O desejo não será aposentado

Outro documentário tão energético quanto Avançado, mas feito aqui no Brasil, chegou agora à Net. Nele, seis personagens contam suas histórias. Entre eles, Edmeia gosta de surfar; Judith, de fazer tatuagens e andar de moto. Já Oswaldo prefere a corrida, enquanto Luiz se delicia no paraquedismo. Sustentar a vitalidade em todas as fases da vida é o que faz essas pessoas com mais de 60 anos continuarem donas de uma rotina complementada por entusiasmo, leveza e bom humor. Todos elas exibem suas rugas (marcas dessa passagem inexorável do tempo) e também sua alegria (uma questão de escolha?) em Envelhescência (74 min, Lado B Filmes). “Há uma geração inteira de pessoas autônomas e ativas reformulando o que chamamos de envelhecer”, aponta o diretor Gabriel Martinez. Como indica o fi lme, o termo “aposentado” caducou, ao contrário dos nossos velhos. “Além de ativos física e psicologicamente, muitos são provedores das suas famílias, trabalham, se exercitam, se divertem e são exemplos em suas comunidades”, complementa Martinez. Seguem tentando dar continuidade às suas histórias de vida e às suas experiências de forma criativa. Como todas as fases da vida, essa também requer adaptações, aprendizados, revisões. Mas nem de longe estagnação. Para que isso seja possível, destaca a antropóloga Miriam Goldenberg, uma das especialistas entrevistadas, é preciso continuar alimentando planos e projetos, ainda que singelos, como cantar, dançar, aprender um novo idioma. “Envelhece melhor quem cultiva uma vida com significado, não desiste de si mesmo nem aposenta os próprios desejos.” Alexandre Kalache, médico e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, sediado no Rio de Janeiro, faz coro. “O maior desafio do século XXI vai ser como a gente se prepara para essa longevidade. Recomendo a busca de interesses para evitar uma velhice arrastada, que pode durar décadas, com a sensação de que se está perdido, sem saber o que fazer com esse tempo todo.”