata e de outros tipos.

Outro estudo publicado na revista científica Breast Cancer, mostrou que a capsaicina, ao ativar o TRPV1, um receptor olfativo chamado que tem um papel significativo no desenvolvimento de diversas doenças é capaz de induzir a morte das células cancerígenas e também de inibir seu crescimento em vários tipos de câncer, incluindo o câncer de cólon e o pancreático. À medida que mais e mais células cancerosas morrem, o tumor é impedido de crescer, o que reduz sua capacidade de metástase. Os pesquisadores encontraram o TRPV1 nas células tumorais de nove diferentes amostras de pacientes com câncer de mama.

Mas a capsaicina não é eficaz se for ingerida, inalada ou injetada. Segundo os cientistas, a substância, para trazer benefícios no combate à doença, precisa estar associada à outra droga que tenha como alvo as células cancerosas. Isso significa que seria necessário desenvolver um medicamento que incluísse esse composto na sua formulação.

Pimenta aumenta a pressão arterial e faz mal ao coração?

Um estudo realizado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul concluiu que a capsaicina também ajuda a diminuir os níveis do colesterol ruim, LDL. O fruto ainda pode reduzir coágulos no sangue por ter ação vasodilatadora e aumento da excreção fecal de gorduras. O resultado é a redução do risco de problemas como hipertensão, infarto e outras doenças cardiovasculares.

Um estudo chinês descobriu que a capsaicina aumenta a produção de óxido nítrico – molécula que protege os vasos sanguíneos contra inflamação e disfunção. Por isso, podem ajudar a reduzir a pressão arterial.

Outro estudo interessantíssimo foi o realizado pelo Instituto Neurológico Mediterrâneo Neuromed, em Pozzilli, que analisou cerca de 22 mil pessoas por cerca de oito anos. Nele, os cientistas notaram uma associação entre a especiaria e a proteção contra males como o infarto, foi constatado que o consumo frequente pode reduzir o risco de morte por problema cardiovascular em 34%.
É importante salientar que a pimenta sozinha não eleva a pressão. A atenção deve ser tomada se o produto for em conserva, pois o sal é o conservante e causa o excesso de sódio no organismo.

Pimenta emagrece?

Sim! A pimenta é um alimento termogênico, por isso aumenta o gasto calórico do organismo durante a digestão e o processo metabólico. A substância responsável por isso é a capsaicina que aumenta a taxa metabólica em até 20%. Assim, o consumo de 6 gramas de pimenta pode queimar cerca de 45 calorias.

Além disso, alguns estudos experimentais apontam que o fruto diminui o desejo de ingerir proteínas, carboidratos e gorduras. Isso provavelmente ocorre porque a pimenta aumenta a atividade do sistema nervoso simpático que afeta o comportamento da ingestão alimentar.

Não curte pimenta, mas quer os benefícios?

A dica é conversar com seu profissional de saúde e ver se você está apto (a) a fazer uso de piperina, que você pode manipular em cápsulas em farmácia de manipulação. A piperina é o ativo alcaloide principal da pimenta preta (Piper nigrum), onde você encontra todos os benefícios: ação tônica, sudorífera, estimulante e efeito terapêutico sobre o sistema imunológico, como no caso de doenças que levam a imunossupressão, como a quimioterapia e radioterapia no tratamento de câncer.

É reconhecida ainda por apresentar atividade citotóxica, anti-inflamatória, antipirética, analgésica, antioxidante, antitumoral, antifúngico e bactericida. A piperina é um estimulante natural e intervêm na absorção de selênio, vitamina B e b-caroteno. Tem sido utilizada no tratamento de atletas e idosos cuja capacidade de absorver nutrientes é deficiente.

Mas como toda a pimenta deve ser consumida com atenção (como dito anteriormente pacientes com gastrite ou úlcera gastroduodenal, pancreatite, hemorroidas e hipertensão arterial) não devem fazer uso sem orientação médica, pois pode causar irritação no sistema digestivo e irritar e piorar quadros inflamatórios se consumida em excesso.

Apimente-se com moderação!